PM interrogado por Chacina do Curió diz que dirigiu após ingerir bebida alcoólica e que ouviu tiros

Defesa deve explorar tese de que perícias não foram suficientes para identificar ação do soldado

Escrito por Messias Borges e Nícolas Paulino , seguranca@svm.com.br
Legenda: Terceiro dia do julgamento tem interrogatórios dos quatro réus
Foto: Calvin Penna/TJCE

O soldado da Polícia Militar Marcus Vinícius Sousa da Costa, 35 anos, foi o segundo militar réu ouvido no terceiro dia de julgamento da Chacina do Curió, nesta quinta-feira (22). Assim como o acusado anterior, Antônio Abreu, que depôs dentro de um carro nos Estados Unidos, ele negou autoria na matança. O episódio deixou 11 mortos em novembro de 2015, na Grande Messejana.

Seguindo a narrativa de Abreu, Marcus Vinícius conta que também foi à Praça da Base do Programa Crack é Possível Vencer, em Messejana, na noite da chacina, como forma de solidariedade à morte do soldado Valtemberg Serpa. Segundo o Ministério Público do Ceará (MPCE), os crimes foram motivados por vingança pela morte desse PM.

“Os policiais estavam chamando nos grupos, e eu fui me solidarizar com a família, que eu não conhecia, mais com o intuito de chamar a atenção para essas mortes de policiais que estavam acontecendo”, disse Marcus no interrogatório. 

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Marcus declarou que tinha saído de um jogo para um ‘espetinho’ no bairro Presidente Kennedy, onde ingeriu bebida alcoólica. Depois, dirigiu até a Praça em veículo próprio. Ele afirmou que, à época, trabalhava na região da Aldeota e não tinha relação com Messejana.

No entanto, conforme a denúncia do Ministério Público, o carro dele foi flagrado passando na Rua Lucimar Oliveira, onde ocorreram quatro homicídios consumados e uma tentativa. 

Marcus diz que se deslocou da Praça para o Frotinha da Messejana, seguindo carros descaracterizados. Rodaram alguns quarteirões e voltaram pra Praça. Nesse trajeto, ele afirma ter ouvido dois tiros, mas não sabe onde se deram, nem viu corpos. 

Só soube da Chacina da Messejana pelo Whatsapp, na manhã seguinte, ao acordar, alega. “Não vi nenhum homicídio. O que comuniquei (na Base da Praça do Crack) é que ouvi dois disparos”, descreve o PM, que disse que estava desarmado.

Durante a inquirição, a juíza disse que o carro dele parou junto a viaturas, e pessoas desceram para conversar. O PM nega que tenha descido do carro. Durante a abordagem da defesa, Marcus afirmou que o carro que utilizava não foi periciado

"Tudo isso eu tô passando sendo inocente”, falou chorando. “Eu entendo as mães, tem que ter Justiça. Se eu soubesse apontar quem fez isso, eu faria. Estive no local, mas não sei quem fez".

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O advogado Walmir Medeiros, integrante da defesa de Marcus, sustenta que não há provas suficientes para a criminalização do cliente, ainda que ele tenha sido visto no local.

“Não existe crime por passar no local. A perícia mostra que ele passou pelo local à 1h02, mas as mortes ocorreram às 0h20. Estão acusando de uma coisa da qual ele não participou”, argumenta. 

Segundo ele, as perícias são “infantis” e as acusações se baseiam “em achismos e depoimentos de testemunhas que não reconheceram” Marcus.

Ao fim do interrogatório do segundo PM, às 13h, o julgamento já conta com 26 horas de duração.  Para hoje, ainda estão previstos os interrogatórios de mais dois réus.

As próximas etapas do julgamento são:

  • Debate entre acusação e defesa
  • Leitura de quesitos
  • Votação do jurados
  • Sentença dos jurados
Os destaques das últimas 24h resumidos em até 8 minutos de leitura.
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