Justiça torna guru espiritual réu, mas nega pedido de prisão

O MPCE acusou 'Ikky' por violação sexual mediante fraude, crime sexual para controlar o comportamento social ou sexual da vítima, charlatanismo e curandeirismo

Escrito por Jéssica Costa e Messias Borges , seguranca@svm.com.br
Legenda: Guru espiritual tornou-se réu pela segunda vez, agora por crimes sexuais praticados contra duas adolescentes

A 15ª Vara Criminal de Fortaleza, da Justiça Estadual do Ceará, aceitou a denúncia do Ministério Público do Ceará (MPCE) contra o guru espiritual Pedro Ícaro de Medeiros, o 'Ikky', o que o tornou réu no processo. Mas o juiz recusou o pedido de prisão preventiva contra o acusado.

As informações foram confirmadas pelo Ministério Público, que acrescentou que irá recorrer da negativa da prisão. O MPCE acusou 'Ikky' por violação sexual mediante fraude, crime sexual para controlar o comportamento social ou sexual da vítima, charlatanismo e curandeirismo, na última sexta-feira (24).

O acusado é estudante de Filosofia e apontado como o criador da Comunidade Afago, onde teria abusado sexual, físico e psicologicamente de jovens de aproximadamente 20 anos, entre 2018 e 2019, em Fortaleza.

Crimes teriam ocorrido na Comunidade Afago, entre 2018 e 2019
Legenda: Crimes teriam ocorrido na Comunidade Afago, entre 2018 e 2019
Foto: Reprodução

A defesa de 'Ikky', representada pelo advogado Klaus Borges, informou que ainda não teve acesso ao processo. "Pelo que a gente sabe, a denúncia foi feita em relação a charlatanismo, curandeirismo e a fraude sexual. O que corrobora com a nossa tese de que não tinha tido estupro e estelionato", afirma.

"No processo, a gente vai ter a chance de juntar mais provas, para que nem o restante das acusações se sustentem", completa Borges.

A acusação do MPCE foi feita após a conclusão de um inquérito policial pelo 26º DP (Edson Queiroz), da Polícia Civil do Ceará (PCCE). Até a última segunda-feira (27), os investigadores tinham ouvido 18 pessoas sobre o caso. 'Ikky' também compareceu à Delegacia, no dia 22 de julho último, para prestar esclarecimentos.

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Vítimas relatam crimes sexuais e até estelionato

Os depoimentos das vítimas começaram a ser coletados na Polícia Civil no dia 16 deste mês, segundo a advogada Thayná Silveira, que acompanhou os jovens. O caso veio à tona após reportagem do programa Fantástico, da TV Globo, exibida no último dia 19 de julho.

“Ele (Ícaro) pegou esses jovens que estavam querendo pertencer a alguma coisa, que estavam em busca de cura de traumas sexuais, de traumas familiares e as manipulou”, afirmou a advogada.

“Não só pra mim, mas para uma roda de pessoas, ele dizia muitas vezes que o p... (órgão sexual) dele era mágico”, disse uma vítima do sexo masculino. Outro homem afirmou que Ikky o obrigou a ter relações sexuais. “Eu estava chorando, sangrando e eu esperava dele um pouco de humanidade. O que ele fez foi tirar minha blusa e colocar minha blusa na minha boca para que parasse de chorar e ele pudesse continuar”.

Já uma mulher, também de identidade preservada, comentou os impactos negativos em sua saúde mental após as vivências no lugar. “Eu entrei na Afago já num momento frágil psicologicamente. E fui ficando cada vez mais frágil e culminou numa crise de depressão muito intensa”.

As acusações também miram a prática de estelionato. Segundo a recepcionista Pamela Magalhães, a única a mostrar o rosto em entrevista ao Fantástico, “a cada semestre ele aumentava o valor desses cursos, tanto que quando eu entrei era R$50 e quando eu saí um determinado curso já era R$ 1.500”.

Outro aluno disse que ao fim do ciclo de aulas, não houve a entrega do certificado. A gente não teve nenhum tipo de certificado, mesmo tendo sido prometido que nós seríamos certificados e poderíamos atuar como terapeutas”.

Acusado nega os crimes

Ao Fantástico, Ícaro disse que no começo deste ano registrou Boletim de Ocorrência alegando ser vítima de calúnia e difamação por parte de pessoas que deixaram a comunidade. O suspeito negou as acusações de estupro, segundo ele, houve relações sexuais com alguns homens, mas elas eram consentidas.

“Muitas das acusações foram racistas, para ser honesto. Não me chamavam só de mago negro, de magia negra. Eles falavam realmente que eu era um fascista. Houve crimes com relação a isso: a eu ser homem, ser negro e ser gay", contou Ícaro ao telefone acrescentando que só participavam dos rituais pessoas que se apresentavam espontaneamente, contestou Ícaro.

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