Testemunhas de defesa prestam depoimentos ao júri da Chacina do Curió
Conhecidos dos réus relataram qualidades e dedicação de acusados
O segundo dia do julgamento da Chacina do Curió, que apura a participação de quatro policiais militares na morte de 11 pessoas na Grande Messejana, em 2015, teve início no Fórum Clóvis Beviláqua por volta das 9h40 desta quarta-feira (21). A expectativa é que pelo menos 8 testemunhas de defesa sejam ouvidas hoje.
Após a releitura da denúncia do Ministério Público do Ceará (MPCE) para as testemunhas de defesa e réus, o colegiado de juízes chamou a primeira testemunha para prestar depoimento em plenário. Conforme o rito, as perguntas começam pela defesa, depois ficam a cargo da acusação, formada pelo MPCE e a assistência.
As testemunhas foram arroladas pelas defesas do PM Wellington Veras Chagas e Ideraldo Amâncio. Os advogados trabalham com duas principais teses: de que os militares não estavam na cena do crime ou que não é possível individualizar a conduta de cada acusado.
As apurações dos crimes mostram que os dois estão entre os policiais que tentaram adulterar as placas de seus veículos para não serem flagrados. Perícias realizadas à época constataram divergências entre números, que teriam sido mudados na noite da chacina, segundo os promotores de Justiça.
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A primeira a depor foi uma mulher a favor de Wellington. Ela relatou que o conhece desde 2010, quando o PM era instrutor de um curso pré-militar do qual o filho dela era aluno. Segundo ela, o rapaz o admirava.
“O Welington mostrava que não precisava bater. Que bastava ser uma pessoa de bem. Ele era diferente. Ele parecia um professor. Nunca ele falou ou fez barbaridade, no projeto. Ele sempre trazia o melhor pras crianças e pros adolescentes”, disse ela.
A acusação do MPCE a questionou se tinha conhecimento da Chacina do Curió, e ela disse que soube pela TV. Perguntada se sabia que Wellington participou da matança, respondeu que não.
A segunda testemunha de defesa do PM foi um sargento e ex-comandante dele. No entanto, como disse que eram “amigos”, o juiz decidiu que ele seria ouvido na condição de declarante, tipo de testemunha que está dispensada por lei a prestar o compromisso de dizer a verdade.
O sargento ressaltou que Wellington nunca teve insubordinação nem era violento. Ele também falou sobre o outro réu, Ideraldo Amâncio: “excelente profissional, qualificado e dedicado. Atento ao trabalho policial. Estava sempre disposto a ajudar as pessoas da comunidade, em serviço ou de folga”.
Após essa oitiva, o júri foi suspenso às 13h30 para almoço.
Primeiro dia
No primeiro dia de julgamento, foram ouvidas três vítimas e duas testemunhas de acusação ao longo da sessão, que durou 12 horas. Relatos violentos deram conta de agressões e alvejamentos até de quem tentava socorrer vítimas feridas, na noite da chacina.
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Passo a passo do julgamento
A previsão é que o júri, de alta complexidade, possa se estender até a próxima sexta-feira (23). Durante a sessão, estão previstos 24 depoimentos, sendo sete de vítimas sobreviventes, 13 de testemunhas, além do interrogatório dos quatro réus, conforme o Tribunal de Justiça do Ceará (TJCE).
Além de Wellington e Ideraldo, vão ao 1º Salão do Júri na condição de réus os PMs Marcus Vinícius Sousa da Costa e Antonio José de Abreu Vidal Filho.
As próximas etapas do julgamento são:
- Oitiva das vítimas sobreviventes e das testemunhas
- Interrogatório dos réus
- Debate entre acusação e defesa
- Leitura de quesitos
- Votação do jurados
- Sentença dos jurados