Padrasto de criança morta na Rosalina seria o alvo do ataque da facção e enteado tentou ajudá-lo, aponta investigação
Três pessoas foram mortas no confronto entre facções criminosas. Quatro suspeitos foram presos em flagrante, por participação no tiroteio

As investigações da Polícia Civil do Ceará (PCCE) sobre o confronto entre duas facções, que deixou três mortos na comunidade da Rosalina, no bairro Parque Dois Irmãos, em Fortaleza, na última segunda-feira (10), apontam que o alvo inicial da empreitada criminosa foi baleado, mas não morreu. Ele seria o padrasto de um menino de 11 anos, que foi uma das pessoas mortas na ocasião.
Conforme documentos obtidos pelo Diário do Nordeste, baseados em depoimentos de testemunhas, o homem de 48 anos voltava do trabalho, por volta de 12h30, quando foi perseguido e baleado. Ele correu para casa e recebeu ajuda do enteado, de apenas 11 anos, para se esconder.
tiros foram efetuados contra o menino, que morreu dentro de casa. Segundo o perito forense, foram duas lesões a bala nas costas, duas na perna direita e outras duas no quadril.
O padrasto foi levado ferido ao hospital Instituto Doutor José Frota (IJF), no Centro de Fortaleza. Familiares afirmaram à Polícia que não sabem por qual motivo ele foi alvo de uma ação criminosa, pois não têm conhecimento de que ele foi ameaçado ou que brigou com alguém.
Outra vítima da ação criminosa, José Carlos Pereira do Nascimento, de 37 anos, sofreu 19 tiros - sendo oito na cabeça, seis nas costas, três no braço direito, um na perna e um no tórax. Segundo a Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social do Ceará (SSPDS), ele tinha passagens pela Polícia por tentativa de homicídio, roubo de veículo, ameaça, porte ilegal de arma de fogo e receptação. Familiares de José Carlos revelaram à Polícia que ele tinha deixado o presídio na "saidinha de Natal", mas não tinha voltado para cumprir o restante da pena.
A terceira vítima, um jovem do sexo masculino que não foi identificado, sofreu "múltiplas lesões a bala na cabeça, costas e membros", diz um relatório da Polícia Civil. Nenhum morador da comunidade da Rosalina o reconheceu, o que fez os investigadores acreditarem que ele integrasse o grupo criminoso que atacou a facção já instalada na região.
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Confronto entre facções criminosas
Três pessoas foram mortas e outras três ficaram feridas, no confronto entre duas facções criminosas, na Rosalina, na última segunda-feira (10). As investigações policiais apontam que o ataque inicial foi promovido pela facção cearense Guardiões do Estado (GDE), mas criminosos locais ligados à facção carioca Comando Vermelho (CV) revidaram, e houve um intenso tiroteio.
Suspeitos de integrar a GDE, Francisco Kelton Ferreira do Nascimento, de 29 anos, Joel Marques de Nascimento, 25, e Antônio Wesley Lopes Santos, 22, foram presos em flagrante, enquanto fugiam em um carro de um contador, que foi feito refém e obrigado a dirigir para o trio. Com eles, foram apreendidas três armas de fogo.
Ao serem interrogados pela Polícia Civil, Francisco Kelton e Antônio Wesley preferiram se manter em silêncio. Já Joel Marques - que foi baleado de raspão na coxa - disse aos investigadores que ele e amigos foram atacados a tiros e precisaram correr para um matagal para se esconderem. E afirmou que "só abordaram o carro para sair do local", mas eles não conheciam o motorista.
Joel, conhecido como 'Gaspar', contou que estava frequentando a Rosalina desde que foi solto, em novembro do ano passado, mas, com o ataque criminoso sofrido na última segunda (10), acredita que foi "expulso" pela facção que domina a região. Sobre as armas que ele e os amigos usavam, garantiu que era apenas "para se defender".
Além do padrasto do menino de 11 anos e de Joel, também ficou ferido Antônio Livino Cardoso do Nascimento - baleado na barriga - apontado como integrante do CV e suspeito de participar do tiroteio. Ele procurou o hospital Frotinha da Parangaba para receber atendimento médico e, depois, foi preso. Na sua residência, a Polícia apreendeu três armas de fogo, munições e material utilizado no tráfico de drogas.
Em interrogatório no DHPP, Antônio Livino negou que integra facção e que participou do tiroteio. Ele alegou que trabalha como motorista de aplicativo em uma motocicleta alugada e que já ia começar a trabalhar, quando sofreu um tiro na barriga, enquanto andava próximo de casa. O suspeito também teve a prisão preventiva decretada pela Justiça, em audiência de custódia.
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Participação na Chacina das Cajazeiras
Joel Marques de Nascimento, preso por participação no ataque criminoso na Rosalina, é o nome verdadeiro de Joel Anastácio de Freitas - réu no processo da Chacina das Cajazeiras. Em audiência de custódia realizada na última terça-feira (11), a Justiça descobriu que ele tinha um registro tardio de nascimento.
Joel, conhecido como 'Gaspar', foi pronunciado (isto é, deve ser levado a julgamento, por decisão da Justiça), no dia 11 de maio de 2023, por ser um dos executores da matança que deixou 14 vítimas, em uma festa no Forró do Gago, no bairro Cajazeiras, em Fortaleza, na madrugada de 27 de janeiro de 2018. Ele recorreu da decisão judicial.
Conforme a denúncia do Ministério Público do Ceará (MPCE) contra 15 acusados de participarem da Chacina, o ataque criminoso foi praticado por integrantes da facção cearense Guardiões do Estado (GDE) e o alvo era uma festa que seria reduto de criminosos rivais ligados à facção carioca Comando Vermelho (CV).