Ceará tem o melhor desempenho do ensino fundamental do País; Ensino Médio ainda é desafio

Os dados são do Ideb 2019. Estado teve índice superior a duas vezes a média nacional, com avanços mais significativos na rede pública

Legenda: O percentual de crianças no ensino fundamental caiu para 95,3%. É o menor percentual desde 2016, quando a frequência escolar líquida para a faixa etária de 6 a 14 anos era de 96,6%.
Foto: Arquivo Diário do Nordeste

A rede pública de educação do Ceará teve, em 2019, a maior evolução histórica do País no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) dos anos iniciais do ensino fundamental (1º ao 5º ano), passando de 2,8 em 2005 para 6,3 ano passado. Ritmo de crescimento que, segundo relatório do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) divulgado na manhã desta terça-feira, 15, é quase duas vezes superior à média nacional.

Isso significa que 98,9% das escolas públicas cearenses (em 182 dos 184 municípios) conseguiram alcançar a meta de desempenho proposta para 2019. Desempenho este que, de acordo com o Inep, é calculado a partir da combinação entre a proficiência obtida pelos estudantes em avaliações de larga escala, como o Saeb (Sistema de Avaliação da Educação Básica), e nas taxas de aprovação, ou seja, na progressão deles entre etapas/anos escolares.

Com a consolidação da base do ensino fundamental, a educação pública tem conseguido progredir, também, em séries mais avançadas. Quando se trata do desempenho escolar nos anos finais (6º ao 9º ano), o Ceará teve a melhor nota do País (5,2), de acordo com o Inep, figurando entre os sete únicos estados que conseguiram alcançar a meta estipulada para o Ideb 2019, ao lado de Amazonas, Piauí, Pernambuco, Alagoas, Paraná e Goiás.

Ao chegar ao ensino médio, porém, essa melhoria desacelera, mas não deixa de ser significativa. Após anos com o desempenho estagnado (em 2009, 3,4; em 2011, 3,4; em 2013, 3,3; em 2015, 3,4; em 2017, 3,7), o Ceará conseguiu alcançar a nota 4,2 no Ideb 2019. Não é ainda a meta estipulada para o ano (4,5), mas está entre as maiores do País. Neste aspecto, somente Pernambuco e Goiás conseguiram alcançar as notas que deveriam.

"Cada vez que a gente eleva a série, o desafio é maior. Ainda precisamos nos esforçar mais com o Ensino Médio, mas crescemos muito. Não tenho dúvida de que o Ceará chegará ao topo no futuro. Vamos continuar trabalhando para isso", declarou o governador Camilo Santana em live nesta terça-feira, 15, onde comentou os resultados do Ceará no Ideb.

Na ocasião, o gestor parabenizou a comunidade escolar da rede pública estadual e destacou o "orgulho" em alcançar resultados melhores a cada ano. "Hoje, o Ceará é um exemplo, uma referência. Isso é resultado do esforço de cada um que se dedica à educação", afirmou.

A vice-governadora Izolda Cela também reforçou o avanço necessário no Ensino Médio, mas enfatizou, ainda, o esforço constante que permitiu os números ascendentes do Estado no Ideb. "É um resultado que mostra que o empenho e o esforço dessa rede fazem frente às adversidades socioeconômicas que o nosso Estado ainda enfrenta", avalia.

Na live, Camilo também anunciou nomes de municípios que se destacaram nacionalmente. Segundo o governador, seis dos dez municípios brasileiros com melhores resultados nos anos iniciais do ensino fundamental são cearenses, dentre eles, Mucambo e Independência. Já nos anos finais, se destacam sete municípios cearenses — Pires Ferreira e Novo Oriente, por exemplo — dentre os dez melhores no País. “São municípios que mostram uma sustentabilidade importante da política educacional”, elogiou Izolda.

Para Selene Penaforte, conselheira integrante da Câmara de Educação Básica do Conselho Estadual de Educação (CEE), os resultados de 2019, principalmente nos anos finais do ensino fundamental, validam “uma sequência de conquistas lá de trás” quando o Ceará decidiu investir pesadamente e permanentemente em educação. “Investimento em educação tem que ser visto como política de estado e não de governo”, enfatiza a especialista.

Sobre o ensino médio, que ainda é o maior gargalo da educação brasileira, Selene entende que é preciso superar uma série de fragilidades como revisão de currículo, evasão escolar e cobertura de educação profissional e em tempo integral. “Deve ser olhado com cuidado”, diz.

Rede privada

A rede privada de educação do Ceará também tem progredido, mas de forma menos acelerada e ainda sem alcançar metas de desempenho. Nos anos iniciais do ensino fundamental, a rede privada saiu de um Ideb de 5,4 em 2005 para 6,7 em 2019. Nos anos finais, de 5,5 para 6,1. Já no ensino médio, de 5,5 para 5,7 (mesma nota alcançada em 2017).

Educação brasileira

A educação brasileira avançou em todas as etapas do ensino. Contudo, somente nos anos iniciais do ensino fundamental é que conseguiu cumprir as metas previstas para 2019. Os índices nacionais ficaram abaixo do esperado tanto nos anos finais quanto no ensino médio.

“A avaliação (do Ideb) é relativa à expectativa que o Inep tem de (evolução em) cada região. Em cada estado há uma. Olhamos com muito critério”, disse o ministro da Educação, Milton Ribeiro, em coletiva de imprensa transmitida ao vivo na manhã desta terça-feira, 15.

Nova avaliação da educação básica

Na mesma coletiva, o presidente do Inep, Alexandre Lopes, informou que a última aplicação do Ideb no formato atual será em 2021, com previsão para publicação de dados em 2022. Contudo, adiantou, “ao final de um ciclo, a gente sempre começa um novo”.

Segundo o gestor, as mudanças na avaliação da educação básica devem começar pelo Saeb, que, atualmente, é aplicado a cada dois anos aos estudantes de 2º, 5º e 9º anos. Na nova proposta, o Saeb será anual e aplicado em todas as séries do ensino fundamental e do ensino médio. Além disso, deve chegar de forma censitária a todos os estudantes, inclusive, os da rede privada, e englobar todas as áreas do conhecimento, não apenas português e matemática.

O início dessa reformulação está previsto para 2021, especificamente para o ensino médio e paralelamente à aplicação do Saeb tradicional. De acordo com Lopes, o teste “vai compor uma proficiência que chamamos de ‘Enem Seriado’. Os jovens brasileiros vão ter mais uma oportunidade de ingressar no ensino superior”.

O novo modelo do Ideb, bem como a pactuação de novas metas para o desenvolvimento da educação brasileira, ainda estão em estudo pelo Inep.

Impactos da pandemia nas avaliações educacionais

Para a conselheira estadual de Educação Selene Penaforte, “sem sombra de dúvidas” a pandemia de Covid-19 deve interferir no cenário de avaliação da educação básica a curto prazo. “2020 está irremediavelmente prejudicado em termos de desempenho dos jovens em todas as etapas de ensino. O alento é que entendo isso como uma coisa pontual, recuperável”, ela diz, desde que haja investimento na recuperação da aprendizagem que foi atrapalhada.