Aproximação de Sarto com PL gera controvérsias e especulações para 2024
Vereadores se dividem entre críticas e elogias ao prefeito, e comentam sobre a estratégia política após Sarto se unir a aliado de Capitão Wagner
A recente união do prefeito José Sarto (PDT) com o PL após entrada de Raimundo Gomes de Matos, um aliado do Capitão Wagner (União), na gestão, acendeu um alerta nos bastidores da política cearense sobre possíveis movimentos já pensando nas Eleições 2024 após perdas de integrantes da base aliada.
Na Câmara Municipal de Fortaleza (CMFor), vereadores da base e oposição se dividem entre elogiar a articulação, criticar uma guinada à direita do prefeito e também minimizar o peso dessa articulação.
Veja também
Em meio a isso, um grupo de parlamentares que se dizem independentes – não sendo da base nem oposição à gestão –, ganhou novos adeptos após dois vereadores deixarem o grupo de apoio ao prefeito nas últimas duas semanas.
Estrela Barros (Rede) e Eudes Bringel (PSB) usaram a tribuna da Casa para anunciar a saída da base e fizeram críticas ao prefeito, mencionando que as demandas levadas até o Executivo não estariam sendo atendidas.
Mediação da liderança
Em um cenário dividido em núcleos no Parlamento Municipal, a liderança do prefeito na Câmara, vereador decano Carlos Mesquita (PDT), atua como um mediador de interesses, e classifica como "do jogo" as escolhas individuais de cada parlamentar.
Em 2020, Sarto foi eleito para suceder o seu aliado, Roberto Cláudio (PDT), na Prefeitura de Fortaleza. Ele derrotou Capitão Wagner no segundo turno e agora, três anos depois, se aproxima de políticos aliados do seu antigo adiversário.
A avaliação interna é que esse é um dos primeiros movimentos dos líderes políticos visando as próximas eleições. Nos corredores da CMFor, no entanto, vereadores que apoiam a gestão de Sarto se limitam em elogiar sua capacidade de articulação, e relembram que ele já foi um parlamentar, inclusive, presidindo a Casa.
"Ele sabe como pensa um vereador, e sabe conviver com o interesse de cada um", ressalta um parlamentar que apoio o prefeito no parlamento.
O prefeito, no entanto, é alvo de desgastes desde que enviou à Câmara pautas consideradas pelos próprios vereadores como impopulares. Entre elas a taxa do lixo, que levou manifestantes à Casa no fim do ano passado, além do aumento da passagem de ônibus.
O que dizem os vereadores
"Muitas vezes se faz o que é preciso para se manter no cargo de vereador, deputado ou prefeito. Sarto sabe como os vereadores se comportam. A crítica faz com que o governo ande, só há um grande governo se houver uma grande oposição", destaca o líder do prefeito, Carlos Mesquita.
Vereador mais antigo da Casa exercendo mandato há 32 anos, Mesquita diz ainda que diariamente recebe críticas à gestão, e que é preciso habilidade para lidar com os interesses e reclamações de cada parlamentar, inclusive os da base.
"Política é interesse. Muitas vezes não se faz aquilo que se quer, se faz o que é preciso para se manter vereador, deputado ou prefeito", conclui.
Vereadora suplente do PT e assumindo o cargo pela primeira vez recentemente, a Professora Adriana discorda da liderança e lamenta o movimento do PDT.
"Fizemos de tudo para que a extrema direita não chegasse em Fortaleza. Na última eleição para prefeito nós apoiamos o Sarto no segundo turno por acreditar que o projeto dele era bem melhor do que ao seu opositor", relembra.
Ex-vice-líder de Sarto e ainda um defensor da gestão, o Professor Enilson (Cidadania) não tem a mesma avaliação da colega, e menciona que o PL no Ceará se comporta como um partido "moderado", além de elogiar a entrada de Raimundo Gomes de Matos na gestão.
O político foi escolhido para presidir a Fundação da Família e da Criança Cidadã (Funci), um órgão diretamente ligado à Prefeitura de Fortaleza, e que antes era comandado por um membro do PDT, o suplente de vereador Iraguassú Filho.
Raimundo Gomes é ainda pai do vereador Pedro Gomes de Matos, também do PL. Atuando como suplente, ele havia assumido o mandato temporariamente anteriormente e se colocado como oposição. Agora no cargo de forma permanente, ele compõe a base.
Uma das parlamentares críticas ao prefeito na Casa, Adriana do Nosssa Cara (Psol) diz que não surpreende "a movimentação à direita" feita pelo prefeito.
"Na verdade, sempre foi perceptível, desde o início da legislatura para a qual fomos eleitas, que há uma aproximação entre a gestão municipal e a oposição de direita da Câmara", pondera.
Veja também
Léo Couto é do PSB e também já integrou a base do prefeito Sarto, inclusive fazendo campanha para ele em 2020. Na Câmara já atuou como vice-líder do prefeito, mas agora, depois de desgastes e após ter apoiado o candidato do PT Elmano de Freitas ao Governo do Estado ao invés de Roberto Cláudio (PDT), se coloca como independente na Casa.
"Era esperada a saída de vereadoes da base. Impopularidade do prefeito, [além de] matérias impopulares como taxa do lixo, aumento de passagem de ônibus e empréstimos. Os vereadores vão caminhar com a gente nesse bloco independente", afirma.
Perguntado sobre o assunto, o vice-prefeito Élcio Batista, que recentemente deixou o PSB de Léo Couto e Eudes Bringel para se filiar a PSDB, diz que as críticas servem "mais para animar o debate político". E completa: "o ambiente político está preocupado com os debates e as discussões, mas a população está olhando para os resultados".