Síndrome do Intestino Irritável: o que é, quais os sintomas e como tratar

A doença causa fortes dores e desconforto abdominal e tem ligação com estresse e ansiedade

Escrito por Redação ,
Mulher com dor abdominal
Legenda: Síndrome causa empachamento, dor abdominal, estufamento e outros sintomas
Foto: Shutterstock

Desconforto abdominal, gases, má digestão e diarréia podem apenas ser indícios de que o corpo não recebeu bem algum alimento que ingerimos dias antes. Mas se esses sintomas aparecem com frequência, com dores intensas e reduzindo a qualidade de vida, pode ser um sinal de Síndrome do Intestino Irritável (SII). 

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A Síndrome do Intestino Irritável é uma doença funcional, ou seja, que não possui alterações estruturais orgânicas e bioquímicas, segundo explica o médico endoscopista Daniel de Paula Pessoa. De acordo com o profissional, essa é uma patologia que não leva a complicações, e jamais pode evoluir para câncer ou qualquer outra doença.

O que causa a Síndrome do Intestino Irritável

“A causa não está perfeitamente definida, mas sabe-se que está diretamente associada a alterações psicossomáticas, como estresse e ansiedade”, aponta o Dr. Daniel de Paula. Existe ainda a possibilidade de hiperssensibilidade do intestino, agravada pelo consumo de alguns alimentos, mas o mais provável é que seja um distúrbio multifatorial, completa o médico. 

O nutricionista e professor Filipe Brito acrescenta, ainda, a predisposição genética como um dos fatores que causam a Síndrome do Intestino Irritável.

“Mas genética não é destino, ela aumenta a chance de você ter a doença”, define. Ele explica que se o paciente tem predisposição genética e, junto com isso, leva um estilo de vida com poucas horas de sono, muito estresse e alimentação não saudável, pode desencadear a alteração na estrutura do trato gastrointestinal e reduzir a saúde dessa região.

Quais os sintomas

A síndrome reúne uma série de sintomas que podem aparecer juntos ou não, e com intensidades diferentes. Os sintomas mais comuns são:

  • Dor abdominal;
  • Distenção abdominal;
  • Alterações nas fezes;
  • Alteração no hábito intestinal, variando entre constipação (prisão de ventre) e diarréia;
  • Estufamento;
  • Empachamento.

“Em geral, são associados a estresse e ansiedade, e normalmente melhoram após a evacuação. Mais frequentemente, os sintomas permanecem por longos períodos, meses e até anos, e são recorrentes, interferindo bastante na qualidade de vida dos pacientes”, detalha o endoscopista Daniel de Paula.

O diagnóstico da Síndrome do Intestino Irritável é feito por um médico gastroenterologista e leva em conta, principalmente, o histórico clínico do paciente. Nesse processo, é comum que vários exames não apresentem alteração na região gastrointestinal. O Dr. Daniel aponta, também, que não existe um exame específico para a comprovação da síndrome, mas exames de imagem e laboratoriais são importantes, na jornada do diagnóstico, para excluir outras doenças. 

Como é feito o tratamento

A Síndrome do Intestino Irritável não tem cura, contudo, é possível aliviar os sintomas e fazer um tratamento que reduza as crises e dores, até o ponto em que o paciente possa retomar a qualidade de vida. Daniel de Paula lista três pilares essenciais para o tratamento efetivo da SII: medicamentos, cuidados com a saúde mental e uma dieta equilibrada e adaptada para cada paciente.

“Os medicamentos passam por antiespasmósdicos, para diminuir a contratilidade do intestino; probióticos, para reequilibrar a flora intestinal; e até psicoterápicos, para tratar ansiedade e depressão”, detalha. Além disso, o acompanhamento com um psicólogo e a prática de exercícios físicos ou atividades como ioga e meditação, complementa o profissional, têm efeitos diretos nos quadros de ansiedade e depressão, contribuindo no controle da Síndrome do Intestino Irritável.

“Toda vez que você estiver passando por um momento mais estressante e ansiogênico, é mais fácil ter sintomas. É muito comum o paciente com SII sofrer também com ansiedade e depressão”, reforça o nutricionista e professor Filipe Brito.

Já o aspecto alimentar tem papel central no manejo da Síndrome, motivo pelo qual os pacientes com essa doença precisam, também, ter acompanhamento com nutricionista.

O que não comer

Enquanto as medicações atuam no alívio dos sintomas e redução da dor, especialmente em casos moderados e graves da Síndrome, a dieta vai ajudar a retomar a qualidade de vida em longo prazo. Isso porque os pacientes com SII, pontua Filipe Brito, têm sensibilidade a alguns alimentos que, quando ingeridos, causam a piora dos sintomas por conta da dificuldade digestiva e alteração da microbiota - nome dado ao conjunto de bactérias benéficas naturalmente presentes no trato gastrointestinal. 

O grupo de substâncias não recomendas para as pessoas com Síndrome do Intestino Irritável é chamado de FODMAPs, sigla em inglês para Oligossacarídeos, Dissacarídeos, Monossacarídeos e Polióis Fermentáveis, encontrados em diversos alimentos e produtos alimentícios.

Na lista dos alimentos ricos em FODMAPs e que devem ser evitados por pacientes com a Síndrome estão itens como:

  • Maçã;
  • Abacate;
  • Mel;
  • Alho;
  • Cebola;
  • Couve-flor.

Além desses alimentos, Filipe Brito destaca os ultraprocessados como causadores de sintomas da SII por terem muito açúcar e farinha de trigo na composição - dois ingredientes ricos em FODMAPs. 

Segundo o nutricionista, em pacientes com quadros leves da Síndrome, a melhora da alimentação, com a redução dessas substâncias e de itens como pães, massas e café, é possível controlar os sintomas e ter uma boa evolução. “Mas na abordagem nutricional, hoje, o que tem mais efetividade em Síndrome do Intestino Irritável é a dieta Low FODMAP”, atesta.

Dieta terapêutica

A dieta Low FODMAP, na abordagem completa, é dividida em três etapas e classificada como terapêutica. Essa rotina alimentar deve ter uma data definida de início e de fim, diferente do que ocorre com idetas de estilo de vida, recomendadas para pacientes diabéticos ou celíacos, por exemplo, e que devem ser seguidas por toda a vida, segundo diferencia Filipe Brito.

A primeira etapa dessa dieta geralmente dura de 30 a 60 dias e compreende a fase de restrição alimentar. “Retiramos os alimentos ricos em FODMAPs, e mostramos ao paciente que ele pode ter uma alimentação variada, mesmo sem esses itens. Normalmente, dentro de 30 dias, ele consegue reduzir bastante a intensidade dos sintomas”.

Em paralelo ao cronograma alimentar, o paciente recebe, também nesta fase da dieta, suplementação com probióticos e nutrientes para repor substâncias não absorvidas corretamente pelo organismo e ajudar na retomada do equilíbrio do intestino. 

A etapa seguinte é a dos testes ou desafios, segundo descreve o nutricionista. Nela, o  paciente segue um protocolo para testar cada tipo de FODMAP e, assim, constatar o nível de sensibilidade para cada um deles. O consumo de cada grupo de substância ocorre por três dias, e os sintomas vão sendo registrados em uma espécie de diário. O profissional ressalta que essa etapa, realizada num período de cerca de 60 dias, não causa sofrimento no paciente, uma vez que os sintomas são cuidadosamente monitorados.

A fase final da dieta Low FODMAP é elencar os grupos de substâncias às quais o paciente é mais ou menos tolerante, e adequar o consumo de frequência delas em uma rotina alimentar saudável. “Você aprende a conviver com a doença, e passa a ter uma quantidade grande de escolhas”, garante Filipe Brito.

“Com o tempo e a melhoria digestiva, muitas vezes, a longo prazo, o paciente consegue até ter uma boa digestão desses grupos de alimentos”, finaliza. 

*Daniel de Paula Pessoa é médico endoscopista digestivo e membro titular da Sociedade Brasileira de Endoscopia Digestiva.

*Filipe Brito é nutricionista clínico, especialista em Nutrição em Gastroenterologia e professor do departamento de Nutrição da Universidade de Fortaleza (Unifor).