Para que o lockdown no Ceará tenha resultados efetivos, a população precisa aderir e respeitar o decreto estadual, assim apontam médicos atuantes na linha de frente do combate da Covid-19. Somente com a responsabilidade do auto-isolamento e a consciência de que o cuidado parte de cada um, individualmente, a medida pode refletir na contenção do número de casos e no alívio da demanda no serviço de saúde.
“O auto-isolamento é uma forma importante de se evitar o lockdown uma vez que o mesmo é decretado devido ao aumento absurdo de casos e o iminente colapso do serviço de saúde. Se a população ajudar fazendo as medidas de isolamento necessárias isso pode ser evitado”, detalha o infectologista Pablo Eliack Linhares de Holanda.
Sendo atuante em unidades de saúde como o Hospital São José (HSJ) e Hospital Universitário Walter Cantídio (HUWC), Pablo vê as medidas de prevenção, tal qual o uso de máscara, a lavagem constante das mãos e o respeito ao distanciamento social como positivas para a redução dos casos. “O problema é que muitos ainda não respeitam”, coloca.
Em sua visão, o combate às fake news pode contribuir para a adesão ao lockdown. “Atrapalham demais, é preciso passar as informações corretas para as pessoas não ficarem no pensamento da teoria da conspiração”, comenta.
“Enquanto olharmos apenas para nós mesmos e esquecermos que estamos em comunidade, haverá novos lockdowns. Por isso devemos nos responsabilizar tomando todos os cuidados para que essa pandemia consiga finalmente acabar", conclui.
“Enxugando gelo”
De forma similar ao relatado pelo infectologista, o clínico geral, Dr. Ivo Rocha percebe que o sistema de saúde poderá realizar o rodízio de leitos e garantir a internação de todos os pacientes com a redução na procura pelo atendimento. “É necessário que todos façam sua parte e que evitem aglomerações desnecessárias para que possamos sair o quanto antes”, comenta.
Dentre alguns efeitos do isolamento mais rígido, o médico tem percebido a demora de pacientes em buscar atendimento para outras comorbidades, como Acidente Vascular Cerebral ou Infarto. Além disso, compartilha o crescimento no número de pessoas com saúde mental impactada.
“Recebo diversos áudios e mensagens de desespero pelo medo de já estar com o vírus e pelo medo de necessitar de internação e não ter leitos suficientes”, detalha. Por isso, Ivo reforça a necessidade dos cearenses praticarem a empatia com outros doentes e seus familiares e contribuírem com o trabalho dos profissionais de saúde ao permanecerem em casa.
“Nunca antes vi tantos infectados de forma tão próxima. Pensem sempre que ali é a mãe de alguém, o filho de alguém, o avô de alguém e que um dia esse alguém possa ser você. Pois a sensação que temos é que diariamente estamos ‘enxugando gelo’”, finaliza.
Dicas para a saúde mental no lockdown
A responsabilidade de se isolar e evitar saídas, seja para ver amigos ou ir ao trabalho, carrega um peso muito grande, assim considera a psicóloga Diva Rodrigues Daltro Barreto. “Tudo isso é muito difícil de lidar e é totalmente natural e compreensível as pessoas enfrentarem a dificuldade de se manter isolamento”, afirma.
“É difícil, complicado, mas infelizmente é necessário. Pela nossa saúde e a do coletivo, pela saúde de todos. Precisamos passar em cima do que é nosso desejo pessoal, para a gente pensar em um coletivo”, compartilha.
Nesse cenário, os cearenses isolados podem apresentar sentimento de medo, ansiedade, pressão e estresse, principalmente por sair da nova rotina que gradualmente havia sido adaptada após o retorno das atividades econômicas, no segundo semestre de 2020.
Por isso, como forma de tentar amenizar o período, Diva recomenda a busca por atividades que façam bem à saúde mental de cada um, respeitando o tempo de produção e evitando realizar muitas responsabilidades ao mesmo tempo. “Não precisa se 'entupir' de atividades para poder se sentir produtivo, para sentir que está ocupando todo o tempo disponível. Faça aquilo que faz sentido para você”, coloca.