Benedita da Silva diz que Carla Zambelli terá 'correção necessária' por chamá-la de 'Chica da Silva'
A deputada do PL abriu uma live para alegar que não conseguia falar durante um evento, e chamou a colega de parlamentar pelo nome de Chica da Silva, mulher negra escravizada e alforriada no período colonial
A deputada federal Benedita da Silva (PT) informou que já toma medidas contra Carla Zambelli (PL) por chamá-la de "Chica da Silva" durante uma live nas redes sociais, em tom que foi considerado racista. A petista informou que a parlamentar terá a "correção necessária".
Zambelli disparou: "Eu não vou ter poder de fala, né? Eu não vou falar porque provavelmente... não sei porque não vou falar. Parece que já foi montada pela Secretaria da Mulher, que é a Chica da Silva".
O caso ocorreu durante a Reunião de Mulheres Parlamentares do P20, que ocorre em Maceió, Alagoas. Carla Zambelli teria se estressado por não conseguir falar e abriu uma live para comentar a situação, se referindo a Benedita como Chica da Silva.
Por meio de nota, Zambelli disse que confundiu o nome da deputada com o de Chica. "Imediatamente quando percebeu o ocorrido, Zambelli apagou a publicação de suas redes e se desculpou com a deputada Benedita. A conversa foi amigável e houve compreensão da situação. Zambelli lamenta o referido lapso, mas torna público que não houve qualquer intenção de ofensa à sua colega de Parlamento", diz comunicado.
Veja vídeo do momento:
"Estava ali como coordenadora geral do encontro, preocupada com o encontro. Quando eu soube, já tinham tomado providências na Câmara, o PT já tinha se manifestado com uma nota de repúdio, e as mulheres (do evento) já estavam também se posicionando nos seus núcleos. Eu acredito que ela terá a correção necessária, se jurídica, se política, mas já tomaram providência. Eu acho que isso ela vai ter que responder, porque já tem gente entrando com ações", disse Benedita, ao jornal O Globo.
Pelo X, antigo Twitter, Benedita publicou nesta terça que "as medidas necessárias já estão sendo tomadas. Obrigada a todo mundo que prestou solidariedade e mandou lindas mensagens. Estou nessa vida política há mais tempo do que essa deputada tem de vida. E cheguei até aqui com respeito, trabalho e muita luta".
Apoio da esquerda
Benedita já recebeu apoio de diversas frentes, incluindo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), da primeira-dama Janja Lula Silva. Janja publicou: "Neste Dia Nacional de Combate à Discriminação Racial, deixo aqui meu repúdio ao racismo e ao preconceito, e externo toda minha solidariedade e o meu afeto à minha madrinha".
A bancada do PT na Câmara emitiu uma nota de repúdio nas redes sociais contra a fala de Zambelli e saiu em defesa de Benedita.
Anielle Franco, ministra da Igualdade Racial, disse que "são inaceitáveis as falas desrespeitosas e de cunho racista se referindo a @dasilvabenedita, referência para o Brasil, para a política e para a Democracia. Benedita abriu caminhos para muitas e muitos de nós, e é nossa inspiração cotidiana".
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Saiba quem foi Chica da Silva
Francisca da Silva, conhecida por Chica da Silva, foi uma mulher negra brasileira escravizada que foi alforriada e ficou famosa por atuar contra a escravatura na cidade Arraial do Tijuco, que hoje é Diamantina (MG).
A escrava foi filha de uma negra escravizada e um português. Ela teria nascido entre 1731 e 1735, segundo pesquisas da fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
Ela foi comprada e alforriada pelo contratador de diamantes, João Fernandes de Oliveira. Eles foram casados por 16 anos e tiveram 13 filhos. Chica ascendeu socialmente e se tornou uma das mulheres mais importantes da sociedade colonial no século XVIII.
Chica ficou uma personagem histórica para o Brasil e foi tema de filme, música e novela. A primeira homenagem em forma de produção audiovisual foi em 1976, quando Zezé Motta protagonizou a escrava no filme "Xica da Silva", dirigido por Caca Diegues e baseado no livro de João Felício dos Santos.
A novela foi um sucesso na teledramaturgia e foi exibida na Rede Manchete entre setembro de 1996 e agosto de 1997. A protagonista foi Taís Araújo, que se tornou a terceira atriz negra a ter papel de protagonismo em novelas brasileiras.