Professoras são flagradas discriminando aluno com autismo em escola de São Paulo: 'falta de surra'
Pais esconderam gravador na mochila do garoto e registraram os diálogos. Os áudios foram divulgados pelo Fantástico nesse domingo (3)
Ao esconderem um gravador na mochila do filho com transtorno do espectro autista (TEA), pais descobriram que o adolescente, de 12 anos, sofria discriminação por membros do corpo docente da escola particular que ele frequentava, em São Paulo. Em um dos áudios captados, e divulgados pelo Fantástico nesse domingo (3), uma das professoras afirma que o comportamento do aluno é motivado pela "falta de tomar uma boa surra".
O casal, formado pelo analista de suporte Thiago Camargo e a assistente financeira Alessandra Tavolasse, decidiu enviar o equipamento, por três dias seguidos, após receber um relatório da instituição, assinado pela diretora Andréa Claudia Camargo, que afirmava que o estudante "tinha preguiça de fazer a lição" e muitas vezes supostamente emitia "ruídos de bichos". O rapaz também passou a apresentar resistência parar ir à aula.
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Ao conferirem as gravações, os responsáveis tiveram uma surpresa. Em mais de uma das ocasiões registradas, professoras do colégio foram flagradas sendo agressivas com o adolescente.
Isso é falta de tomar uma boa surra, viu menino?! Se você tomasse uma boa surra você ia parar com suas graças! Você entende sim! Se você não quer copiar, cala a sua boca e olha. Se você fosse meu filho, você não teria mais pernas porque eu tinha quebrado as duas!”, gritou uma educadora.
"Uma coisa é ser autista, outra coisa é ser mal-educado. Já cansei de falar para vocês que o autista tem alguma coisa na cabeça que não funciona”, disse outra professora em outro áudio.
Após ouvir os registros, Thiago e Alessandra decidiram registrar um boletim de ocorrência de discriminação por motivo de deficiência contra a diretora da instituição, além de mover ações indenizatórias contra a profissional e a escola.
A gente ficou alguns dias sem dormir. Eu não conseguia falar com ninguém porque começava a falar com alguém e começava a chorar”, relebrou o pai sobre os dias após a descoberta.
Segundo a mãe, os problemas com escola começaram quando o adolescente iniciou o sexto ano, devido o aumento do número de professores. Com a mudança na rotina, também subiu o número de reclamações, como a de que ele jogava a mochila, saía correndo e batia a porta, entre outras.
No atual colégio, os pais chegaram a se oferecer para acompanhar o adolescente por um período, mas não foi aceito. Eles ainda sugeriram enviar um profissional só para acompanhar o garoto, mas a possibilidade foi negada pelo empreendimento, que também não disponibilizou uma pessoa para a função.
"A gente entende que teve uma violação da família como um todo. Os pais também sofreram danos, mas, sem dúvida alguma, a criança foi a mais prejudicada", explicou o advogado da família, Gabriel de Oliveira Silva.
Após os episódios de violência, Alessandra confessou que tem receio que algo do tipo se repita.
Desrespeito, humilhação, culpa. [...] Medo de deixar o filho da gente em algum lugar e pensar que pode acontecer isso com ele de novo", disse.
Atualmente, o garoto foi transferido para uma unidade escolar pública, onde está em período de adaptação.
A reportagem do Fantástico tentou entrar em contato com a diretora, mas não teve resposta. A secretária e o advogado da instituição também não retornaram as tentativas de contato.