Menino brasileiro tem dedos cortados em escola de Portugal

Mãe comunicou à instituição que filho sofria bullying dos colegas.

Escrito por
Redação producaodiario@svm.com.br
Colagem mostra, à esquerda, imagem de Nívia Estevam, mãe do garoto brasileiro que teve dedos cortados em escola de Portugal, e, à direita, mostra imagem do garoto em hospital com mãe enfaixada.
Legenda: Mão só foi comunicada que criança tinha perdido parte dos membros momentos antes de chegar ao hospital.
Foto: Reprodução/TV Globo.

Um garoto brasileiro, de 10 anos, teve dois dedos cortados por colegas em uma escola de Portugal neste mês. A ponta dos membros foi amputada após os dedos serem pressionados por uma porta.  

A mãe do menino, Nívia Estevam, afirma que o filho foi vítima de xenofobia e racismo, enquanto a instituição alega que o caso foi um "acidente". 

Vítima de bullying

Em entrevista ao Fantástico, exibida nesse domingo (23), a paraense detalhou que já havia alertado a Escola Básica de Fonte Coberta, em Cinfães, de que a criança era vítima de bullying por parte dos outros alunos. 

O menino ingressou na instituição em setembro deste ano — quando inicia o ano letivo europeu. Na época, com 9 anos, ele relatou sofrer puxões de cabelo e chutes e que os colegas diziam que ele não sabia falar português.

Ainda segundo Nívia, quando o filho contou sobre as agressões à professora, ela disse: "não seja mentiroso, você tem que ser um menino bom".

Em 5 de novembro, a brasileira conseguiu uma evidência física das agressões após o menino chegar em casa com o pescoço roxo

Ao enviar uma foto das marcas para a docente, afirmou que não toleraria "nenhum tipo de agressão" contra o filho e exigiu uma atitude diante do caso. Então, a educadora respondeu que conversaria com a turma no dia seguinte.  

Como os dedos foram cortados

Cinco dias após a mãe relatar a situação à professora, a criança teve a ponta dos dedos decepados após serem pressionados por uma porta.

A agressão aconteceu quando o brasileiro desceu para comer e foi seguido por outros dois estudantes até o banheiro. Segundo Nívia, "na intenção de amedrontar ele, fecharam a porta e ficaram ali segurando". 

A mão esquerda do menino foi pressionada e as pontas foram amputadas pela pressão

'Foi uma brincadeira', disse professora

Naquele 10 de novembro, a paraense recebeu uma ligação da escola por volta das 10h30 e informada de que um "acidente" havia ocorrido, mas que não era grave.

Ao chegar à instituição de ensino, a professora afirmou que o que ocorrera era somente uma brincadeira. 

Até então, Nívia não sabia que o filho tinha tido as pontas dos dedos decepadas. Ela descobriu somente quando um funcionário da ambulância a entregou os membros pouco antes de chegarem ao hospital, a cerca de 100 quilômetros da escola. 

Veja também

Escola falhou gravemente, diz advogada

Para a advogada Catarina Zuccaro, que representa a brasileira no caso, a instituição de ensino "falhou grandemente" e solicitará uma indenização. O trauma do garoto "não vai ser apagado", mas a defensora espera que ele consiga "ressignificar" para que isso não guie seu futuro.

A partir do momento que ele atravessa aquela porta, ele é, sim, responsabilidade daquela escola. Tanto quem agride quanto quem é agredido."
Catarina Zuccaro
Advogada

Não existe racismo e xenofobia em Portugal, disse policial

Ao procurar as autoridades para denunciar o caso, Nívia contou que acabou sendo constrangida por um policial

Ele bateu assim na mesa, chegou bem próximo de mim e disse: 'Não vou aceitar que você fale isso aqui. Em Portugal, não existe nem racismo, nem xenofobia'."
Nívia Estevam
Mãe do garoto

Segundo a brasileira, ambas discriminações teriam motivado as agressões contra o filho.

Brasileira mudou de cidade e tirou filho da escola

Temendo novas agressões, Nívia deixou Cinfães "às pressas". Atualmente morando com os sogros, ela procura outra instituição que receba o filho e dê apoio. 

O que diz a escola? 

Ao Fantástico, uma coordenadora da Escola Básica de Fonte Coberta afirmou que "não prestará declarações à comunicação social sobre o caso referido" e que "todas as informações oficiais sobre o incidente serão divulgadas apenas através de comunicados institucionais, quando o inquérito interno estiver concluído". 

O ministro da Educação português, Fernando Alexandre, disse respeitar a autonomia da instituição para investigar o caso, mas que nem tudo pode ser visto como brincadeira. 

O embaixador brasileiro em Portugal, Raimundo Carreiro, alertou as autoridades locais, destacando que as primeiras medidas tomadas pela escola e pela polícia não foram satisfatórias, devido à gravidade do caso. 

Assuntos Relacionados