Acusado de participar da Chacina da Sapiranga em Fortaleza é preso depois de 2 anos e 8 meses

A prisão ocorreu no mesmo dia que a Justiça Estadual decidiu levar 22 réus a júri popular pela matança

Escrito por Messias Borges , messias.borges@svm.com.br
Crime aconteceu no Campo do Alecrim, onde dezenas de pessoas celebravam o Natal em 2021
Legenda: Crime aconteceu no Campo do Alecrim, onde dezenas de pessoas celebravam o Natal em 2021
Foto: Fabiane de Paula

No mesmo dia que a Justiça Estadual decidiu levar 22 réus a júri popular pela Chacina da Sapiranga, na última terça-feira (3), a Polícia Militar do Ceará (PMCE) realizou a prisão do 23º acusado pelo Ministério Público do Ceará (MPCE) - o único que teve o processo suspenso. Cinco pessoas foram mortas e outras seis ficaram feridas, na ação criminosa, ocorrida no Natal de 2021, há mais de 2 anos e 8 meses.

Kevem Tyago Costa Pompeu, de 21 anos, foi detido por policiais militares do 19º Batalhão de Polícia Militar, na Rua Tomaz Idelfonso, no bairro Cambeba, em Fortaleza. Ele estava com um mandado de prisão preventiva em aberto, por participação na Chacina, expedido pela 1ª Vara do Juri da Comarca de Fortaleza em 22 de janeiro de 2022.

"Após informações de que um suspeito, que tinha pendências na Justiça, estaria na rua Tomaz Idelfonso, policiais do 19º Batalhão deram início às diligências. No local, o indivíduo foi identificado e tentou se evadir da abordagem. Quando foi capturado, e ao constatarem via Coordenadoria Integrada de Operações de Segurança (Ciops) o mandado em aberto, o homem foi preso pelos policiais", descreveu a Polícia Militar do Ceará, em publicação.

O acusado já tinha antecedentes criminais por homicídios, integrar organização criminosa e corrupção de menores. Ele foi levado ao 13º Distito Policial, da Polícia Civil do Ceará (PCCE), para ser colocado à disposição da Justiça.

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Réus levados a júri popular

O processo criminal contra Kevem Tyago foi suspenso pela Justiça Estadual, em razão dele não ter sido localizado nem ter um endereço identificado. A ação penal contra os outros 22 réus seguiu e resultou na pronúncia, na última terça (3).

A 1ª Vara do Júri de Fortaleza pronunciou (isto é, decidiu levar a júri popular) 22 acusados de participar do episódio que ficou conhecido como Chacina da Sapiranga, em Fortaleza, em decisão proferida pelo juiz Marcos Aurélio Marques Nogueira.

O julgamento ainda não tem data marcada. O magistrado também manteve as prisões preventivas de 18 réus que se encontram em unidades penitenciárias e as ordens de prisão a quatro homens que seguem foragidos, depois de 2 anos e 8 meses do crime.

Na decisão, o juiz afirmou que "a prisão preventiva é necessária para garantia da ordem pública, sobretudo pelo perigo gerado pelo estado de liberdade dos agentes, diante da gravidade emconcreto dos crimes de autoria coletiva da Chacina da Sapiranga, e pelo envolvimento de facções criminosas de forma direta, com pluralidade de agentes e intenso arsenal bélico, o que demonstra a periculosidade social dos acusados, a ensejar a manutenção da decretação da prisão preventiva e, consequentemente, denega-se o direito de recorrer em liberdade".

Os 22 réus vão a júri popular, conforme a participação individual, pelos crimes de homicídio qualificado, tentativa de homicídio, corrupção de menores, por integrar organização criminosa e resistência.

Como aconteceu a chacina

Na madrugada de 25 de dezembro, dezenas de pessoas se confraternizavam no Campo do Alecrim, na Sapiranga, quando foram surpreendidas por tiros. Morreram André Alexandre Rodrigues, Israel de Silva Andrade, John Lenon Holanda, Mateus Ribeiro dos Santos e Ederlan Fausto. Outras seis pessoas ficaram feridas.

Conforme as investigações da Polícia Civil do Ceará (PCCE), a Chacina foi motivada pela disputa por território para o tráfico de drogas. Os acusados são apontados como membros da facção criminosa Massa Carcerária, que surgiu de uma dissidência da facção carioca Comando Vermelho (CV) - a qual pertenceriam as vítimas.

'Das Facas', 'Jogador' e 'Bombado' são apontados pela Polícia como líderes criminosos locais e como os mandantes da matança. Conversas por redes sociais mostraram que o trio se preocupava em ser preso e, no dia seguinte à Chacina, já planejava novas mortes.

O Ministério Público afirmou, na denúncia, que os crimes foram praticados por motivo torpe e com dinâmica que dificultou a defesa das vítimas, já que "estas foram surpreendidas por um ataque massivo com uma grande quantidade de executores fortemente armados".

"Os acusados ainda realizaram os homicídios com emprego de arma de fogo de uso restrito. Em cotejo com as provas até aqui colhidas, torna-se evidente que  todos os acusados tinham conhecimento de que dentre as armas utilizadas pelos membros da "Tropa do 2R", notadamente um de seus líderes, Raí ("Jogador") se valia de um fuzil, armamento de guerra, classificado como de uso restrito", descreveu o MPCE.

Um fuzil calibre 556 foi apreendido envolto em um saco de cebola, dentro de um matagal, no bairro Parque Manibura, na Capital. Denúncia anônima que dava conta de que a arma foi utilizada na Chacina levou a Polícia até o armamento.

Também consta na denúncia que houve participação de outros indivíduos ainda não identificados, bem como de seis adolescentes que estavam em posse de armas de fogo durante a chacina - e que foram apreendidos.

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