Chefe de facção preso com fuzil no Ceará planejava chacina para tomar território rival, diz Polícia
'Mucuim' fugiu do Sistema Penitenciário após ser condenado em um julgamento. Agora recapturado, ele foi transferido para o presídio de segurança máxima estadual
Izaías Maciel da Costa, o 'Mucuim', apontado como chefe de uma nova facção criminosa cearense, planejava uma chacina contra rivais em Horizonte, na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF). A matança poderia acontecer no dia em que ele foi preso - na posse de um fuzil e duas pistolas - 18 de janeiro último, ou nos dias seguintes, de acordo com a Polícia Civil do Ceará (PC-CE).
O suspeito havia fugido do Sistema Penitenciário cearense logo após ser condenado por outra chacina, em julgamento realizado na Justiça Estadual, na noite de 25 de novembro de 2022. Agora recapturado, 'Mucuim' já foi transferido pela Secretaria da Administração Penitenciária (SAP) para a Unidade Penitenciária de Segurança Máxima do Estado (UP-Máxima) - onde ficam os presos mais perigosos do Estado, em Aquiraz, na RMF.
Conforme relatório elaborado pela Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco), Izaías Maciel é uma liderança de uma nova facção cearense e, após fugir do cárcere, começou a organizar a tomada de um território em Horizonte, que pertence a uma facção carioca - a qual ele já foi integrante. A disputa entre os dois grupos criminosos é motivada pelo domínio do tráfico de drogas.
Além do fuzil, das pistolas e das munições de calibres diversos, "Izaías Maciel comprou dois carros roubados, também apreendido nos autos, para que no dia 18/01/2022, dia de sua prisão em flagrante delito, iniciasse uma nova chacina pelos bairros de Horizonte, como fim de expulsar a organização criminosa rival", aponta o Relatório Final da Draco.
Com a conclusão da investigação, a Draco indiciou 'Mucuim' pelos crimes de organização criminosa, associação para o tráfico de drogas, porte ilegal de arma de fogo de uso permitido, posse ou porte ilegal de arma de fogo de uso restrito e receptação.
Já Iago Maciel da Costa, também preso em flagrante por proteger e dar esconderijo ao irmão Izaías, foi indiciado pelos crimes de associação criminosa e posse ou porte ilegal de arma de fogo de uso restrito. A defesa dos suspeitos não foi localizada pela reportagem.
A Polícia Civil espera ainda por autorização judicial para a quebra dos sigilos telefônicos e telemáticos dos aparelhos celulares apreendidos com os suspeitos, para aprofundar as investigações contra a organização criminosa.
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Fuzil comprado por R$ 70 mil, com ajuda de advogados
Izaías Maciel da Costa, o 'Mucuim', afirmou, em depoimento prestado à Polícia Civil, que comprou o fuzil por R$ 70 mil, enquanto estava preso, por intermédio de advogados. Ele havia fugido do Sistema Penitenciário em dezembro do ano passado, após ser condenado a mais de 70 anos de prisão por participação na Chacina de Quixeramobim.
'Mucuim' foi preso em uma residência em Horizonte, na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF), onde estaria escondido com o apoio do irmão, Iago Maciel da Costa, que também foi detido.
Com a dupla, foram apreendidos um fuzil calibre 5.56, duas pistolas calibres 380, mais de 100 munições de calibres variados e dos veículos roubados, com sinais identificadores adulterados.
O vendedor da arma, segundo o acusado, é um homem que mora no Estado do Rio Grande do Norte, que ele não conhece. A negociação teria sido feita por intermédio de advogados, os quais ele não quis falar o nome.
'Mucuim' relatou ainda que comprou as duas pistolas através do aplicativo WhatsApp, de um homem que mora em Fortaleza e que ele também não conhece. O valor total, das duas armas, seria de R$ 9,3 mil.
Já as munições teriam sido compradas de um homem que tem registro de Colecionador, Atirador Desportivo e Caçador (CAC) - e por isso pode possuir armas. "Tá muito fácil comprar, porque os CACs estão vendendo munições 'a preço de banana'", disse o suspeito.
Condenação por chacina e fuga em seguida
Izaias Maciel da Costa, Francisco Fábio Aragão da Silva e Mateus Fernandes de Sousa foram condenados a um total de 207 anos de prisão, por participação na Chacina de Quixeramobim, na noite de 25 de novembro de 2022. Minutos depois, os acusados fugiram da viatura que os levava de volta aos presídios.
A viatura saiu do Fórum Clóvis Beviláqua, em Fortaleza, onde aconteceu o julgamento. Segundo os policiais penais que participavam da escolta, o trio quebrou a grade da viatura (conhecida como "corró") e pulou do veículo em movimento.
Confira as penas individuais:
- Francisco Fábio Aragão da Silva, o 'Pão' - 70 anos e 8 meses de reclusão;
- Izaias Maciel da Costa, o 'Mucuim' - 70 anos e 8 meses de reclusão;
- Mateus Fernandes de Sousa, o 'Gato a Jato' - 66 anos de prisão.
O trio foi condenado por 4 homicídios, uma tentativa de homicídio e pelo crime de organização criminosa e teria que cumprir a pena em regime fechado, conforme a sentença.
Os policiais penais foram afastados preventivamente do serviço público, por 120 dias e são investigados pela suspeita de "eventual facilitação de fuga e corrupção", conforme inquérito policial.
Conforme a decisão, o afastamento se deu "por prática de atos incompatíveis com a função pública, visando à garantia da ordem pública, à instrução regular do processo administrativo disciplinar e à correta aplicação de sanção disciplinar".
Francisco Fábio Aragão da Silva, conhecido como 'Pão', também foi recapturado. Ele foi encontrado por policiais civis e penais, no bairro Jardim das Oliveiras, em Fortaleza, no último dia 24 de janeiro. Segue foragido o terceiro condenado pela Chacina de Quixeramobim, identificado como Mateus Fernandes dos Santos Sousa, o 'Gato a jato'.