Realizado desde o Império, entenda por que o Censo é fundamental e interfere na vida de cada cidadão

A pesquisa em campo será de junho a agosto de 2022. No Ceará, cuja estimativa é de 9,2 milhões de pessoas, 7,3 mil recenseadores irão visitar as casas

Escrito por Thatiany Nascimento , thatiany.nascimento@svm.com.br
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Legenda: A realização do Censo permite acompanhar o crescimento, a distribuição geográfica e evolução da população ao longo de um determinado intervalo de tempo
Foto: Divulgação IBGE

Não saber quantos moradores há em uma rua, bairro ou cidade, se há mais mulheres do que homens, em quais condições vivem, quantos vereadores devem ser escolhidos para representar os eleitores, quanto cada cidade deve receber para custear, por exemplo, a educação e a saúde. Essas são questões que, caso não houvesse o Censo Demográfico - pesquisa feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) - ficariam sem resposta.

Logo, a vida de cada cidadão seria afetada por essa lacuna, desde as ações mais diretas até aquelas que parecem mais distantes. No Brasil, o Censo Demográfico é realizado pelo IBGE a cada 10 anos, geralmente, naqueles que terminam com zero.

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A pesquisa de maior amplitude no País ocorre desde 1872, quando o país vivia o Império e ainda havia pessoas escravizadas. Contudo, em 2020, devido à pandemia, ele foi adiado. Esta foi a 4ª vez que o Censo não ocorreu no Brasil. No caso recente, a Lei Orçamentária foi sancionada sem os R$ 2 bilhões para o Censo, e o levantamento foi transferido para 2022.  

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Recenseadores irão percorrer as mais diversas moradias do Ceará entre junho e agosto de 2022

A estimativa do IBGE é que a pesquisa em campo do Censo aconteça de 1º de junho a 31 de agosto de 2022. Esse é o momento no qual, no Ceará, os recenseadores irão percorrer as residências para coletar, dentre outras informações, a quantidade de moradores, características do domicílio, identificação étnico-racial, dados sobre educação, trabalho, rendimento e mortalidade.

Finalidade do Censo 

O Censo, explica o chefe da Unidade Estadual do IBGE no Ceará,  Francisco Lopes, “retrata o país”. Quando ele deixa de ser realizado, o Brasil fica sem uma base de dados confiável. Ele fica sem olhos para definir as ações que devem ser feitas”, completa. 

Para o demógrafo e professor do Departamento de Economia Doméstica da Universidade Federal de Ceará (UFC), Julio Alfredo Racchumi, o Censo impacta diretamente na formulação das políticas públicas e é relevante, diz ele, “se queremos saber, por exemplo, a quantidade de pessoas com deficiência ou políticas de transferência de renda como o extinto Bolsa Família. Na construção de escolas, de postos de saúde”.

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Foto: Arquivo Diário do Nordeste

Na pandemia, por exemplo, os dados usados para tentar mensurar a quantidade de pessoas que devem ser vacinadas contra a Covid foram extraídos do Censo, realizado ainda em 2010, e atualizados com as projeções anuais da população feita pelo IBGE.

O demógrafo reforça que é a pesquisa mais importante do aspecto estatístico. “Tem um alcance muito grande, por isso que o processo precisa ser bem planejado, ter pessoal capacitado e ter um orçamento adequado”. 

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Foto: Arquivo Diário do Nordeste

Segundo o IBGE, os resultados do Censo 2022 vão refletir a realidade brasileira e os dados coletados serão usados em programas e projetos que vão contribuir para:

  • acompanhar o crescimento, a distribuição geográfica e evolução das características da população ao longo do tempo;
  • identificar áreas de investimentos prioritários;
  • selecionar locais que necessitam de programas de estímulo ao crescimento econômico e desenvolvimento social;
  • fornecer referências para as projeções populacionais com base nas quais é definida a representação política no país, indicando o número de deputados federais, deputados estaduais e vereadores de cada estado e cidade; e
  • fornecer subsídios ao Tribunal de Contas da União para a definição das cotas do Fundo de Participação dos Estados e do Fundo de Participação dos Municípios.

Como vai ocorrer na prática em 2022?

A realização do Censo 2022 já começou a ser testada. Esta semana, o IBGE iniciou o primeiro teste de campo em localidades das 27 unidades da federação. No Ceará, ocorre no distrito de Ema, em Pindoretama. Ao todo 20 técnicos do IBGE estão envolvidos na coleta, sendo 10 recenseadores.

Um dos profissionais em treinamento é o servidor temporário do IBGE, Mamede Coelho. Ele passa pela capacitação no Distrito de Ema, mas em 2022 deve atuar em Fortaleza, em bairros da região Oeste da cidade.

A estimativa, diz ele, repassada até o momento é de que de cada recenseador deve percorrer “10 domicílios por dia”. Mas isso irá depender do total de deslocamentos e da expectativa da quantidade de moradores em uma determinada região. 

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Legenda: O IBGE iniciou, esta semana, o primeiro teste de campo em localidades das 27 unidades da federação
Foto: Divulgação IBGE

As visitas domiciliares ocorrerão de 1º de junho a 31 de agosto de 2022 e, segundo o  chefe do IBGE no Ceará,  Francisco Lopes, “30 dias depois o IBGE já começa disponibilizar os dados”. 

Outra inovação é o preenchimento pela internet. “O recenseador vai percorrer domicílio por domicílio, ao manter o contato a pessoa vai dizer se vai responder presencialmente ou pela internet. Se for pela internet, vai gerar um E-ticket e a pessoa vai poder responder ao questionário. Se não faz a coleta presencial dos dados”, explica Francisco.  

Quando o Censo não foi realizado?

O Censo que deverá ocorrer em 2022 será o 13º feito no Brasil e o 9º realizado pelo IBGE, segundo a própria instituição. A primeira pesquisa do tipo na história do Brasil, o Censo Geral do Império, ocorreu em 1872 e foi realizada pela Diretoria Geral de Estatística, órgão criado em 1871. 

Desde então, o Censo passou a ser realizado nos anos terminados em zero, e somente em 1880, 1910, 1930 e 2020 não foi realizado

Segundo o IBGE, em 1880 não ocorreu devido ao fim da Diretoria Geral de Estatística em 1879. Em 1910, na República, foi a primeira vez que o Censo não foi realizado, conforme o IBGE devido à conjuntura política. Em 1930 a não ocorrência da pesquisa também é atribuída pela instituição ao cenário político com a Revolução de 30. 

Já em 2020, o Censo deixou de acontecer na pandemia, de acordo com o IBGE, inicialmente por conta da  natureza de coleta da pesquisa, domiciliar e predominantemente presencial. 

Em março do ano passado, o IBGE informou que estabeleceu formalmente com o Ministério da Saúde o compromisso de realocar o orçamento do Censo 2020 em prol das ações de enfrentamento ao coronavírus, mantidas pelo Ministério, e em 2021 o órgão da saúde deveria restituir o valor. 

Em abril deste ano, o IBGE informou que a Lei Orçamentária de 2021 foi sancionada sem a recomposição do orçamento original de R$ 2 bilhões para o Censo Demográfico 2021 e, portanto, isso  demandaria o adiamento do Censo. 

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