Quixadá é o quinto município cearense a decretar lockdown; infecções dispararam nas últimas semanas

O isolamento social restritivo vigora até o próximo dia 2 de maio

Escrito por André Costa , andre.costa@svm.com.br
Legenda: A medida entre em vigor a partir da meia-noite deste sábado
Foto: Márcio Guedes

O município de Quixadá, no Sertão Central, decretou nesta sexta-feira (24), isolamento social restritivo. A medida passa a vigorar a partir da meia-noite de sábado (24) e se estende até o próximo dia 2 de maio. A cidade se junta a Lavras da Mangabeira, Baturité, Capistrano e Pacoti, que também decretaram lockdown mesmo após a flexibilização do decreto estadual.

Segundo a secretária da Saúde do Município, Benedita Oliveira, a decisão decorre do aumento expressivo de casos na cidade nos últimos dias.

De acordo com dados do IntegraSus, plataforma oficial da Secretaria da Saúde (Sesa) do Estado, Quixadá atingiu, no último dia 17, a segunda maior média móvel de casos desde o início da pandemia (42,57). O número só fica atrás da média móvel do dia 21 de maio do ano passado: 50,57.

Ao todo, já são 6.102 infecções na cidade e 105 óbitos. Somente neste mês de abril, Quixadá já registrou 685 novos casos. Em abril do ano passado, ao longo de todo o mês, foram 121. Os dados são do IntegraSus.

Esta é a segunda medida adotada no Município, em menos de uma semana, na tentativa de frear o rápido avanço do vírus. Na terça-feira passada, dia 20, Quixadá proibiu a venda de bebida alcoólica em todo seu território. Agora, com o decreto de lockdown, apenas os serviços essenciais podem funcionar. São eles:

  • Supermercados e padarias,
  • Farmácias,
  • Postos de combustível,
  • Serviços médicos,
  • Correios,
  • Revendedores de água e gás,
  • Funerárias,
  • Empresas distribuidoras de energia, 
  • Segurança privada

O uso de espaços públicos estará proibido no período de vigência do lockdown. Igrejas e academias não poderão abrir. Ainda segundo o decreto municipal, carros de transporte alternativo de passageiros da zona rural estão com circulação suspensa.

Conforme o documento, divulgado na noite desta sexta (23), "as forças de segurança municipal, agentes de trânsito e a Agência de Fiscalização de Quixadá (Agefisq) farão o monitoramento e controle do cumprimento das medidas decretadas".

Estamos enfrentando o pior momento da pandemia e isso tem superlotado os nossos hospitais e os postos de saúde. Por isso se faz necessário o isolamento social rígido.
Ricardo Silveira
Prefeito de Quixadá

Leitos ocupados

O município conta com 70 leitos de enfermaria, dentre os quais 43 estão ocupados. No último dia 10, foram inaugurados 10 leitos de UTI exclusivos para tratamento da Covid-19. Nove estão preenchidos.

Nosso medo é o colapso do Sistema Único de Saúde, porque para onde você mandar paciente, não existe vaga. O Sertão Central está lotado. Precisamos ter a consciência de que a situação é grave.
Benedita de Oliveira
Secretária da Saúde

Com pouco leitos disponíveis, pacientes em estado grave precisam ser transferidos para hospitais-polo do Estado. O mais próximo fica na cidade vizinha de Quixeramobim. No entanto, o Hospital Regional do Sertão Central (HRSC) também está perto do limite de sua ocupação.

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De acordo com dados do IntegraSus, dos 56 leitos de UTI da unidade hospitalar, 55 estão ocupados. O HRSC conta ainda com 88 leitos de enfermaria, restando apenas oito vagas. O cenário não é delicado apenas nessas duas cidades. Em toda a região do Sertão Central, há 52 pacientes à espera de leitos, dentre os quais 29 aguardam por UTI.

Legenda: Lavras da Mangabeira, Baturité, Capistrano, Pacoti e Quixadá decretaram lockdown. Nas demais cidades cearenses, o regime vigora apenas no fim de semana.
Foto: Arquivo/Natinho Rodrigues

Importância do lockdown

Especialistas avaliam que o isolamento social restritivo, quando bem aplicado e respeitado alguns fatores, pode ser eficaz no combate à pandemia. Apesar de ser considerado como "radical", o lockdown já teve resultados comprovados em várias partes do Brasil e do mundo, com singular destaque à Europa. 

Epidemiologistas sugerem que a restrição de circulação deve girar em torno de duas semanas para que ocorra a quebra da cadeia de transmissão. No entanto, outros avaliam que este período, em determinados casos, pode ser menor.

"Para as pequenas cidades, cuja população é bem reduzida, um isolamento rígido de dez dias, por exemplo, pode trazer resultados. Claro que o ideal seria um tempo um pouco maior, mas devemos sempre observar caso a caso. Em grandes metrópoles, como Fortaleza, é diferente. O isolamento tem que ser por mais de duas semanas para que impacte na redução da transmissão comunitária", avalia o epidemiologista Antônio Lima.

A professora universitária Daniele Queiroz ressalta, ainda, que é primordial o engajamento da população para que a medida tenha resultado. "Se a pessoa precisar realmente sair de casa, que ela adote todas as medidas preventivas. Mantenha o distanciamento, utilize duas máscaras e faça a higienização frequente das mãos. Essas precauções ajudam a evitar o risco do vírus ser transmitido".

Outras cidades em lockdown

Sete cidades cearenses decretaram isolamento social rígido após a flexibilização do decreto estadual. Em todas elas, os gestores atrelaram à medida ao aumento vertiginoso de infecções. Duas delas (Antonina do Norte e Santana do Cariri) não renovaram o decreto. Outras cinco, incluindo agora Quixadá, seguem o lockdown vigente.

  1. Lavras da Mangabeira;
  2. Baturité;
  3. Capistrano;
  4. Pacoti;
  5. Quixadá

 

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