Não há uma idade ideal para que a tecnologia seja inserida na vida das crianças, mas é importante levar em consideração que o uso não deve ser feito de forma integral e nem deve substituir atividades lúdicas e educativas
Com o rápido avanço da tecnologia, fica cada vez mais difícil evitar que as crianças tenham contato com aparelhos celulares, computadores, tablets e afins desde cedo. No entanto, para que o uso seja feito de forma saudável, ele deve ser permitido de acordo com algumas regras para que os jovens usuários não sofram com problemas cognitivos, falta de interação com os familiares, além de comprometer atividades escolares.
“Deixar uma criança o dia inteiro usando a tecnologia, seja uma televisão, seja uma televisão com a internet, seja um telefone, seja um tablet, ao invés desse recurso ser enriquecedor, ele vai ser empobrecedor porque a criança vai estar utilizando só ele”, alerta a psicopedagoga Eveline Câmara.
Os especialistas concordam que não há uma idade ideal para que a tecnologia seja inserida na vida das crianças, mas é importante levar em consideração que o uso não deve ser feito de forma integral e nem deve substituir atividades lúdicas e educativas que contribuem com o desenvolvimento.
“Primeiro, é importante se pensar qual a finalidade e o contexto de uso desses aparatos. Desta forma, não se pode falar em uma idade certa para que se apresente às crianças uma tecnologia desta. Um celular já é apresentado desde o primeiro dia de vida, quando, hoje em dia, torna-se cada vez mais comuns nossos bebês participarem de suas primeiras selfies ainda nos hospitais maternidades, com poucas horas de nascido”, comenta a psicóloga Isabela Damasceno.
Introduzindo conforme a idade e finalidade
Eveline Câmara, psicopedagoga, Fundadora e Gestora do Instituto de Especialidade Integrada, acredita que a introdução deve ser feita analisando o tipo de tecnologia com a idade do usuário e com a finalidade. “O que talvez a gente tenha que se perguntar, que tipo de tecnologia apresentar para qual idade e quanto tempo essa criança, esse adolescente poderia ficaria exposto à essa tecnologia para que essa tecnologia seja um instrumento que colabore para a formação dele e não causar algum tipo de prejuízo”.
Dentre as consequências do uso indiscriminado, estão o aumento da agressividade e da ansiedade, dificuldades cognitivas e de interação.
“As crianças precisam manter contato físico com o mundo externo, desenvolver aspectos interpessoais, afetivos e disciplinares. Não se pode substituir totalmente experiências concretas pela realidade virtual”, ressalta Isabela.
O sono também pode ser afetado quando o uso é excessivo, desde a troca da manhã pela noite, insônia causada pelo brilho das telas, dor de cabeça e baixo desempenho das atividades escolares. Dessa forma, é aconselhável que a melhor maneira de lidar com a situação, é os responsáveis limitarem o tempo de uso desses aparelhos.
A mãe de Yasmin, de 9 anos, Rafaella Alvino, 29, utiliza este método para controlar o uso da tecnologia em casa. O primeiro contato da criança com celular foi aos 3 anos, mas a administradora acredita que o processo foi evoluindo de forma saudável. “Sempre busco controlar o uso, o que está assistindo, o tempo que vai utilizar para evitar problemas. Embora seja difícil encontrar um ponto de equilíbrio entre o estilo de vida atual, o uso da tecnologia é moderado”, detalha.
O exemplo dos adultos
Caso o limite seja ultrapassado, as especialistas alertam que punir e proibir o uso dos aparelhos não é a alternativa mais indicada. É necessário insistir na educação e na importância das regras, além de dar bons exemplos.
“É preciso que os adultos sejam exemplo para seus filhos. Nossas crianças estão em fase de aprendizagem, e qualquer elemento que se apresente ao universo delas é assimilado constantemente, inclusive o uso que esses pais e cuidadores fazem com esses dispositivos tecnológicos”, explica Isabela. No caso de Yasmin, a decisão da mãe foi suspender o uso por alguns dias.
Para os adolescentes, é preciso ter ainda mais paciência, principalmente quando não houve qualquer tipo de limitação durante a infância. Importante ressaltar que as várias mudanças que geralmente acontecem nesse período, podem gerar conflitos internos e externos que devem ser observados com cuidado. A tecnologia não deve ser vista como um método de escape, mas sim o diálogo.
Ambiente escolar
Por causa da pandemia, o ambiente escolar acabou invadindo a casa das crianças e adolescentes a partir do ensino remoto. Essa condição é responsável por facilitar o uso da tecnologia durante as aulas online, o que antes era controlado pela maioria das escolas. Dessa forma, a validade do uso de aparelhos tecnológicos é reconhecida, mas ainda assim deve ter certas restrições.
A tecnologia pode ser sim um instrumento extremamente válido, mas que para isso, é preciso que sejam colocados limites de várias ordens, seja em relação ao tempo, seja em relação ao que será utilizado, para que de fato ela fique enquanto instrumento, e se é um instrumento, precisa haver outros, para que ela não seja o único instrumento, porque aí assim eu acho que seria prejudicial”
“É preciso também que haja uma comunicação fluida entre ambiente escolar e ambiente familiar porque um é extensão do outro”, conclui Eveline.