Unilab mudou a rotina de Redenção
Nos últimos cinco anos, com a chegada dos estudantes, aumentou o investimento em pequenos negócios
Redenção. Em julho de 2010, foi criada a Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab), cujos campi estão localizados na Bahia e no Ceará. A proposta de juntar países africanos (Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, São Tomé e Príncipe) e o Timor-Leste com municípios do Interior dos dois Estados completa cinco anos. Em Redenção, a presença dos estudantes estrangeiros e o impulso que a cidade ganhou são visíveis. O complexo universitário, por outro lado, fez aflorar problemas novos e antigos.
>Falta saneamento básico na cidade
A Unilab nasceu em 20 de julho de 2010, por meio da lei federal Nº 12.289. O início das atividades letivas, entretanto, aconteceu apenas quase um ano depois, no dia 25 de maio de 2011. Redenção não foi escolhida por acaso para sediar a nova instituição. A cidade entrou para a história como a primeira no Brasil a libertar totalmente seus escravos. O fato foi registrado no dia 1º de janeiro de 1883. Importantes abolicionistas vieram em comitiva prestigiar a solenidade do acontecimento, por meio da Estrada de Ferro de Baturité.
Passados 127 anos da abolição dos escravos, com a inauguração da Unilab, o município de Redenção voltou a ter contato com os povos africanos. Ao caminhar pelas ruas, é fácil se deparar com grupos de estudantes, principalmente de Cabo Verde e Angola. "É um pessoal alegre, sempre gentil e que se adaptou muito bem à nossa realidade", avalia o comerciante José Flávio da Silva.
A mesma impressão tem o arrendatário de um restaurante no Centro de Redenção, José Átila. "É um povo bem-vindo. O comportamento deles é exemplar. Nunca os vi envolvidos em confusão ou desavenças". Há três meses, Átila passou a trabalhar num restaurante que fica aberto das 6h30 até 22 horas. Ele é um dos moradores que viu na chegada dos estudantes a possibilidade de montar ou ampliar um negócio rentável.
"Certamente, mais de 60% do nosso movimento é bancado por eles. Começa bem cedo, quando acordam para ir à Unilab e passam por aqui para tomar café, na hora do almoço ou ainda no fim da noite, quando eles regressam para casa e realizam a última refeição do dia", explica Átila.
Principalmente na área central da Cidade, é possível notar a presença de farmácias, padarias, lojas e outros estabelecimentos comerciais surgidos após a instalação da instituição. De olho na bolsa paga pelo governo federal aos estudantes, vários setores da economia, notadamente o varejo, aumentaram seus investimentos.
O comerciante, no entanto, ressalta que tem muita gente inflacionando o mercado desde a implantação da Universidade. "Para vocês terem uma ideia, uma loja pequena, que antes podia ser alugada por R$ 250, hoje seu dono não cobra menos que R$ 500. Apesar dessa carestia, é difícil encontrar um espaço vago. Há um grande investimento em pousadas e imóveis, não só para alugar, como também para vender", aponta.
A inflação na cidade é a maior queixa dos estudantes. "Recebemos uma bolsa de R$ 530. O menor aluguel que conseguimos achar é de R$ 500. Os donos de imóveis sabem que temos que conseguir moradia de qualquer forma e nos obrigam a nos reunirmos em grupos de três ou quatro para viabilizar o aluguel", revela o estudante João Gomes, 26, de Guiné-Bissau.
João nos contou que alguns estudantes procuram distritos localizados distante da sede, mas acabam se arrependendo. "Quem busca morar longe é obrigado a pagar transporte. Acaba dando no mesmo. A bolsa é insuficiente para a gente comer, se deslocar, adquirir roupas, pagar energia, água e comida. Aqueles que ficam distante da sede da Unilab ainda se deparam com problemas de violência, mais comuns nos distritos".
O estudante praticamente concluiu o curso de Ciências Humanas. Entretanto, espera o fim da greve de servidores e professores, que já passa de um mês, para poder defender sua monografia: "Espero que esse movimento termine logo para que possa finalizar o meu curso e iniciar a pós-graduação em Sociologia".
A comida no restaurante universitário custa R$ 1,10, mas João e seus colegas de residência preferem preparar a alimentação em casa. "Não é pelo custo. É que preferimos fazer o nosso almoço", finaliza.
Residência
Farã Vaz, 28, é também de Guiné-Bissau e bacharel de Ciências Humanas. Ele reclama das condições oferecidas aos estudantes, mas faz questão de ressaltar que a inflação é até certo ponto natural: "Em qualquer lugar, o mercado funciona de acordo com a oferta e a procura. Quando criaram a Unilab, deviam ter planejado a construção de uma residência universitária. Isso seguraria os preços. Não permitiria uma alta tão grande. É até natural que os donos de imóveis, diante de uma grande demanda, aumentem os preços".
ENQUETE
Qual a principal dificuldade?
"Os donos de imóveis sabem que temos que conseguir moradia de qualquer forma e nos obrigam a nos reunirmos em grupos de três ou quatro estudantes para podermos viabilizar o aluguel"
João Gomes
Estudante
"A falta de acomodação para os estudantes é, de fato, o maior problema que temos aqui. A construção de uma residência universitária, a meu ver, resolveria o problema e também derrubaria os preços"
Farã Vaz
Estudante