Milícia no Nordeste: quem são os policiais do CE e vereador presos em operação da Polícia Federal
Os mandados de prisão e busca e apreensão foram emitidos pela Vara Criminal da Comarca de Salgueiro, no Pernambuco
Policiais militares do Ceará estão entre os alvos da operação deflagrada pela Polícia Federal, nessa quarta-feira (12), com intuito de desarticular um esquema de milícia e grupo de extermínio atuante no Nordeste. A PF cumpriu 16 mandados de prisão temporária e 17 mandados de busca e apreensão.
Dentre os detidos também está Aurélio França, vereador da Câmara Municipal de Parnamirim (PE). O Judiciário pede a suspensão do exercício do mandato do político. O Diário do Nordeste apurou que dois agentes do Estado do Ceará foram presos durante as diligências: os soldados José Horlandio Dantas Moreira e Fellipe Henrique da Silva Santos.
Os militares dois têm antecedentes criminais. José Horlandio é réu na Justiça cearense por extorsão e incêndio criminoso, enquanto Fellipe responde por disparo em via pública.
Os mandados de prisão e busca e apreensão foram emitidos pela Vara Criminal da Comarca de Salgueiro, no Pernambuco. Para José Horlandio não havia mandado de prisão. No entanto, ele foi preso em flagrante na mesma operação, por porte ilegal de arma de fogo, quando os agentes faziam buscas na casa de um dos alvos da operação, conforme fontes ouvidas pela reportagem.
No Ceará, os mandados foram cumpridos nas cidades de Brejo Santo, Crato e Porteiras. Em Pernambuco, houve ações em Serra Talhada, Salgueiro, Ouricuri, Belém de São Francisco e Parnamirim. Não foram localizadas as defesas dos investigados
Entre os investigados, pelo menos 11 deles possuem Certificado de Caçador, Atirador Desportivo e Colecionador (CAC).
INVESTIGAÇÕES
Segundo a investigação, o grupo teria participado de pelo menos oito homicídios. Conforme documentos obtidos pela reportagem uma das mortes supostamente praticadas pelo grupo de extermínio ocorreu na cidade do Crato.
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Trata-se de um caso de janeiro de 2022. José Natanael de Lima, de 22 anos, foi surpreendido por dois homens armados e morto a tiros, na própria casa.
"Durante as investigações, amparados por decisão judicial que decretou a quebra de sigilo de dados telefônicos e telemáticos, a autoridade policial concluiu pela existência de organização miliciana, composta por 19 (dezenove) indivíduos, requerendo busca domiciliar, prisão temporária, suspensão do exercício de função pública, apreensão de armas de fogo, identificação criminal/genética, sequestro de ativos, utilização de prova emprestada, compartilhamento de provas e levantamento de sigilo"
Também consta na decisão proferida pela Vara Criminal da Comarca de Salgueiro e obtida pela reportagem que "os representados são apontados como supostos integrantes de associação miliciana para cometimento de homicídios e outros crimes violentos, em atividade típica de grupo de extermínio na região do sertão nordestino, tendo como epicentro a cidade de Salgueiro/PE, abrangendo outras cidades do estado de Pernambuco (inclusive em outras unidades federativas, como Ceará), tendo sido detectado que um grupo composto por policiais e pistoleiros vem compondo milícias privadas conectadas, nas quais alguns integrantes praticam diretamente (autores materiais) diversos homicídios dolosos, seja em razão de promessa de pagamento ou pelo estabelecimento de poder político e temor perante a população, garantindo a impunidade e violando gravemente os Direitos Humanos".
A Justiça ainda ordenou o compartilhamento de todo o banco de material biológico e datiloscópico colhido nos locais de crimes, estojos e munições deflagradas apreendidas e ofícios à Delegacia Geral de Polícia Civil dos Estados de Pernambuco, Ceará, Piauí e Paraíba e perícia dos estados de Pernambuco e Ceará.
Foram decretadas as prisões para:
- Ewerton Pablo de Souza (preso anteriormente no Ceará, em 2016, pela morte de um policial militar)
- Aurélio França Vieira
- Jocéllio Alves Vasconcelos
- Luciano José Novaes Bezerra
- Ailton Bartolomeu do Nascimento
- Fellipe Henrique da Silva Henrique
- Josias Manoel da Silva Júnior
- Daniel José de Sá
- Ranilson Rosendo da Silva
- Hidelbrando Vidal Júnior
- Lucas Neryvan Gonçalves de Moura Novais
- Fernando Luiz Vidal
- Carlos Antonio Fernandes da Silva
- Erivonaldo Antonio da Silva Magalhães
- Claudemício Cícero da Silva Júnior
- Paulo de Souza Demétrio
- Janio Antonio da Silva
- Carlos Daniel Alves Bezerra
- Romualdo Borgenes Noronha Neto da Silva
EXTORSÃO E INCÊNDIO
O incêndio criminoso pelo qual José Horlandio foi denunciado aconteceu em 20 de fevereiro de 2020, durante motim de PMs, no Ceará. O carro de uma vítima foi incendiado depois que ela compartilhou comentário nas redes sociais se posicionando contra o movimento paredista.
Pelas câmeras de segurança, a Polícia constatou que Horlandio teria participado da ação criminosa.
Outra ação a qual ele responde é por um caso de extorsão, em 2021. A Controladoria Geral de Disciplina dos Órgãos de Segurança Pública e Sistema Penitenciário (CGD) instaurou conselho de disciplina para apurar a conduta de três policiais militares, incluindo o soldado, que teriam cobrado R$ 150 mil de um homem para não matá-lo.
Os suspeitos foram presos no Crato. A vítima teria sido abordada por quatro PMs e levada a um loteamento na Vila São Bento, na região do Cariri.
DISPARO EM VIA PÚBLICA
Fellipe Henrique da Silva Santos foi preso em flagrante no dia 19 de dezembro de 2019. Segundo denúncia do MP, o soldado estava dirigindo seu veículo, quando foi surpreendido por outro carro no momento em que ambos faziam um retorno e 'travaram' na curva, não colidindo por pouco.
Houve perseguição e o praça teria efetuado disparos em via pública. Ele se apresentou na delegacia e entregou a arma de fogo. No local, foi autuado em flagrante e confirmou "que realizou um disparo para o alto".