Como cuidar da saúde mental das crianças na pandemia

Com o confinamento e a mudança de rotina, as crianças podem ser psicologicamente afetadas. Psicóloga alerta sobre o que fazer para ajudá-las a atravessar este momento.

Escrito por Agência de Conteúdo DN ,
Legenda: O principal termômetro que deve deixar pais em alerta à saúde mental dos pequenos é a mudança de temperamento, explica psicóloga.
Foto: Banco de imagens

Rotina de trabalho dos pais alterada. Aulas na modalidade remoto. Distanciamento social e estado de alerta o tempo todo contra o vírus. O mundo de repente virou de cabeça pra baixo e tudo aquilo que era normal tornou-se até perigoso. Se gente grande pode adoecer mentalmente por causa dessas mudanças, imagine os pequenos. “A criança se expressa através de ataques de choro, de raiva, mudanças de comportamento e temperamento e resistência a tarefas que antes ela fazia de forma tranquila e voluntária, como escovar os dentes, guardar brinquedos, reconhecer o limite de tempo da TV, de jogos ou brincadeiras”, afirma a psicóloga Massimiliana Beserra. 

Como explica a profissional, o principal termômetro que deve deixar pais em alerta à saúde mental dos pequenos é a mudança de temperamento. “Aquela criança - ou adolescente - que antes era tranquila, resiliente, flexível, muda para uma criança irascível, irritada, difícil de conversar ou conviver. Ou aquela que era extremamente ativa, passa a adotar um comportamento introspectivo, passando muitas horas trancada no quarto ou banheiro, sem interesse em atividades que antes eram prioritárias, ou mesmo mudanças no sono ou apetite”, pontua. “Todas as mudanças, devem ser observadas e, se possível, pontuadas e conversadas para se entender melhor se tem uma motivação específica ou é derivada da ansiedade”, complementa. 

Quando a criança dá sinais de que o mundo exterior está afetando o interior dela, a melhor maneira de lidar é falando abertamente sobre a situação. “Nós adultos tendemos a superproteger e menosprezar a capacidade de compreensão de nossas crianças e adolescentes. Para lidarmos com essas questões o melhor é falar abertamente - em uma linguagem compatível com a idade - e de forma clara, aberta e disponível ao diálogo e às diversas perguntas que podem surgir dessas temáticas. Sem medo. Sem mentir ou criar saídas fantásticas (como a intervenção de um super-herói, por exemplo)”, orienta Massimiliana Beserra. 

Nessas horas, em que os sentimentos estão à flor da pele, desprezar as emoções das crianças ou minimizar o que estão passando não vai ajudar. Culpá-las por estarem mais difíceis de lidar e não tentar acolher e conversar com elas para que possam se abrir, só vai desgastar a relação familiar. “Não procurar saídas que proporcionem equilíbrio mental e emocional, como uma terapia, fará com que a ansiedade do adulto se junte a da criança e isso transformará a vida da família em um caos. Assim como se orienta nos voos, os adultos devem cuidar primeiramente do seu suprimento de oxigênio (saúde física, mental e emocional), para então estar em condições de suprir as necessidades das crianças e adolescentes”, argumenta a psicóloga. 

Para acalmar o coração das crianças 

Manter o diálogo aberto e verdadeiro é o primeiro passo para ajudar as crianças a atravessar esse momento de ansiedade e medo na pandemia. “Se a família tem fé, essa será de muita relevância nesse momento. Essa verticalidade da relação da criança com uma força superior, muitas vezes dá sentido e o suporte que a criança tanto busca. Reconhecer que não sabe ou não tem todas as respostas e se disponibilizar a responder às perguntas e encontrar respostas junto com a criança, traz a segurança de que ela não está sozinha nesse momento difícil”, explica Massimiliana. Além disso, algumas estratégias também podem ajudar. Confira abaixo as dicas da psicóloga: 

  • Praticar atividades de atenção plena (mindfulness) ou meditação guiada em família; 
  • Oferecer opções de livros e filmes que possam proporcionar um alívio às questões que enfrentam hoje, fazendo com que se identifiquem com o que é vivido na ficção e elaborem suas próprias questões e resoluções delas; 
  • Cozinhar juntos também pode ser uma experiência fantástica, caso os responsáveis estejam realmente disponíveis; 
  • Negociar tarefas domésticas e recompensas para quem corresponde às demandas pode trazer um senso de responsabilidade e cooperação que vão contribuir com a rotina da família; 
  • Realizar atividades juntos, mesmo que seja um filme com pipoca, já pode render ótimos momentos em família. Negociem ou conversem sobre o que irão fazer e o horário, dessa forma todos estão responsáveis pela atividade; 
  • Lembrar de sempre lidar com o respeito que gostaríamos de ser tratados é a fórmula da sabedoria no relacionamento familiar. 

Os destaques das últimas 24h resumidos em até 8 minutos de leitura.
Assuntos Relacionados