Como seis policiais militares se aliaram ao narcotráfico no Ceará; MP denuncia esquema

A reportagem do Diário do Nordeste teve acesso à denúncia, que detalha como os PMs agiam

Escrito por Emanoela Campelo de Melo , emanoela.campelo@svm.com.br
gaeco
Legenda: Conforme o Gaeco, a ação dos criminosos aconteceu, principalmente de março a agosto de 2017.
Foto: Reprodução

Da extorsão ao tráfico de drogas. O Ministério Público do Ceará (MPCE) afirma ter desvendado mais um esquema criminoso envolvendo policiais militares que, segundo o órgão, se valiam da função de agentes da Segurança Pública para alavancar o narcotráfico no Estado. "Interceptações telefônicas identificaram uma teia de corrupção policial, onde narcotraficantes eram utilizados como informantes", diz o MP.

Os sargentos Auricélio da Silva Araripe, Tony Cleber Pereira de Souza, Edvaldo da Silva Cavalcante e Paulo Rogério Bezerra do Nascimento; o tenente Antônio Marciano Mota dos Santos; e o soldado Vinícius André de Sousa, foram denunciados por crimes, como extorsões, corrupção passiva, peculato e tráfico de drogas. Todos eles foram alvos da 8ª fase da Operação Gênesis.

A reportagem do Diário do Nordeste teve acesso à denúncia, que detalha como os militares se aliaram a traficantes. Em um dos casos supostamente protagonizados pelos denunciados, os PMs interceptaram uma mulher na rodoviária de Fortaleza, que estava em posse de R$ 7 mil e sete quilos de cocaína. A busca pela traficante não teve como finalidade prendê-la, mas sim pegar parte do valor em espécie, em troca de ela ser liberada para enviar a droga até um dos presídios da Região Metropolitana.

FUNÇÕES BEM DEFINIDAS

De acordo com o Grupo de Atuação Especial de Combate às Organizações Criminosas (Gaeco), a ação dos criminosos aconteceu, principalmente de março a agosto de 2017. A organização seria encabeçada pelo sargento Auricélio da Silva, dono de uma extensa ficha criminal, e "integrada por agentes lotados em diferentes Batalhões na Capital".

As autoridades passaram meses apurando o esquema. Em maio de 2022, os seis militares foram denunciados. Cada policial tinha função pré-definida para um funcionamento orquestrado do bando.

VEJA:

  • Auricélio da Silva Araripe contava com o apoio direto de Tony Cleber Pereira de Souza e Vinicius André de Sousa, para protagonizarem os crimes.
  • Edvaldo da Silva Cavalcante era responsável por identificar e apontar alvos que pudessem dar maior lucro ao grupo

  • Francisco Elvis Magalhães de Souza, Elvigênio de Sousa França, Antônio Marciano Mota dos Santos e Alexandre Raidson Magalhães de Sousa ficavam com a abordagem direta às vítimas, utilizando-se do aparato policial, como viaturas, armas e farda.

  • Paulo Rogério Bezerra do Nascimento prestava apoio e atuava apenas quando mobilizado pelo chefe do bando.

"Auricélio e seus comparsas costumavam tomar das vítimas tudo o que tivessem de valor, como carros, relógios, sons ou outros pertences policiais, até mesmo armas de fogo e drogas ilícitas"
Gaeco

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A reportagem localizou a defesa do soldado Vinícius, representada pelo advogado Kaio Castro. Ele informou que a "defesa teve acesso somente ao que a acusação enviou no processo. Não sabemos nem mesmo se há fundamentação para o ingresso do meu cliente na investigação. Aguardaremos o teor da integralidade e apresentaremos a defesa".

ATUAÇÃO DOS ACUSADOS

O promotor de Justiça Adriano Saraiva, integrante do Gaeco, afirma que os PMs "tinham duas frentes de atuação". A primeira, para garantir o tráfico de drogas em determinadas áreas da cidade, onde os policiais recebiam dinheiro de narcotraficantes para que não fiscalizassem a contento as atividades criminosas, e "assim o comércio de drogas ficasse livre dos olhos do Estado".

"A segunda frente era na atuação direta das extorsões e do peculato. O informante levantava alvos em potenciais, traficantes com certa capacidade financeira e com histórico criminal, marcavam um encontro, e os policiais faziam a abordagem com uma viatura, para dar ares de legalidade. Além da extorsão, na subtração de objetos de crimes, eles ainda levavam os pertences da pessoa, o que configura peculato", acrescentou o promotor.

Nas oito fases, a Operação Gênesis visou cumprir 99 mandados de prisão preventiva, além de 106 mandados de busca e apreensão, expedidos pela Vara de Delitos de Organizações Criminosas e pela Vara da Auditoria Militar do Estado do Ceará. Os alvos das ordens judiciais foram agentes de segurança, ex-policiais e traficantes.

 

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