Veja vídeos e áudios exibidos em júri da chacina do Curió

Acusação utilizou registros feitos antes e depois da matança para provar participação de PMs nos crimes

Escrito por Messias Borges e Nícolas Paulino , seguranca@svm.com.br

O Ministério Público do Ceará (MPCE), responsável pela acusação contra quatro policiais militares réus no caso da chacina do Curió, exibiu para o Tribunal do Júri vários vídeos e áudios da noite da matança, em novembro de 2015. Segundo os promotores, as imagens mostram comboios de carros de PMs percorrendo as ruas da área, e gravações revelam pedidos por socorro às vítimas.

Com a dureza do material, parentes das pessoas assassinadas naquela madrugada, entre os dias 11 e 12, se emocionaram e saíram momentaneamente do salão, nesta sexta-feira (23).

Os vídeos apresentados, colhidos de câmeras de segurança de comércios e condomínios residenciais do Curió, mostram um comboio de veículos percorrendo as ruas. As imagens são cobertas com o áudio de um morador relatando aglomeração de policiais à paisana e usando balaclava no bairro.

"Meu irmão, juntou todos os policiais dessa área de Messejana, da Regional 6. É muito carro, é muita polícia, à paisana. [...] Uma porrada colocando balaclava, tudo à paisana. Meu irmão, vai ser tenso, muito tenso”, diz o trecho.

Outra parte toca o áudio de um suposto PM pedindo apoio a policiais de folga: “Bora pra cima, pessoal, pelo amor de Deus. Quem tá de folga, faz alguma coisa!”.

Segundo o MPCE, o estopim para os assassinatos teria sido o latrocínio que vitimou o soldado Valtemberg Serpa, o que mobilizou os PMs para irem até a região e cometerem a chacina, segundo a acusação.

A acusação também reproduziu chamadas daquela noite feitas por moradores do bairro à Coordenadoria Integrada de Operações de Segurança (Ciops) e ao Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu).

Um deles revela a movimentação de um grupo de pessoas rondando em veículos e ameaçando quem estava na rua.

“Aqui no conjunto Curió tem na faixa de uns 4 carros e umas 6 motos tudo encapuzados mandando todo mundo entrar nas residências e atirando pra tudo que é lugar [...] Quem tiver na rua eles tão atirando mesmo”, disse o interlocutor.

“Mande uma viatura que é bala direto”, chamou outra pessoa.

Mais relatos mostram mulheres desesperadas pedindo assistência médica aos baleados. 

“Teve um tiroteio aqui, mataram uns garotos! Pelo amor de Deus, venham aqui rápido!”, implorou uma mãe, chorando. “Tem três jovens que levaram um tiro”, falou outra mulher.

Muitas dessas ligações partiram da Rua Lucimar de Oliveira, onde houve quatro homicídios consumados e uma tentativa naquela noite, de acordo com a denúncia do MPCE. Lá, morreram Antônio Alisson Inácio Cardoso, Jardel Lima dos Santos, Pedro Alcântara Barroso Nascimento Filho e Alef Souza Cavalcante.

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Como está o julgamento?

Nesta sexta (23), quarto dia de julgamento do caso, ocorrem os debates entre a acusação, formada por promotores do MPCE e os assistentes, e os advogados de defesa dos réus. Como há possibilidade de réplica e tréplica, a estimativa é de que a discussão demore até 9 horas.

Durante a manhã, os promotores e a assistência expuseram os argumentos que envolveriam os quatro réus na chacina. O MP pediu a condenação pelos crimes da pronúncia e a prisão com execução provisória da pena.

Nesta tarde, é a vez da exposição dos advogados de defesa de cada PM. Eles têm 2h30; em seguida, pode haver réplica e tréplica. Após o debate, as próximas etapas são a leitura de quesitos, a votação do jurados e, por fim, a sentença.

Os destaques das últimas 24h resumidos em até 8 minutos de leitura.
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