De extorsão à organização criminosa: PMs acusados de se aliarem ao narcotráfico no Ceará são absolvidos
Outros dois policiais militares foram condenados. Saiba quem são os agentes
Os policiais militares Tony Cléber Pereira de Souza e Vinícius André de Sousa, sargento e soldado, respectivamente, foram absolvidos nas searas criminal e administrativa. A dupla era acusada de integrar esquema denunciado pelo Ministério Público do Ceará (MPCE) composto por agentes da Segurança Pública e informantes "envolvidos com a narcotraficância e extorsão".
Na última sexta-feira (10), a Controladoria Geral de Disciplina (CGD) publicou no Diário Oficial do Estado (DOE) que deixou de acatar relatório e absolveu a dupla, assim como arquivou o processo movido em desfavor do sargento Edvaldo da Silva Cavalcante, que teve a extinta a punibilidade em razão da sua morte ao decorrer da ação.
No último dia 18 de dezembro, Tony e Vinícius foram inocentados em decisão proferida na Vara da Auditoria Militar do Estado do Ceará. Na mesma sentença, foram condenados os PMs Auricélio da Silva Araripe e Paulo Rogério Bezerra do Nascimento.
Auricélio recebeu pena de 61 anos e um mês de prisão, sendo condenado pelos crimes de extorsão, peculato, concussão, corrupção passiva, tráfico de drogas e integrar organização criminosa. Já Paulo teve pena de seis anos e oito meses, por extorsão. Ambos já tinham sido condenados em outros processos criminais, também a partir de denúncias que resultaram em fases da Operação Gênesis.
Auricélio e Paulo também foram condenados à perda da graduação na Corporação e tiveram prisões preventivas decretadas. A reportagem não localizou as defesas dos denunciados
Ainda sobre Auricélio, o juiz da Vara da Auditoria Militar do Ceará disse que "o acusado esteve sempre no planejamento e execução dos crimes, sendo que um deles a vítima foi repassada de uma composição para outra, e no outro envolveu apreensão de droga que iria para o presídio, com evidências de conduta planejada e contumaz, revelando certa organização. Dolo intenso e meios empregados e modo de execução com destaque, merecendo maior reprimenda".
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PROVAS INSUFICIENTES
Tony Cléber e Vinícius André foram absolvidos "das imputações por não haver prova suficiente para a condenação". Eles foram acusados de crimes, como: corrupção passiva, extorsão e por integrar organização criminosa.
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Na denúncia constava que Auricélio tinha ajuda direta da dupla inocentada "na proteção de narcotraficantes de diversas áreas da cidade de Fortaleza para que esses ficassem fora dos olhos do Estado e assim pudessem praticar o tráfico de drogas de forma livre e desembaraçada, mediante recebimento de dinheiro, como citado acima, quase sempre de forma semanal".
A exigência de vantagens indevidas acontecia sob extorsão e peculato, "mediante ajuda de informantes, das vítimas abordadas, essas escolhidas por terem maiores condições financeiras e ainda problemas com a Justiça e sob o pretexto de não serem presas em flagrante delito", segundo o MPCE.
Todos os policiais foram alvos da 8ª fase da Operação Gênesis. Em 2022, reportagem do Diário do Nordeste teve acesso à denúncia, que detalhava como os militares se aliaram a traficantes. Em um dos casos supostamente protagonizados pelos denunciados, os PMs interceptaram uma mulher na rodoviária de Fortaleza, que estava em posse de R$ 7 mil e sete quilos de cocaína.
FICHA EXTENSA
De acordo com o Grupo de Atuação Especial de Combate às Organizações Criminosas (Gaeco), a ação dos criminosos aconteceu, principalmente, de março a agosto de 2017. A organização seria encabeçada pelo sargento Auricélio e "integrada por agentes lotados em diferentes Batalhões na Capital". As autoridades passaram meses apurando o esquema até denunciar os investigados, em maio de 2022.
Em agosto do ano passado, Auricélio e Paulo já tinham sido condenados e punidos com a perda do cargo público. Somadas, as penas chegavam a 15 anos de prisão. Dono de uma extensa ficha criminal, em 2020, Auricélio já tinha sido expulso da Corporação.