Delegado afastado é denunciado por quatro vítimas, mas não foi autuado por nenhum dos crimes

O delegado plantonista homologou a prisão do suspeito apenas por dirigir automóvel sob efeito de álcool

Escrito por Messias Borges , messias.borges@svm.com.br
Agressão contra mulher foi registrada por populares em Aurora
Legenda: Agressão contra mulher foi registrada por populares
Foto: Reprodução/Redes sociais

Quatro vítimas denunciaram o delegado Paulo Hernesto Pereira Tavares, da Polícia Civil do Ceará (PC-CE), por crimes cometidos durante uma confusão, no Município de Aurora, na Região do Cariri, na manhã do último sábado (11). Entretanto, o servidor público não foi autuado por nenhum desses delitos.

Entre as vítimas que compareceram à delegacia, estão um adolescente e um advogado. A mulher agredida pelo delegado, como mostram vídeos que circulam nas redes sociais, não consta como uma das vítimas do Inquérito Policial instaurado no sábado (11), o qual o Diário do Nordeste teve acesso.

Veja o vídeo da agressão à mulher:

O delegado plantonista da Central de Procedimentos Digitais, da Polícia Civil, homologou a prisão do suspeito apenas pelo crime de dirigir automóvel sob efeito de álcool, previsto no Código de Trânsito Brasileiro (CTB). Paulo Hernesto foi solto na noite de sábado (11), após pagar fiança no valor de R$ 6,6 mil. O servidor público foi afastado das funções, por determinação do governador Elmano de Freitas.

"Cumpre ressaltar que outros elementos indiciados para as demais condutas, em tese, criminosas, imputadas ao Flagranteado, carecem de aprofundamento investigatório, tendo em vista as alegações do investigado de agir sobre o manto das excludentes de ilicitude previstas no Artigo 25 do CPB, dentre outros que se fizerem necessários para a formação de convencimento da Autoridade Policial com atribuição legal para prosseguir no apuratório", considerou o delegado plantonista, sobre a possibilidade de cometimento de outros crimes pelo delegado preso.

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Relato das vítimas à Polícia

Uma das vítimas que compareceu à delegacia é um adolescente de 16 anos, que contou à Polícia Civil que estava em uma motocicleta, indo para a casa da namorada, quando um carro o fechou e um homem já desceu o xingando. O jovem fugiu, houve uma perseguição, e os veículos colidiram. O delegado desceu do carro de novo, pegou o adolescente pela camisa e disse que "ele não deveria ficar fazendo aquelas coisas na cidade", na versão da vítima.

A segunda vítima, um homem de 47 anos, disse que passava pelo local em um carro, quando uma mulher pediu socorro. Ele foi verificar a situação, e Paulo Hernesto teria proferido "palavras difamatórias injuriosas", motivo pelo qual ele se sentiu ameaçado.

Outro homem, de 32 anos, que também passava pela confusão, disse à Polícia Civil que tentou acalmar os ânimos dos envolvidos, mas foi agredido com um tapa pelo delegado, motivo pelo qual desejaria "representar criminalmente".

Um advogado, de 42 anos, foi acionado para representar pessoas envolvidas na confusão. Mas, ao chegar na delegacia, ele afirmou que foi encurralado pelo suspeito, que o chamou de "advogado de bandido" e "que não passava de um capador de cachorro".

A quarta vítima ainda se sentiu ameaçada, quando o delegado preso perguntou se ele já tinha andado em uma viatura policial e, ao receber resposta negativa, disse que "na próxima semana você vai andar em um passeio conturbado".

Um policial militar que atendeu a ocorrência ainda depôs à Polícia Civil que o suspeito disse que ele não deveria estar atuando daquela forma e que tomasse cuidado. O delegado preso ainda teria dito que o Batalhão de Policiamento de Rondas e Ações Intensivas e Ostensivas (BPRaio) acabou em Aurora e que, qualquer ocorrência que o PM levasse para a delegacia, ele entenderia como abuso de autoridade, segundo o militar.

A versão do delegado preso

Em depoimento, o delegado preso negou uso de álcool e contou que a confusão começou no momento em que ele - mesmo de folga - decidiu abordar um adolescente suspeito de cometer crimes em Aurora e houve uma colisão entre os veículos de ambos. 

Sobre as agressões que foi acusado, Paulo Hernesto disse que agiu para se defender de pessoas que também o agrediram. O suspeito ainda negou ter desacatado os policiais militares ou ofendido verbalmente outras pessoas.

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