Raça, gênero e classe social desempenham papel central na configuração das práticas sociais. São eixos estruturantes das opressões entrecruzadas que provocam a deteriorização das condições objetivas e subjetivas de vida dos grupos alvo do racismo e das desigualdades raciais. Impõem obstáculos para a mobilidade e ascensão social de indígenas e negros(as), diminuindo as oportunidades de desenvolvimento social e econômico e impedindo que expressem suas potencialidades.
A naturalização das hierarquias raciais e a cultura do privilégio da branquitude são características estruturais inerentes à sociedade, com sérios desdobramentos na definição do status social e material de jovens e de mulheres negras. No Brasil mais de 30 mil jovens são assassinados por ano. E as mulheres negras têm convivido com a exploração do trabalho, em especial o trabalho na limpeza sua principal ocupação.
Sabe-se que 63% das casas chefiadas por essas mulheres estão abaixo da linha de pobreza. A tendência é que sustentem suas famílias na informalidade e sem proteção social. Acresce, que são alvo da violência doméstica e sexual, sofrem o peso da cristalização de um imaginário social de erotização dos seus corpos, que fortalece a prática do estupro, realidade agravada com a pandemia do novo coronavírus.
Essas desvantagens sócio raciais e violências devem ser solucionadas com políticas de proteção social e não tratadas como caso de polícia. Tem importância o policiamento preventivo, a operação de inteligência na identificação e prisão dos responsáveis pelo tráfico de drogas e na garantia de segurança nas comunidades. No entanto, é assustador o índice de violência policial nos territórios empobrecidos e de maioria negra no país. Nessa semana assistimos mais um caso de brutalidade da força policial, de “bala perdida” quando no Rio de Janeiro Kathen Romeu jovem negra grávida foi morta por um tiro no tórax. E o argumento é o mesmo – “o combate é ao narcotráfico e não foi intenção matar”, ofuscando a perversidade e desumanidade.
O grito precisa ecoar, é impossível suportar eventos críticos como esses, porque reafirmam a banalização da vida da população negra. Vidas negras estão sob mira das operações deliberada de parte da polícia, e não é mera coincidência. As pessoas são impedidas de seguir suas trajetórias de vida, as mortes desestabilizam as famílias negras.
Os movimentos negros têm insistido que é inadiável a reestruturação do sistema de segurança pública, de justiça e prisional, urge impedir a impunidade e combater o racismo institucional e estrutural. Esses agentes públicos precisam ser julgados de forma séria pelo crime que cometeram, com qualificada investigação, e a sociedade deve assumir papel ativo no controle social sobre a política de segurança pública.
Este texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor.