Motociclista vai a júri por morte de universitário que caiu da garupa em perseguição no Benfica
O motociclista confessou ter percebido que o passageiro caiu quando ele ultrapassou o sinal vermelho, em um cruzamento com a Avenida 13 de Maio
A Justiça decidiu levar a júri popular o motociclista Wenderson Jhemerson Silva Muniz, denunciado pela morte do universitário João Victor Fontenele Eloia, de 21 anos. Wenderson foi pronunciado nessa terça-feira (24), pelo Juízo da 2ª Vara do Júri de Fortaleza e segue respondendo ao processo em liberdade. O acusado nega que teve intenção de matar a vítima.
João Victor estava na garupa do denunciado e prestes a desembarcar rumo à faculdade, no bairro Benfica, quando caiu da moto e foi atropelado por um ônibus. O motociclista confessou que percebeu que o passageiro caiu quando ele ultrapassou o sinal vermelho, em um cruzamento com a avenida 13 de Maio, mas decidiu não parar para prestar socorro para continuar perseguindo outro motociclista com quem havia iniciado discussão momentos antes.
A informação consta na denúncia enviada pelo Ministério Público do Ceará (MPCE) à Justiça e obtida pela reportagem. "O réu confessou que, mesmo com a vítima/passageiro na garupa, ultrapassou o sinal vermelho na tentativa de 'pegar' o motociclista com quem estava discutindo, chamando atenção sua afirmação de que 'só percebeu que o passageiro havia caído da moto quando ela balançou' e que 'não prestou socorro porque decidiu por perseguir o indivíduo que estava na outra moto'".
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Segundo o juiz, a decisão de o acusado ser julgado por populares não se trata de afirmar que "as teses defensivas não sejam verdadeiras, apenas que, havendo a presença da materialidade e indícios suficientes de autoria como relatado na peça inicial, e que as teses defensivas não se apresentando de forma escorreita de dúvida nessa fase, a pronúncia é o caminho a ser seguido".
O magistrado destaca que não há pedido de prisão cautelar para Wenderson. A data do julgamento ainda não foi marcada e a defesa do denunciado não foi localizada pela reportagem.
TRANSPORTE DE PASSAGEIRO
O MP disse também que o denunciado descumpriu regras de trânsito e ignorou a responsabilidade em transportar o passageiro em segurança. Wenderson teria agido com desprezo ou desconsideração à vida da vítima, conduzindo a motocicleta em alta velocidade, discutido com outro motociclista e avançado semáforo vermelho.
À Polícia, Wenderson disse que fugiu da cena para "capturar" o piloto da segunda moto e trazê-lo ao local do acidente, mas não conseguiu, pois o veículo do outro era "mais potente". Ele relatou que não voltou para prestar socorro por "medo da população".
Há ainda informação que percebendo o contexto de perigo, João Victor chegou a pedir para o motociclista parar o veículo para ele descer. O pedido, no entanto, teria sido ignorado pelo réu, que decidiu avançar o sinal fechado e continuar a perseguição.
DISCUSSÃO NO TRÂNSITO
A briga teria sido iniciada pelo próprio réu, conforme os promotores, com base em relatos das testemunhas. Wenderson também já estaria dirigindo de maneira perigosa, em alta velocidade, antes mesmo do início da discussão.
"Os relatos são no sentido de que, já durante o percurso, o réu passou a trafegar em alta velocidade. E que, quando trafegava na Rua Marechal Deodoro, nas proximidades do restaurante Caicó, chegou a encostar levemente no guidão de outra motocicleta que estava em um semáforo. Em razão desse fato, iniciou-se uma discussão entre o réu e esse outro motociclista ainda não identificado, tendo o réu agredido o outro motociclista com um 'tapa no peito' e 'dedo na cara', 'falando muito alto'", evidenciou a denúncia.
Wenderson, por sua vez, argumenta que, na verdade, foi incitado pelo outro motociclista, que o condutor da outra moto o "trancou" várias vezes até a altura de um posto de combustíveis que fica na Marechal Deodoro e que, no local, chutou seu veículo, atingindo ele e o passageiro, e os ameaçou.