Se teve vazamento foi da polícia do CE, diz governador do RJ sobre operação na Rocinha; SSPDS rebate

Autoridades cearenses falam da proporção da operação: “Inevitavelmente, quando os agentes chegam ao local, tem todo um trajeto que precisa ser feito, até se chegar nos alvos”

Escrito por
Redação producaodiario@svm.com.br
(Atualizado às 15:42)
operacao contra comando vermelho na rocinha vazamento de informações rio de janeiro mp
Legenda: O MPCE e a Polícia Civil do Ceará (PCCE) esperavam prender chefes do Comando Vermelho (CV) que atuam no Ceará e que viviam na Rocinha e, para isso, contaram com o apoio do Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) e da Polícia Militar do Rio de Janeiro (PMRJ), para deflagrar a operação.
Foto: Divulgação/MPCE

O governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL) foi questionado nesta quinta-feira (5) sobre um possível vazamento de informações acerca da mais recente operação na Rocinha deflagrada em uma ação conjunta com autoridades do Ceará:  "se houve, com certeza foi do pessoal da polícia de lá", disse o gestor.

Cláudio Castro comentou acerca das imagens que mostram centenas de criminosos em posse de armas de grosso calibre, fugindo por uma mata na comunidade na Zona Sul do Rio. O vídeo da fuga cinematográfica com homens vestidos com roupas apropriadas e mochilas e armados de fuzis foi divulgado nesta semana pelo Diário do Nordeste.

"Daqui, a gente tem a tranquilidade de ter os nossos dados muito compartimentados. É óbvio que como é uma investigação de lá, tudo foi compartilhado com o Ceará. Eu acho que tem que haver uma investigação, sim, de quem cedeu essas imagens. Porque quem cede para o jornalista, pode ter cedido para pessoas que não deveriam ter acesso àquelas imagens", disse o governador ao G1.

A reportagem procurou a Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) do Ceará e o Ministério Público do Ceará (MPCE) para comentar sobre o pronunciamento. A SSPDS se posicionou por nota dizendo que "rebate e lamenta veementemente essa declaração que carece de qualquer embasamento".

"Eles estavam numa área extremamente urbana. Nós tivemos o maior cuidado, isso advém sobretudo depois da ADPF (a ADPF das Favelas, com regras para a realização de operações policiais). Nós tomamos um cuidado de não ser um dia de ter aula, de não ser horário que as pessoas estivessem nas ruas e também de não virar uma guerra urbana dentro da Rocinha. Se você olhar bem a estratégia, a Polícia foi empurrando eles para a mata"
Cláudio Castro
Governador do Rio de Janeiro

A fuga dos criminosos foi filmada por drones das Forças de Segurança. "Possivelmente essas pessoas são treinadas para isso, até pela vestimenta, pela forma como ostentam fuzis. Para essas pessoas estarem adentrando na mata, com certeza elas tiveram acesso a técnicas de guerrilha. Essas mochilas devem ter produtos para passar dois ou três dias na mata", analisa o subprocurador geral jurídico do Ministério Público do Ceará (MPCE), Plácido Rios.

Veja também

CHEFES DO COMANDO VERMELHO NA ROCINHA

O MPCE e a Polícia Civil do Ceará (PCCE) esperavam prender chefes do Comando Vermelho (CV) que atuam no Ceará e que viviam na Rocinha e, para isso, contaram com o apoio do Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) e da Polícia Militar do Rio de Janeiro (PMRJ), para deflagrar a operação.

Da Rocinha, os criminosos ordenavam homicídios e outros ataques criminosos em território cearense, além de comandar o tráfico de drogas.

Apenas um suspeito foi preso: um homem natural de Brasília - que não teve sua identidade revelada - tinha atuação no Ceará e também se escondia na comunidade do Rio de Janeiro. Um policial foi baleado no pescoço, durante a operação. O agente de segurança passou por cirurgia e não corre risco de morte.

Antes da fala do governador do Rio, as autoridades cearenses refutaram um possível vazamento de informações sobre a operação: "a gente tem que analisar a proporção da operação. Foi uma operação bem grande, com a participação de centenas de agentes. Inevitavelmente, quando os agentes chegam ao local, tem todo um trajeto que precisa ser feito, até se chegar nos alvos. Tem uma certa demora, para evitar que tenha danos e que tenha vítimas que não estão ligadas à operação", explica o diretor-adjunto do Departamento Técnico Operacional (DTO) da PCCE, delegado Kléver Farias. 

O coordenador do Grupo de Atuação Especial de Combate às Organizações Criminosas (Gaeco), do MPCE, promotor de Justiça Adriano Saraiva, afirma que os cearenses viviam na Rocinha "meio intocáveis". "O Estado do Ceará, no ponto de vista geográfico, é importante para eles (facção carioca), pela proximidade com a Europa e com a África. É um Estado em crescente evolução imobiliária. Temos dois portos aqui importantes, com baixa fiscalização", completa.

Plácido Rios corrobora que "o interesse deles é financeiro e estabelecer domínio sobre as regiões". Segundo o subprocurador geral jurídico, a facção criminosa construiu um prédio de seis andares na Rua Dionéia, sem autorização da Prefeitura do Rio de Janeiro. Nos quatro primeiros andares, moravam seguranças da facção e, nos dois andares mais altos, chefes da quadrilha - inclusive cearenses. "Esperamos que o Poder Judiciário mande destruir esses imóveis, após serem arregimentadas provas que comprovem que esses imóveis eram utilizados para fins criminosos", conclui.

PAGAMENTO MILIONÁRIO

Ainda como resultado desta operação, o MPCE divulgou que a facção criminosa interferiu na eleição municipal em Santa Quitéria, no Interior do Ceará. Um carro da marca Mitsubishi contendo R$ 1,5 milhão em dinheiro saiu do município cearense e foi levado à comunidade da Rocinha, no Rio de Janeiro, para pagar os "serviços". 

Conforme o subprocurador geral jurídico do MPCE, Plácido Rios, o grupo criminoso tem "interesses financeiros" e "estabelecer domínios sob regiões". Ele revela que o veículo que saiu do Ceará chegou ao RJ rapidamente, em cerca de um dia.

O Diário do Nordeste apurou que o principal responsável por dar as ordens em Santa Quitéria, e recebedor da quantia milionária, foi Anastácio Paiva Pereira, o Doze, um dos chefes de uma facção que comanda o tráfico de drogas em Santa Quitéria. 

Este conteúdo é útil para você?
Assuntos Relacionados