Com aumento de casos, três cidades cearenses mantêm o lockdown

Os municípios adotaram restrições ainda mais rígidas, como o fechamento de supermercados

Escrito por Antonio Rodrigues , antonio.rodrigues@svm.com.br
Antonina do Norte
Legenda: Antonina do Norte, mesmo sendo a cidade com menor número de casos do Ceará, teve um elevado crescimento de casos nos últimos dias
Foto: Antonio Rodrigues

Mesmo com a retomada gradual da economia cearense, iniciada na segunda-feira (12), pelo menos três cidades decidiram manter o lockdown. Em comum, Antonina do Norte, Capistrano e Santana do Cariri viram seus números de casos da Covid-19 aumentarem consideravelmente nas últimas duas semanas, ao contrário da tendência geral do Interior, ligando o sinal de alerta.

A partir de decretos municipais, os prefeitos adotaram maiores restrições, como a proibição da circulação de moradores nas ruas, venda de bebidas e o fechamento de supermercados.  

Antonina do Norte

Mesmo sendo a cidade com menor número de casos do Ceará, Antonina do Norte, que possui cerca de 7.300 habitantes, teve um elevado crescimento de casos.

No dia 31 de março, o boletim epidemiológico da Secretaria Municipal de Saúde apontava 138 casos. Desde então, houve um aumento de 57,9%, chegando a 218 infectados na segunda (12).

Nesse período, houve também um crescimento de 50% nas mortes em consequência da Covid-19, saltando de 8 para 12. Ainda há outros dois óbitos sob investigação, que podem ter sido causadas por complicações geradas pela doença.

“Nós observamos o aumento pela demanda provocada nos postos de saúde e pelos boletins. O crescimento já era gradativo, mas se tornou significativo nas duas últimas semanas”, detalha a secretária de Saúde de Antonina do Norte, Paloma Lima.  

Atualmente, o Hospital Municipal tem cinco leitos de enfermaria, todos ocupados com pacientes em situação estável, contando com auxílio de oxigênio.

“Se complicou, a gente referencia para o Estado”, conta a gestora. Na Central de Regulação, os pacientes são atendidos em Juazeiro do Norte ou Barbalha. Se lotados, podem ser transferidos para Iguatu. 

Antonina do Norte
Legenda: Atualmente, o Hospital Municipal de Antonina do Norte tem cinco leitos de enfermaria, todos ocupados
Foto: Antonio Rodrigues

Aumento de casos

O primeiro bairro a registrar um aumento considerável de casos foi o Planalto. Para lá foi enviada uma equipe para atendimento médico, de enfermagem e coleta de exames. “O morador já saía com prescrição médica e exame”, ressalta a gestora.

Contudo, outros bairros começaram a apresentar mais infectados, quando os gestores da cidade decidiram fechar as atividades não essenciais por um decreto em vigor desde a última sexta-feira (09) e que deve durar até o próximo dia 18.  

Nós estamos totalmente fechados. Só abertas as farmácias, postos de combustíveis e unidades de saúde. Supermercados, só realizam entregas”
Paloma Lima
Secretária de Saúde de Antonina do Norte

Além disso, foram instaladas barreiras sanitárias nas rodovias que dão acesso à cidade. “Só viajantes passam. Caminhoneiros fazendo entrega dentro da cidade, nem entram, nem saem. Ainda há um controle rígido de pessoas”, reforça.  

Ainda para conter o avanço, agentes de endemias têm realizado desinfecções nos locais que estão podendo funcionar, como as farmácias. O trabalho acontece duas vezes ao dia, de manhã e à tarde.  

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A fiscalização conta com apoio dos próprios agentes de endemias, agentes da epidemiologia, Vigilância Sanitária, guardas municipais e a Polícia Militar. Inclusive, nos primeiros dias de decreto, policiais de outros municípios, como Assaré e Aiuaba, deram apoio para manter a medida, já que o efetivo em Antonina é de apenas quatro militares.  

Santana do Cariri

Já em Santana do Cariri, que conta com população estimada em 17 mil pessoas, entre os dias 29 de março e 5 de abril houve um aumento de 16 casos de Covid-19, saltando de 420 para 436. Já na semana seguinte, o número de novos casos confirmados quadruplicou, com 64 registros, chegando a 500 infectados. A cidade soma 18 óbitos. Os dados são do boletim mais recente da Secretaria de Saúde do Município, publicado ontem (12). 

Santana do Cariri
Legenda: Santana do Cariri registra 500 casos e 18 óbitos
Foto: Divulgação

De acordo com a secretária de Saúde de Santana do Cariri, Janaína Ângelo, a decisão pelo lockdown também se manifesta no crescimento de casos suspeitos: saiu de 75 no último dia 5 deste mês para 139, no último boletim, incluindo um óbito sob investigação.

“Estamos até providenciando a compra direta de swab para ampliar os exames além da conta que o Estado fornece, que é de 50”, reforçou.  

O município possui uma Unidade Sentinela, com médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem e outros profissionais da saúde trabalhando diariamente. Contudo, a demanda cresceu. "Casos suspeitos e confirmados duplicaram do ano passado para este ano”, diz a gestora.

Durante a vigência do decreto, só estão autorizados a funcionar serviços públicos essenciais, hospitais e demais unidades de saúde, farmácias, clínicas odontológicas e veterinárias, empresas de segurança privada, postos de combustíveis e funerárias. Serviços como supermercados e padarias podem funcionar até as 17h. A medida vigora até o próximo dia 18.

A fiscalização conta com apoio da Polícia Militar, Guarda Municipal e Vigilância Sanitária. “Todos engajados nessa luta”, reforça a secretária.

O município não instalou barreiras sanitárias na entrada da cidade, mas isso será avaliado. “Percebemos que o contágio está entre as pessoas que moram na cidade. Não está havendo trânsito de pessoas de outras cidades para Santana do Cariri”, justifica. 

Sem UTIs

Em Antonina do Norte e Santana do Cariri não há Unidades de Terapia Intensiva (UTI). Com isso, os dois municípios dependem da regulação do Estado. A macrorregião de Saúde do Cariri, da qual os dois fazem parte, atingiu 95,68% da capacidade das UTIs. Considerando apenas os leitos para adultos, a ocupação chega a 97,67%. 

Capistrano

Em Capistrano, no Maciço do Baturité, cidade que possui cerca de 20 mil habitantes, o lockdown foi prorrogado por decreto municipal publicado ontem (12) e válido até a próxima segunda-feira (19).

Neste período, só poderão funcionar farmácias, postos de gasolina, hospitais, unidades de saúde, funerárias, clínicas veterinárias e órgãos de imprensa e de telecomunicação.

Supermercados, frigoríficos, padarias, restaurantes e demais comércios só funcionarão com serviço de delivery. A venda de bebidas alcoólicas está proibida.

A medida também veda as atividades escolares presenciais e atividades físicas coletivas e individuais.  

Nas últimas duas semanas, Capistrano somou 171 novos casos de Covid-19, o que representa quase 15% do total de infectados durante toda a pandemia: 1.152. Além disso, nesse período a cidade somou mais três óbitos — outra morte está sob investigação. Outros sete moradores do município seguem hospitalizados e 110 ainda estão em tratamento domiciliar.  

O Diário do Nordeste tentou contato com a Secretaria de Saúde de Capistrano para comentar a decisão de manter o lockdown e informar as ações de fiscalização realizadas para o cumprimento do decreto, mas não houve retorno até a publicação.  

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