Jovem denuncia assédio sexual de médico em hospital particular na Aldeota; suspeito nega crime

Vítima publicou a denúncia em suas redes sociais e registrou o boletim de ocorrência no 2º DP, que está à frente das investigações. Caso é apurado como "importunação sexual". Suspeito nega crime

Escrito por Luana Severo , luana.severo@svm.com.br
Polícia Civil
Legenda: O caso está sendo investigado pelo 2º Distrito Policial, no Meireles
Foto: Divulgação/PCCE

"Nossa, você me deu um tesão agora". Quando disse ter ouvido isso do médico J. M. M. S., assim que entrou no consultório dele para conseguir um simples preenchimento de formulário para um intercâmbio, Jennyfer Dib Jordão, 25, não acreditou.

Como relatou em boletim de ocorrência, por estar desconfortável, ela alegou que preferiu ficar quieta. O profissional, porém, supostamente insistiu, segundo a vítima: perguntou a idade dela, onde morava, a orientação sexual, se estava a fim de uma "aventura" e se já havia feito sexo a três. Além disso, ele teria insinuado que queria que os dois tivessem relações íntimas em seu carro.

O ato, ainda conforme o relato da jovem, aconteceu em um consultório no Hospital Aldeota, pertencente à rede Hapvida, na tarde da última segunda-feira (6). A ocorrência foi registrada pela vítima — na companhia da mãe — na noite daquele mesmo dia, no 2º Distrito Policial, no Meireles, e é investigada como "importunação sexual" pela delegacia. "O caso está a cargo do 2º DP, que realiza oitivas e diligências com o intuito de elucidar os fatos", confirmou, em nota, a Polícia Civil do Ceará (PC-CE).

Trecho de Boletim de Ocorrência registrado pela vítima
Legenda: Trecho do boletim de ocorrência registrado pela vítima no 2º DP
Foto: Reprodução

No B.O registrado por Jennyfer, ao qual o Diário do Nordeste teve acesso, a jovem narra as interações com o médico e desabafa que, ao perceber as intenções dele, tentou desconversar e fugir das abordagens maliciosas — rindo de maneira desconfortável, respondendo como se não tivesse entendido o intuito do profissional ou cortando o assunto —, mas, sem sucesso. Por fim, mesmo após as negativas, J. M. M. S. teria, supostamente, repetido que estava com "tesão", e dito à vítima: "Isso não pode sair daqui, hein?".

A vítima ainda relatou: "Assim que me dei conta do que havia acontecido, eu postei [nas redes sociais]. Para [outras possíveis vítimas] terem cuidado". A publicação, segundo ela, teve mais de mil visualizações em seu perfil no Instagram, incluindo de pessoas da área da medicina que ela não conhecia. "Minha maior intenção com isso foi divulgar para que as vítimas apareçam sem medo. Eu já dei o pontapé, que foi denunciá-lo", afirmou.

Uma das mensagens que Jennyfer recebeu foi de uma mulher que se identificou como professora na Universidade Federal do Ceará (UFC), onde o suspeito estudou. Na conversa, à qual a reportagem também teve acesso, ela contou à vítima que o médico, inclusive, já teria, supostamente, assediado uma mulher gestante. Em outra mensagem, uma pessoa disse que o profissional assediou uma colega de trabalho que, segundo a denúncia, teve de trocar de escala para não esbarrar mais com ele. Essas fontes pediram sigilo da identidade.

Procurada pela reportagem, a rede Hapvida informou, em nota, ter afastado o denunciado. "Combater qualquer tipo de assédio é parte do compromisso da empresa de levar uma assistência segura e de qualidade. Logo que a operadora soube do ocorrido, afastou o médico do atendimento, ouviu a paciente e sua mãe, bem como abriu uma sindicância para apuração do caso. A empresa informa que está em contato com a paciente e vai colaborar com as autoridades para o esclarecimento do caso".

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Médico apareceu durante depoimento da vítima à Polícia

Depois de publicar a história nas redes sociais, Jennyfer e sua mãe foram ao 2º DP registrar o caso em um boletim de ocorrência. A vítima, no entanto, foi surpreendida com a presença do agressor no local, que teria entrado na delegacia acompanhado da advogada, no momento em que as duas aguardavam na recepção.

"Eu entrei em pânico. Falei: 'Mãe, ele está aqui, ele está aqui, ele está aqui'. Eu comecei a me tremer, ia chorar. Nisso, a minha mãe começou a falar: 'É ele, o assediador'. Aí, o cara que estava pegando o meu depoimento levou ele até a sala do delegado", relatou a vítima. Ela, depois, foi embora, e não teve mais contato com o suspeito. "Ele ficou em choque ao me ver. Ficou boquiaberto. A reação de uma pessoa que não imaginava que eu fosse fazer uma denúncia", acrescentou Jennyfer.

A vítima também abriu denúncia contra o médico no Conselho Regional de Medicina do Ceará (Cremec), onde o profissional está em situação cadastral regular, mas ela não recebeu prazo para retorno. O Diário do Nordeste também tentou contato com o órgão, mas não teve resposta.

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Suspeito é recém-formado

De acordo com o cadastro do Cremec, o médico está inscrito no órgão desde julho do ano passado. Ele, no entanto, ainda não tem especialidade registrada, e não autorizou o compartilhamento de endereço e de telefone para contato.

Em outros registros encontrados na Internet, é possível saber que o suspeito também trabalhou como cooperado na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Centro de Caucaia, na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF), em agosto de 2023. Há, ainda, ao menos nove processos envolvendo o nome dele no Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG) e no Tribunal Regional Federal da 5ª Região (TRF5) — a maioria, porém, no âmbito do direito trabalhista, administrativo ou relacionado ao direito do consumidor.

Defesa nega assédio

Em nota enviada ao Diário do Nordeste, os advogados de defesa do suspeito disseram que o médico "nega veemente qualquer acusação, não tendo cometido qualquer conduta ilícita no exercício da profissão de médico ou fora dela, afirmando a sua absoluta inocência".

A defesa afirmou ainda: "Em verdade, quando na condição de médico, este sempre atuou pautando-se pela ética médica, pelo respeito e pela cordialidade para com os seus pacientes e pares de trabalho, jamais cometendo qualquer desvio ético ou infração penal, dentro da sua profissão. Da mesma forma, em sua vida privada, não há nada que desabone a sua boa conduta", continuaram. 

No documento, os advogados afirmam ainda que "qualquer tipo de acusação contra o Sr. J. M. M. S. será devidamente apurada, sob o crivo dos princípios constitucionais do contraditório e da ampla defesa, ambos inscritos na Constituição Federal no art. 5º, inciso LV1, pois este já está à disposição das autoridades competentes, com o fim de esclarecer todo o ocorrido e provar a sua inocência de quaisquer acusações".

 

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