Preso por matar homem retirado à força de shopping em Fortaleza confessa à Polícia que agiu 'na emoção'

Moradores da Sapiranga teriam responsabilizado a vítima pela morte da companheira, horas antes. A Justiça Estadual considerou 'ilegal' a prisão em flagrante do suspeito e a relaxou, mas decretou a prisão preventiva a pedido do Ministério Público

Escrito por
Messias Borges messias.borges@svm.com.br
Vítima foi agredida e retirada do shopping à força. Cena espantou clientes do estabelecimento
Legenda: Vítima foi agredida e retirada do shopping à força. Cena espantou clientes do estabelecimento
Foto: Reprodução

Um dos quatro presos por matar Anderson Pereira da Silva, de 29 anos, retirado à força de um shopping em Fortaleza, no último sábado (1º), confessou à Polícia Civil do Ceará (PCCE) que cometeu o crime "na emoção", ao saber que uma mulher teria sido morta pelo companheiro. Entretanto, o corpo da mulher foi encontrado sem sinais de violência.

Antônio Edneldo Pereira, de 25 anos, foi capturado no Município de Marco (a cerca de 230km de distância de Fortaleza) - sua cidade natal - na última segunda-feira (3). Ele estava em liberdade há pouco mais de um mês, pois tinha sido solto em dezembro do ano passado, em um processo por tráfico de drogas.

A Justiça Estadual considerou "ilegal" a prisão em flagrante de Antônio Edneldo e a relaxou, mas também decretou a prisão preventiva do suspeito, a pedido do Ministério Público do Ceará (MPCE), em audiência de custódia realizada na última terça-feira (4).

Conforme documentos obtidos pelo Diário do Nordeste, Antônio Edneldo contou, em interrogatório no Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), da Polícia Civil,  que, ao sair do presídio, em dezembro do ano passado, decidiu morar no bairro Sapiranga, na Capital, em razão do domínio da facção criminosa carioca Comando Vermelho (CV) na região - como acontece no Município de Marco.

No sábado (1º) de manhã, Edneldo descobriu que uma vizinha "foi encontrada morta, enforcada por uma toalha", disse à Polícia. Porém, a Perícia Forense do Ceará (Pefoce) informou ao DHPP que não visualizou sinais de violência no corpo da mulher e que a causa da morte será determinada somente após a realização do exame de necrópsia.

O preso afirmou que "não conhecia nem a vítima do feminicídio e nem o autor do crime" e que "mostraram uma foto do suspeito e disseram que a mulher deixou três crianças pequenas órfãs, sendo um deles inclusive especial".

Que afirma que na 'emoção' pegou uma arma com um parente da vítima e foi para a oficina bem perto do Via Sul esperar para resolver a situação; que viu quando alguns homens vinham saindo do interior do Shopping segurando a vítima (autor do feminicídio) e confessa que mandou todo mundo se afastar e matou a vítima", revela o Termo de Interrogatório de Antônio Edneldo Pereira.

Em seguida, Edneldo disse que devolveu a arma para o familiar da mulher e viajou para a casa da sua família, em Marco, mas pretendia se entregar à Polícia, acompanhado por um advogado. O preso acrescentou que nunca tinha matado alguém até então e que está "arrependido de ter agido no calor da emoção, pois vai ficar ainda mais tempo longe do seu filho".

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Prisão em flagrante ilegal

A juíza Adriana da Cruz Dantas, da 17ª Vara Criminal - Vara de Audiências de Custódia, considerou que a detenção de Antônio Edneldo Pereira em Marco "não restou configurada nenhuma das hipóteses autorizadoras da prisão em flagrante" e decidiu relaxar a prisão em flagrante, "diante da ilegalidade na suposta situação de flagrância".

Segundo a decisão judicial, "o custodiado não foi preso cometendo ou acabando de cometer a infração penal; não foi perseguido logo após o cometimento da infração penal e preso no decorrer dessa perseguição; e, apesar de ter admitido que foi o autor dos disparos que mataram a vítima, a prisão foi efetivada quase dois dias depois da prática do ilícito".

Porém, a juíza acatou o pedido do Ministério Público para decretar uma prisão preventiva, pois "a periculosidade do representado decorre das circunstâncias fáticas relatadas no procedimento policial".

Conforme a magistrada, "o crime ocorreu em plena luz do dia (12h25min) e em local de intenso movimento de veículos e pedestres (em frente a um dos acessos ao Shopping Center Via Sul), não tendo o representado se importado com o fato da ação ser visualizada pelas pessoas que transitavam nas imediações, o que demonstra o intento homicida e o comprometimento com a execução da conduta delituosa".

A suposta prática deste crime, cuja gravidade é inegável, escancara a periculosidade social, a frieza, a índole violenta e o menosprezo à vida humana do representado, tornando-se imperiosa a custódia preventiva, com vistas a acautelar o meio social e assegurar a ordem pública", concluiu a juíza.

Outros presos pelo homicídio

O primeiro suspeito preso pela morte de Anderson Pereira da Silva foi Diógenes Balbino dos Santos, conhecido como 'Grandão', de 34 anos, no próprio sábado (1º) que aconteceu o crime.

'Grandão' aparece em filmagens obtidas pelo DHPP, conversando com outros suspeitos, antes do crime; acompanhando as agressões a Anderson Pereira da Silva e orientando os criminosos, dentro e fora do shopping. A blusa vermelha, que Diógenes utilizava no momento do crime - como mostram as imagens das câmeras -, foi apreendida pela Polícia como prova da sua participação no homicídio.

Ao ser interrogado pelos policiais civis, Diógenes dos Santos afirmou que não é faccionado e que não participou do crime. O suspeito admitiu que conhecia Anderson e que falou com ele antes do crime. Segundo Diógenes, a vítima contou que brigou com a companheira na noite anterior, mas não falou sobre a morte dela. 'Grandão' disse ainda que foi ao shopping para comprar um controle remoto e, ao ver a briga, pediu para os criminosos saírem do local "pois estava cheio de criança".

A defesa de Diógenes Balbino dos Santos, representada pelo advogado Bruno Leão Brito, enviou nota à reportagem em que sustenta que as acusações contra o cliente são frágeis: "É fundamental que a sociedade compreenda que a justiça deve ser pautada por provas concretas e não por suposições ou julgamentos precipitados".

Outros dois suspeitos foram detidos por força de mandados de prisão preventiva, na última quinta-feira (6). Epitácio Santos Silva, 30, e Rodrigo Nascimento de Souza, 27, renderam, agrediram e retiraram Anderson da Silva à força do Shopping Via Sul, antes dele ser baleado e morto.

As câmeras de segurança do shopping mostram que a ação criminosa assustou clientes e funcionários do Shopping Via Sul, no último sábado (1º). Após os tiros, houve correria e responsáveis por algumas lojas decidiram fechar as portas, por alguns minutos, por medo.

O Shopping Via Sul emitiu nota, após o crime, em que informou que "o incidente ocorreu em via pública e que as autoridades competentes já estão no local". "O shopping está prestando toda a colaboração às investigações e segue com o seu funcionamento normal".

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