Quem são os réus da Chacina do Curió ouvidos nesta quinta (22) e as teses da acusação e da defesa

Os PMs negam participação nos crimes, mas para o Ministério Público há provas nos autos que "os colocam no local dos fatos"

Escrito por Emanoela Campelo de Melo , emanoela.campelo@svm.com.br
juri
Legenda: O júri começou nessa terça-feira (20), no Fórum Clóvis Beviláqua, em Fortaleza
Foto: Fabiane de Paula

O júri da 'Chacina do Curió' chega ao terceiro dia. Na manhã desta quinta-feira (22), a partir das 9h, serão interrogados pela defesa e pela acusação os quatro réus acusados do crime ocorrido em novembro de 2015. Nos autos do processo com mais de 13 mil páginas, constam as teses dos denunciados e do Ministério Público do Ceará (MPCE), que devem ser apresentadas no plenário.

Os quatro policiais militares réus negam participação nos crimes que resultaram em 11 mortes na 'Grande Messejana'. No entanto, para o MPCE, provas colhidas ao longo da investigação colocam os soldados no local dos fatos. 

PLACA ADULTERADA

O soldado Wellington Veras Chagas foi ouvido na Delegacia de Assuntos Internos (DAI) e negou ter participado das buscas aos suspeitos da morte de um PM, um dos episódios que culminou na chacina.

Na tese de Wellington, na data do crime seu carro estava com problema na ignição. Conforme o MPCE, "todavia, as câmeras do Departamento de Trânsito do Ceará (Detran) registraram na noite do dia 11 de novembro de 2015, a presença de um veículo gol, de cor preta, na região da Grande Messejana".

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Depois, com o aprofundamento das investigações, notou-se adulteração na placa com "tentativa de impossibilitar a identificação da presença do veículo nas adjacências da região onde ocorreu a chacina".

Para MP, o policial "exibiu versões repletas de contradições" e "não agiu com ímpeto de colaborar com a Justiça na apuração dos fatos criminosos", sob suspeita que "agiu não só para se vingar da morte do policial Serpa, e também, para prestar, no seu juízo de valor, apoio ao policial Marcílio, participando ativamente das ações delituosas".

"FALTOU COM A VERDADE"

De acordo com o MPCE, o outro réu, Ideraldo Amâncio, "faltou com a verdade ao ser ouvido na fase de investigações". O PM diz que sequer compareceu a qualquer um dos locais dos fatos, mas o órgão acusatório traz outra tese.

"Sua versão se confronta com a prova pericial exibida nos fólios do procedimento investigatório... A propósito, de acordo com a prova pericial conduzida, imagens do veículo desse acusado foram captadas como estando presente na região e na data onde os crimes aqui narrados ocorreram".
MPCE

Nessa terça-feira (20), as testemunhas de acusação e as vítimas sobreviventes citaram a presença de um carro modelo Siena, cor preta, no local do crime. Nos autos, consta que este era o veículo de Amâncio. 

Os advogados Abdias Carvalho, Roberto Duarte, Talvane Moura e Sandro Silva, que representam a defesa do policial militar Ideraldo Amancio, afirmam que ele foi "acusado injustamente de participar da chacina da Messejana". A defesa diz acreditar na imparcialidade do sistema judiciário e confia que os fatos e a verdade prevalecerão.

PERÍCIA

No caso do soldado Marcus Vinícius Sousa da Costa, "o veículo Fiat Punto, cor bege, de sua propriedade, foi registrado como estando presente nas adjacências do local que serviu de palco às ações criminosas".

As imagens das câmeras de segurança passaram por exame pericial e ficou constatado que o carro estava no local.

Marcus Vinícius diz que transitou pelo local e observou a existência de corpos no chão, assim como identificou a presença de homens encapuzados, mas retornou a sua casa.

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"CARRO ESTAVA COM A MÃE"

Outro réu do caso é Antônio José de Abreu Vidal Filho, que irá depor via videochamada, porque atualmente mora nos Estados Unidos da América. Sobre ele, a acusação diz que há fortes indícios de adulteração da placa do carro do PM.

Ele disse na DAI que tinha emprestado o carro à mãe e que na "fatídica madrugada do dia 12/11/2015 havia saído para jantar com sua namorada e, em seguida, retornou para casa, sem sequer passar pelas adjacências do bairro Lagoa Redonda". 

"Todavia, o seu depoimento perde, totalmente, a credibilidade quando confrontada com as informações obtidas por meio da quebra de sigilo telefônico realizada na fase inquisitorial"
MPCE

De acordo com inquérito policial, dados de Estações de Rádio Base (ERBs) revelam ligação de Abreu na região do Curió, durante o momento do crime. 

ANDAMENTO DO JÚRI

Até a noite dessa quarta-feira (21), foram ouvidas duas vítimas sobreviventes, três testemunhas de acusação e seis testemunhas de defesa. A previsão é que o júri se estenda até esta sexta-feira (23).

AS PRÓXIMAS ETAPAS DO JULGAMENTO SÃO:

  • Debate entre acusação e defesa
  • Leitura de quesitos
  • Votação do jurados
  • Sentença dos jurados
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