O recenciamento demográfico como levantamento estatístico demonstra as características da população, com a recolha de várias informações sobre a população residente no país, como o quantitativo desagregado por gênero, raça/cor, faixa etária, as condições socioeconômicas e de moradias, características demográficas, educacionais, de trabalho, rendimentos e outras.
Esse estudo toma como unidade geográfica de análise os municípios, com previsão de realização a cada dez anos pelo IBGE. No Brasil, o último Censo deveria ter sido feito em 2020, mas tornou-se impossível devido à pandemia de Covid-19. Em 2021, afirmou-se que era inviável, alegando a falta de recursos financeiros.
Mas o Supremo Tribunal Federal (STF) posicionou-se e votou em maio desse ano pela realização do Censo em 2022, tornando obrigatório a Direção do IBGE preparar um plano para cumprimento dessa decisão.
É interessante inquirir por que essa ferramenta que produz informações seguras e de qualidade não tem prioridade no governo nacional, principalmente na atualidade, em que se proliferam, de modo vigoroso, as fakes news, com a disseminação de notícias e informações enganosas.
Os dados gerados pelo Censo servirão para melhor balizar os efeitos de alguns avanços institucionais, bem como os impactos da pandemia de Covid-19 em diversas áreas fundamentais para o desenvolvimento social e econômico.
A produção, análise e divulgação de dados é primordial para a formulação das políticas públicas e compreensão do contexto em que vivem os grupos sociais. Tem valor para os pesquisadores, instituições e movimentos sociais que analisam, monitoram e avaliam os índices de desigualdades sociais e raciais; configurado como tarefa essencial ao controle social em qualquer país comprometido com a Agenda 2030 e com os objetivos do Desenvolvimento Sustentável.
A divulgação dos dados do Censo de 2022 é por demais aguardada pelos analistas de políticas públicas. No caso das políticas de igualdade racial, como as de ação afirmativa na modalidade cotas sociais e raciais, ajudará a avistar os efeitos dos marcos legais de combate ao racismo e ações de enfrentamento à discriminação racial no acesso à educação superior (Lei 12.711/2012) e no mercado de trabalho via concurso público (12.990/2014), as quais completarão dez anos de vigência nessa década.
É danosa a ausência e o apagamento de dados estatísticos, pois provoca a invisibilidade da população residente no Brasil, e dos grupos mais vulnerabilizados que precisam acessar direitos. Vale reagir à tentativa de invisibilizar as condições de vida da população brasileira, no momento de crise sanitária, econômica e social que escancarou assimetrias sóciorraciais e as fragilidades dos sistemas de proteção social, de modo diferenciado para os grupos sociais.
Torna-se urgente decifrar a realidade social e política com transparência para o alcance de um Brasil mais republicano, justo e democrático.
*Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião da autora.