'Vai para a senzala comer milho': policial civil é indiciada por injúria racial contra garçom no Ceará
O garçom também foi indiciado, pelo crime de injúria, por dizer que ela e o namorado eram dois 'lisos'. Confusão ocorreu em um restaurante de Fortaleza
Uma policial civil foi indiciada pela Delegacia de Assuntos Internos (DAI), da Controladoria Geral de Disciplina dos Órgãos de Segurança Pública e Sistema Penitenciário do Ceará (CGD), por injúria racial contra um garçom, em Fortaleza. O garçom também foi indiciado, pelo crime de injúria contra a servidora pública.
Segundo o Relatório Final da DAI, de 24 de abril deste ano, que a reportagem teve acesso, a inspetora da Polícia Civil do Ceará (PCCE) Janete de Almeida Fermon disse, durante uma confusão, para um garçom ir "para a senzala comer milho", e ainda o chamou de "neguinho"; enquanto o garçom Francisco Natanael Silva Lima rebateu que a servidora e o namorado eram dois "fuleragens" e "lisos" (em razão de uma dificuldade de conseguir pagar uma conta).
Veja vídeo da confusão:
Além da investigação criminal, a inspetora virou alvo de Processo Administrativo Disciplinar (PAD) na CGD, por suspeita de transgressão disciplinar, conforme publicação do Diário Oficial do Estado (DOE) da última sexta-feira (19).
O coordenador jurídico do Sindicato dos Policiais Civis de Carreira do Ceará (Sinpol), advogado Kaio Castro, que representa a inspetora Janete de Almeida Fermon, afirma que "é importante lembrar que, até o presente momento, a policial civil não foi acusada na Justiça e também já ingressou com queixa-crime, como a suposta vítima, que já se encontra em tramitação no Poder Judiciário".
"No PAD, não fomos ainda cientificados do procedimento e tão logo a policial civil seja intimada, iremos requerer a cópia do procedimento e apresentar a defesa prévia", completa Castro. A defesa de Francisco Natanael Silva Lima não foi localizada.
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Como aconteceu a confusão
A policial civil e o garçom se desentenderam em um restaurante localizado no bairro Serrinha, em Fortaleza, no dia 19 de março deste ano. Testemunhas e imagens das câmeras de segurança do estabelecimento confirmaram a discussão e a troca de ofensas.
A confusão começou quando Janete Fermon e o namorado perceberam que tinham esquecido os cartões bancários e perguntaram para Francisco Natanael como poderiam pagar a conta. Os clientes procuraram o gerente do restaurante, que aceitou o pagamento no dia seguinte, conforme o Relatório Final da DAI.
Sucede que, quando foram informar sobre o acordo para o garçom Natanael, este teria dito que não aceitava. Mais tarde, teriam acontecido ofensas por parte dos clientes e do garçom, o que culminou com a fala da policial civil, a qual afirmou que 'é por isso que tu nunca vai chegar a gerente, vai comer milho da senzala'."
O garçom teria chamado os clientes de "caloteiros" e "fuleragens" e dito que "isso é coisa de liso, a pessoa sair pra beber e não ter dinheiro", segundo as testemunhas. Janete teria o chamado, então, de "funcionário de merda" e "neguinho".
A Delegacia de Assuntos Internos resolveu indiciar Janete de Almeida Fermon pelo crime de injúria racial, com pena de 2 a 5 anos de reclusão; e Francisco Natanael Silva Lima, pelo crime de injúria, com pena de 1 a 6 meses de detenção.