Acusação exibe vídeos de socorro a vítimas da chacina do Curió e familiares se retiram do júri
4º dia de julgamento tem debates entre a acusação e a defesa dos quatro policiais réus
O quarto dia do julgamento da chacina do Curió, na manhã desta sexta-feira (23), começou com muita comoção para familiares das vítimas assassinadas. O Ministério Público do Ceará (MPCE), que realiza a acusação, mostrou vídeos do socorro às pessoas baleadas em novembro de 2015, na Grande Messejana. Familiares que estavam na plateia se emocionaram e deixaram o salão do júri.
Nesta fase do julgamento, ocorrem os debates entre a acusação, formada por promotores do MPCE e os assistentes, e os advogados de defesa dos réus. Como há possibilidade de réplica e tréplica, a estimativa é de que a discussão demore até 9 horas.
As imagens de câmeras de rua mostram vários jovens estirados no chão ou sendo socorridos em carros, muitos deles baleados - e já mortos. O MP também reproduziu áudios que buscam provar a atuação de policiais na chacina. Quatro PMs são réus neste primeiro julgamento do caso, que já passa de 33 horas.
O MPCE utilizou seu tempo de debate para lembrar episódios de violência que aconteceram na Grande Messejana e revoltaram policiais militares. O estopim teria sido o latrocínio que vitimou o soldado Valtemberg Serpa, o que mobilizou os PMs para irem até a região e cometerem a chacina, segundo a acusação.
“Muitos policiais, articulados, mataram 11 pessoas, torturaram quatro e balearam mais duas. Isso se chama concurso de pessoas. Quem atirou? Não foi identificado. Mas o artigo 29 do Código Penal prevê que ‘quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas a este cominadas’”, sustentou a promotora Alice Iracema Aragão.
O promotor Luís Bezerra Lima Neto corroborou com a tese: “basta eu comprovar que esse partícipe estava dando apoio para ele participar do crime”. Ele também ponderou que nem todos os envolvidos vão a julgamento. ““O processo é perfeito? Não. Tem policial civil que deve ter participado desse crime, mas não foi identificado. Tem policial militar que participou e também não foi identificado”.
Veja também
Veja as alegações da participação de cada réu, segundo os promotores:
- PM Wellington Chagas: estava com o veículo com placas adulteradas, segundo câmeras do Detran; e apresentou depoimentos controversos (em um deles, o PM disse que não desceu do carro e em outro, afirma que desceu);
- PM Marcus Vinícius - teve seu carro identificado por perícia, seguindo o comboio de carros que estariam sendo utilizados na Chacina, e mudou de versão durante a investigação (disse antes que o carro não era dele e, em juízo, que o veículo era dele, mas que não participou dos crimes)
- PM Antonio Abreu Filho - também estaria com veículo adulterado; dados da ERB (Estação Rádio Base) mostraram que o celular dele estava na região da Grande Messejana. Ele negou, em depoimento inicial, que não estava no local; em juízo, confirmou que estava, mas prestando solidariedade à família do soldado Serpa;
- PM Ideraldo Amâncio - único réu que alegou estar em casa, mas foi depor com um veículo igual a outro filmado na região dos crimes, com placa adulterada. O MPCE também contesta o vizinho do PM, que disse em depoimento em 2017 que não viu Ideraldo em casa naquela noite, mas no julgamento alegou que viu - ocasião pela qual o Órgão pediu que o mesmo respondesse por falso testemunho perante a Justiça, o que foi negado.
“Se eu vou para um local de crime só para prestar solidariedade, eu preciso adulterar veículos? Eu preciso contar várias versões? Precisa trazer alguém aqui para mentir? Precisava fazer tudo isso?”, argumentou o promotor.
Hoje não estamos num julgamento de um simples crime de sangue, não. Estamos no julgamento do maior massacre de Fortaleza.
Em seguida, o MP defendeu a prisão dos acusados, ou seja, que eles não recorram em liberdade caso haja sentença a favor da condenação.
O que diz a defesa?
Após a argumentação da acusação, os advogados de defesa terão 2h30 para expor suas teses. Eles devem alegar que não há provas suficientes quanto à autoria das mortes ou mesmo a negativa de autoria.
“Não há provas de quem fez o quê. Não tem imagem nem reconhecimento de ninguém que tenha feito alguma coisa, nem foram feitas as perícias que deveriam ter sido feitas”, disse ao Sistema Verdes Mares o advogado Walmir Medeiros, membro da defesa do PM Marcus Vinícius.
Talvane Moura, advogado do PM Ideraldo Amâncio, também crê na absolvição do cliente. “Ele estava em casa no dia do ocorrido e nada fez. Quem praticou esse delito merece reprovação adequada e justa, mas não é o caso dele”, garante.
Julgamento: veja resumo dia a dia
1º dia (20/06)
No primeiro dia de sessão do Júri, foram ouvidas três vítimas e duas testemunhas de acusação em sessão que durou 12 horas. Depoimentos violentos lembraram agressões e alvejamentos até de quem tentava socorrer vítimas feridas, na noite da chacina.
2º dia (21/06)
Na quarta-feira, foram ouvidas sete testemunhas arroladas pela defesa dos acusados, que buscaram ressaltar boa trajetória dos PMs na profissão e na vida pessoal. Ao fim do dia, chegou-se a 22 horas de julgamento.
3º dia (22/06)
Os réus Antônio José de Abreu Vidal Filho, Marcus Vinícius Sousa da Costa, Wellington Veras Chagas e Ideraldo Amâncio prestaram depoimento. Eles chegaram a se emocionar durante os interrogatórios e negaram participação nos crimes.
Todos, por orientação da defesa e por direito deles, não responderam às perguntas do Ministério Público, para o qual há provas nos autos que "os colocam no local dos fatos". Eles responderam apenas ao colegiado de juízes e aos próprios advogados. O julgamento acumula 32 horas de duração.
PRÓXIMAS ETAPAS DO JÚRI
Debate entre acusação e defesa
Leitura de quesitos
Votação do jurados
Sentença dos jurados