Relembre mortes violentas emblemáticas no Ceará durante o motim de militares

324 Crimes Violentos Letais e Intencionais (CVLIs) foram registrado durante o movimento, em 2020

Escrito por Emanoela Campelo de Melo , emanoela.campelo@svm.com.br
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Legenda: Mais da metade dos homicídios contabilizados em fevereiro de 2010 foram durante o motim

Há um ano, começava um período marcado pela violência no Estado do Ceará. De 18 de fevereiro a 1º de março, temporada do motim de policiais militares, a Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) contabilizou 321 assassinatos. 114 só em Fortaleza. Parte dos casos segue sem ter sido solucionada pela Polícia Civil.

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Um dos casos emblemáticos que aconteceu enquanto centenas de PMs se abstinham do dever e proteção a população foi a morte de pai e filha, no litoral do Estado. As vítimas foram assassinadas a tiros, na madrugada de 22 de fevereiro de 2020, enquanto dormiam, em casa.

O ataque teria acontecido porque os criminosos confundiram Francisco Jorge Gomes Xavier, de 39 anos, com outro homem com que brigaram horas antes. Jorgiane dos Santos Xavier, de 1 ano e 11 meses foi alvejada, ao lado do pai. Só naquele dia, 33 pessoas foram mortas no Ceará. Não há informações sobre prisões de suspeitos desse crime.

Adolescente executada

Em quase duas semanas de movimento dos militares, 25 adolescentes foram mortos no Ceará. No dia 27 de fevereiro, foi assassinada na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF) a jovem Ana Vitória Brito dos Santos, 17. Dois homens foram presos sob suspeita do crime: Otacílio Fonseca de Sousa e Rogério Pinheiro da Silva. O caso segue tramitando na Justiça do Ceará.

Consta nos autos que a família soube do sumiço da adolescente, e horas depois o corpo foi encontrado. "Disseram que ela tinha sido pegue", conforme uma tia da vítima, em depoimento à Polícia Civil. Os suspeitos foram denunciados pelo homicídio.

Enfrentamento

O sociólogo Luiz Fábio Paiva, pesquisador do Laboratório de Estudos da Violência (LEV) da Universidade Federal do Ceará (UFC), acredita que o avanço dos grupos faccionados junto ao sentimento de não pertencimento a Instituição PMCE por parte dos amotinados foi junção que interferiu para escalada da violência no período.

Conforme Paiva, em 2019 foi disseminada política de intensificar o enfrentamento ao crime, e no ano seguinte os policiais que trabalham na linha de frente não se sentiram valorizados o suficiente.

"Uma das hipóteses é que embora o motim tivesse um baixo percentual de pessoas amotinadas, o sentimento que esse grupo transmitiu percorreu a categoria. Então mesmo o policial que não aderiu ao movimento, pode entender que o movimento era legítimo. Isso impacta a efetivação de um trabalho que é difícil, perigoso e pouco valorizado a medida que esses agentes são expostos ao confronto armado. O discurso do Governo sai um pouco de cena e isso pode evidenciar um avanço de que a instituição não foi recompensada", afirmou o pesquisador.

A reportagem buscou a Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) a fim de saber sobre a resolutibilidade dos CVLIs em fevereiro de 2020 e quais estratégias adotadas pela Pasta com o passar dos meses. Após mais de duas semanas do contato, a Secretaria ainda não havia respondido até a publicação desta matéria.

 

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