Justiça decide levar 22 réus a júri popular por participação na Chacina da Sapiranga, em Fortaleza
Cinco pessoas foram mortas e seis ficaram feridas, em um ataque organizado por uma facção criminosa contra rivais, na madrugada do Natal de 2021
Um tiroteio no Campo do Alecrim, durante uma comemoração do Natal de 2021, com cinco mortos e seis feridos, está próximo de uma conclusão na Justiça Estadual. A 1ª Vara do Júri de Fortaleza pronunciou (isto é, decidiu levar a júri popular) 22 acusados de participar do episódio que ficou conhecido como Chacina da Sapiranga, em Fortaleza.
A decisão foi proferida pelo juiz Marcos Aurélio Marques Nogueira, nesta terça-feira (3). O julgamento ainda não tem data marcada. O magistrado também manteve as prisões preventivas de 18 réus que se encontram em unidades penitenciárias e as ordens de prisão a quatro homens que seguem foragidos, depois de 2 anos e 8 meses do crime.
Na decisão, o juiz afirmou que "a prisão preventiva é necessária para garantia da ordem pública, sobretudo pelo perigo gerado pelo estado de liberdade dos agentes, diante da gravidade emconcreto dos crimes de autoria coletiva da Chacina da Sapiranga, e pelo envolvimento de facções criminosas de forma direta, com pluralidade de agentes e intenso arsenal bélico, o que demonstra a periculosidade social dos acusados, a ensejar a manutenção da decretação da prisão preventiva e, consequentemente, denega-se o direito de recorrer em liberdade".
Os 22 réus vão a júri popular, conforme a participação individual, pelos crimes de homicídio qualificado, tentativa de homicídio, corrupção de menores, por integrar organização criminosa e resistência.
Confira a lista dos réus pronunciados:
- André Soares Júnior, o 'Loirinho';
- Alessandro Vieira da Silva
- Antônio Gabriel Sousa da Silva, o 'Gabiru';
- Charles Dantas Oliveira
- Eduardo José do Nascimento, o 'Carioca';
- Francisco Wellington Bezerra da Silva Filho, o 'Bombado';
- Gabriel Sousa Freitas, o 'Biel';
- Israel Silva Ferreira
- Jeandson Nunes Bento dos Santos, o 'Toin';
- João Ricardo Sousa da Silva, o 'JR';
- João Victor Aguiar de Sousa, o 'Tito';
- José Ivan Alves da Silva Filho
- Kaique de Sousa Domingos
- Mateus Aguiar de Sousa
- Mateus Acelino da Silva, o 'Malagueta';
- Miguel Sousa da Silva, o 'Miguelzinho';
- Nilson Lima Nogueira Filho, o 'Berinjela';
- Raí Cesar Silva Araújo, o 'Jogador';
- Thiago Farias de Lima, o 'Guaiúba';
- Tiago Pereira Mendes, o 'Cara de Pizza';
- Vinicius Rian Inácio da Silva
- Yuri Marques Bento, o 'Berre'.
A Justiça decidiu impronunciar Nilson Filho pelo crime de porte ilegal de arma de fogo de uso permitido e extinguiu a punibilidade de Raí César pelo crime de portar drogas. O Ministério Público do Ceará (MPCE) ainda denunciou um 23º homem por participação nos crimes, mas o processo contra Kevem Tyago Costa Pompeu está suspenso.
O promotor de justiça Marcus Renan Palácio, que atua na 1ª Vara do Júri de Fortaleza e pediu pela pronúncia dos réus, considerou "irretocável a decisão exarada pelo douto Juízo da 1ª Vara do Júri".
Certo da imprescindibilidade da submissão dos réus ao crivo do Conselho de Sentença, reafirma o Ministério Público o seu compromisso inabalável com o combate às organizações criminosas, com a promoção da justiça e a repressão às beligerantes condutas perpetradas no contexto como o noticiado no caso que ficou popularmente conhecido como 'Chacina da Sapiranga'."
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Como aconteceu a chacina
Na madrugada de 25 de dezembro, dezenas de pessoas se confraternizavam no Campo do Alecrim, na Sapiranga, quando foram surpreendidas por tiros. Morreram André Alexandre Rodrigues, Israel de Silva Andrade, John Lenon Holanda, Mateus Ribeiro dos Santos e Ederlan Fausto. Outras seis pessoas ficaram feridas.
Conforme as investigações da Polícia Civil do Ceará (PCCE), a Chacina foi motivada pela disputa por território para o tráfico de drogas. Os acusados são apontados como membros da facção criminosa Massa Carcerária, que surgiu de uma dissidência da facção carioca Comando Vermelho (CV) - a qual pertenceriam as vítimas.
'Das Facas', 'Jogador' e 'Bombado' são apontados pela Polícia como líderes criminosos locais e como os mandantes da matança. Conversas por redes sociais mostraram que o trio se preocupava em ser preso e, no dia seguinte à Chacina, já planejava novas mortes.
O Ministério Público afirmou, na denúncia, que os crimes foram praticados por motivo torpe e com dinâmica que dificultou a defesa das vítimas, já que "estas foram surpreendidas por um ataque massivo com uma grande quantidade de executores fortemente armados".
"Os acusados ainda realizaram os homicídios com emprego de arma de fogo de uso restrito. Em cotejo com as provas até aqui colhidas, torna-se evidente que todos os acusados tinham conhecimento de que dentre as armas utilizadas pelos membros da "Tropa do 2R", notadamente um de seus líderes, Raí ("Jogador") se valia de um fuzil, armamento de guerra, classificado como de uso restrito", descreveu o MPCE.
Um fuzil calibre 556 foi apreendido envolto em um saco de cebola, dentro de um matagal, no bairro Parque Manibura, na Capital. Denúncia anônima que dava conta de que a arma foi utilizada na Chacina levou a Polícia até o armamento.
Também consta na denúncia que houve participação de outros indivíduos ainda não identificados, bem como de seis adolescentes que estavam em posse de armas de fogo durante a chacina - e que foram apreendidos.