Solução de autismo e Alzheimer pode estar no espaço, diz cientista brasileiro cotado para ir à ISS

Com chances de partir em missão à Estação Espacial Internacional, Alysson Muotri quer descobrir qual é o mecanismo de envelhecimento dos neurônios

Escrito por Redação ,
Legenda: Alysson Muotri é professor titular da faculdade de Medicina da Universidade da Califórnia, onde coordena pesquisas de células-tronco em órbita
Foto: Acervo Pessoal/ Alysson Muotri

Com a perspectiva de se tornar o primeiro cientista brasileiro a ir ao espaço, Alysson Muotri acredita que a resposta de doenças como autismo e Alzheimer pode partir daquele lugar. Cotado para viajar à Estação Espacial Internacional (ISS) em novembro de 2024, o estudioso trabalha a neurociência para entender o que nos torna humanos.

À Folha de São Paulo, Muotri apontou que a "expectativa com a viagem é altíssima". Desde 2019, o pesquisador tem enviado para lá os chamados "minicérebros", que são organoides cerebrais criados com as chamadas células iPS (ou células-tronco pluripotentes induzidas).

O paulista atua como professor titular da faculdade de Medicina da Universidade da Califórnia, na cidade de San Diego, Estados Unidos. Na instituição norte-americana, o brasileiro ainda é diretor do Centro de Educação e Pesquisa Integrada de Células-tronco em Órbita. "Acredito que a cura para o autismo e para o Alzheimer possa estar no espaço. Ele vai acelerar essas descobertas e os tratamentos", defendeu o cientista.

Em busca de respostas

Durante a empreitada, o cientista poderá realizar testes que ajudarão a proteger o cérebro de astronautas contra os efeitos da microgravidade. A partir de uma amostra de pele, por exemplo, os cientistas usam fatores especiais para fazer as células "voltarem no tempo". Isso faz com que elas adquiram versatilidade semelhante à de células-tronco embrionárias.

Aos poucos, esses neurônios se conectam e formam uma estrutura tridimensional que imita de forma simplificada a organização do córtex cerebral humano, daí o nome "minicérebros".Caso obtenha sucesso, o trabalho de Muotri servirá como uma peça importante para a colonização espacial.

Muotri ressalta, porém, que ao falar em cura e tratamento está considerando indivíduos com autismo severo. "Pessoas com autismo que têm uma vida independente, trabalham e têm sua família querem inclusão, a liberdade de ser e pensar de forma diferente. Me refiro àqueles que precisam de tratamento, que têm uma série de comorbidades associadas ao autismo."

Viagem ao espaço

Biólogo pela Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e doutor em genética pela USP (Universidade de São Paulo), Muotri trabalha com a neurociência. Os organoides são construídos no laboratório do pesquisador, na Califórnia, e têm sido levados em missões na ISS. A ideia é analisar como o cérebro se desenvolve e qual o impacto neurológico da microgravidade.

O projeto da viagem, prevista para novembro de 2024, foi apresentado ao presidente Lula e à ministra Luciana Santos no mês passado. Segundo Muotri, a iniciativa foi bem recebida e há tratativas com o governo para aporte de recursos e ampliação da parceria entre o laboratório na Califórnia e pesquisadores no Brasil. "Seria um sonho trabalhar cada vez mais perto dos meus colegas brasileiros e ajudar a levar projetos deles para o espaço", finalizou o entrevistado.