Cortejo, grito de guerra e buzinaço marcam velório de motorista de aplicativo

José Hilker Assunção de Sousa, 28 anos, teve o corpo queimado por criminosos durante assalto. Ele morreu no sábado (5), após 14 dias internado no IJF. Motoristas de aplicativos relataram medo e revolta por insegurança da categoria

Escrito por Redação ,
Legenda: Dezenas de carros fizeram cortejo com buzinaço em homenagem ao motorista de aplicativo morto
Foto: Darley Melo

Homenagem e revolta marcaram o velório de José Hilker Assunção de Sousa, 28 anos, motorista de aplicativo que foi roubado e teve 95% do corpo queimado em Caucaia, na Grande Fortaleza. Familiares e amigos se despediram do jovem morto no último sábado (5), após 14 dias internado no Hospital Instituto José Frota (IJF).

Muitos motoristas de aplicativos compareceram à despedida de Hilker e também desabafaram sobre o sentimento de insegurança que a categoria sente, sobretudo após episódio como o que aconteceu com o jovem no dia 21 de novembro. 

> Motorista de aplicativo tem 95% do corpo queimado, e família faz campanha para arrecadar doações

"É muito revoltante. Toda vida que saio de casa eu acho que não vou voltar. Cada volta pra mim é como se fosse um milagre. Só nós que somos motoristas de aplicativo sabemos o quanto é difícil", disse em tom de revolta o colega José Ivanir, motorista de aplicativo há 3 anos. O profissional conta que já passou por vários episódios de violência exercendo a atividade.

Legenda: Dezenas de pessoas compareceram ao velório do motorista.
Foto: Darley Melo

"Já passei por vários apuros. O mais complicado foi um que me chamaram pra corrida. Cheguei ao local e eram quatro (clientes). Eles anunciaram o assalto, me amarraram e ficaram me torturando por três horas. Eles fizeram em torno de 7 assaltos. Já tá com quase um ano e nada. O que eu ganhei foi trauma psicológico. Não consigo mais trabalhar direito. Toda corrida pra mim é como se fosse um assalto. Embaraçou tudo", desabafa ele que, apesar dos danos psicológicos, diz não poder abandonar o emprego porque precisa sustentar a família.

O ex- militar da aeronáutica que atuava como motorista de aplicativo, José Hilker foi abordado pelos suspeitos na Rua Campo do Madureira, no Bairro Guajiru. Os criminosos o lesionaram José com um objeto perfurocortante e, apos suspeitarem que se tratava de um policial, atearam fogo nele e fugiram com o carro. Ele teve 95% do corpo queimado.

Homenagem

Legenda: José Hilker foi ferido pelos suspeitos por um objeto cortante e em seguida teve corpo queimado. Ele morreu após 14 dias internado
Foto: Arquivo Pessoal

O velório aconteceu desde às 22h do sábado (5) até 10h30 de domingo (6), em um local cedido por um projeto social, no bairro Itaperi. Na ocasião, companheiros de Hilker durante o período de serviço militar emplacaram gritos de guerra.

Após o velório, cerca de 100 carros - com amigos e familiares da vítima- saíram em cortejo, fazendo buzinaço, até o Cemitério Memorial Fortaleza, em Maracanaú. Os carros foram enfeitados com balões brancos e pretos e carregavam mensagens "Luto Hilker" e "Saudade".  

Para a vizinha da família do motorista de aplicativo, a aposentada Anita Carvalho, o dia foi de dor. "Ele era uma pessoa maravilhosa. Eu sou evangélica, tenho muita fé, mas acredito que Deus não mandou uma morte dessa pra ele".

Suspeitos apreendidos

Três adolescentes foram apreendidos e uma mulher de 18 anos foi presa por envolvimento no ataque, em 23 de novembro. Os adolescentes, dois de 16 anos e um de 13, são da mesma família. 

De acordo com a Polícia, a mulher presa, Maria Valdencleiny Gomes Ferreira, serviu como isca para atrair o motorista, mas não chegou a entrar no carro. Os três adolescentes, que são dois irmãos e um primo, subiram no veículo e seguiram com ele até Caucaia, onde realizaram o assalto.

Durante o percurso, os adolescentes revistaram os objetos da vítima e suspeitaram que ela poderia ser policial. Foi quando, segundo a polícia, os suspeitos retiraram os objetos do motorista do automóvel e utilizaram gasolina que estariam levando para abastecer uma motocicleta para atear fogo na vítima como mostraram as investigações.

Depois, um dos adolescentes de 16 anos levou o carro e o abandonou em Fortaleza.

"Foram as pessoas que entraram no aplicativo e num dado momento anunciaram o assalto e como disse aqui após recolherem os pertences do motorista viram fotos dele fardado e imaginaram que tratava-se de um policial e por isso decidiram atear fogo no corpo da vítima", afirmou o secretário da Secretaria da Segurança Pública  (SSPDS), Sandro Caron.

Caso Alexandre Fernandes

Em agosto deste ano, o motorista Alexandre Fernandes foi sequestrado e morto por criminosos que solicitaram uma corrida no Bairro Maraponga. Eles anunciaram o roubo e exigiram que a vítima fosse para o banco de trás do carro. O motorista reagiu e foi alvejado pelos assaltantes. O corpo de Alexandre foi encontrado dois dias depois do desaparecimento, no Km 30 da BR-116, em Aquiraz, município da Grande Fortaleza. Oito pessoas foram denunciadas pelo Ministério Público pela morte de Fernandes. 

 

 

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