19 barragens do Ceará são classificadas com 'prioridade máxima de intervenção'; veja lista

Os dados são do Relatório Anual de Segurança de barragens, elaborado pela Cogerh. Foram encontradas 8% mais “anomalias” em 2020 do que em anos anteriores, mas não há risco de ruptura, segundo a companhia e a SRH

Escrito por Redação , regiao@svm.com.br
O açude Jaburu I, o único existente na Bacia Hidrográfica da Serra da Ibiapaba, é estratégico para abastecer oito cidades da região. Ele é o único que apresenta maior necessidade de atenção periódica, segundo Cogerh e SRH
Legenda: O açude Jaburu I, o único existente na Bacia Hidrográfica da Serra da Ibiapaba, é estratégico para abastecer oito cidades da região. Ele é o único que apresenta maior necessidade de atenção periódica, segundo Cogerh e SRH
Foto: Arquivo Diário

O Ceará tem 19 barragens classificadas com “prioridade máxima de intervenção”, isto é, elas apresentaram riscos em suas estruturas, necessitando de reparos. O levantamento foi feito por equipes da Companhia de Gestão de Recursos Hídricos (Cogerh) e divulgado nesta semana.

De acordo com o relatório da Cogerh, as equipes do órgão realizaram Inspeções de Segurança Regular (ISR), em 2020, cujo objetivo foi verificar as condições em que se encontram as barragens públicas espalhadas pelos municípios cearenses e garantidoras de abastecimento humano.

As verificações vão desde defeitos em medidores hidráulicos à condição das paredes da barragem, passando pela densidade populacional no entorno.

Quanto ao grau de necessidade da ação corretiva, de reparos, a Cogerh classificou as barragens com prioridades mínima (45% das barragens), média (26%) e máxima (21%), além daquelas sem risco algum.

As barragens com prioridade de intervenção máxima em 2020 são:

  • Acarape do Meio
  • Acioli
  • Batente
  • Caldeirões
  • Barragem do Coronel
  • Jaburu I
  • Madeiro
  • Mamoeiro
  • Missi
  • Olho D’Água
  • Pau Preto
  • Penedo
  • Poço Verde
  • Quandú
  • São Domingos II
  • Tijuquinha
  • Trapiá II
  • Trapiá III
  • Umari


​A classificação de risco está associada a possibilidade de ocorrência de acidente ou desastre devido às condições técnicas da barragem que possam influenciar sua segurança ou estabilidade.

O relatório aponta que este número está "associado aos efeitos da pandemia da Covid-19 em 2020", o que ocasionou uma série de problemas de fornecimento de insumos, dificuldades de serviços e escassez de mão de obra.

Mesmo com as dificuldades de um ano atípico, avalia a Cogerh, "ainda foi possível manter a quantidade de anomalias dentro de um patamar aceitável".

Legenda: Fotos antes e após obra de recuperação na barragem Colina.
Foto: Divulgação/Cogerh

Entre as principais anomalias registradas estão “rachaduras ou trincas no concreto da estrutura de fixação da soleira do sangradouro” e “defeitos no medidor de vazão”, como se registrou em Acarape do Meio; “corrosão e vazamentos na tubulação da estrutura de saída da tomada d’água”, na barragem Acioli, e “construções irregulares na faixa de proteção”, na barragem Jaburu I.

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Aumento das anomalias

Em 2020, a Companhia realizou 248 inspeções em 156 barragens, antes e após a quadra chuvosa, que corresponde ao período entre os meses de fevereiro e maio. Destas 156 barragens, 89 são estaduais, três são de empreendedores particulares, 62 são federais – sendo estas de responsabilidade do Dnocs – e 2 são empreendimentos municipais.

Legenda: Distribuição da prioridade de intervenção nos açudes do Estado para o ano de 2020
Foto: Reprodução

As inspeções realizadas em 2020 identificaram 1.937 anomalias que apresentam magnitudes associadas aos diferentes níveis de perigo. Este número é 8% superior ao índice de 2019. No ano passado, foram 1.054 anomalias de magnitude "Grande", 368 magnitudes "Média", 269 magnitudes "Pequena" e 246 magnitudes "Insignificante".

O número foi classificado dentro da 'normalidade' e, segundo a Cogerh, "as ações corretivas no âmbito da segurança de barragens, mesmo com as dificuldades de um ano atípico", foram executadas.

Legenda: Fotos antes e após obra de recuperação na barragem Madeiro
Foto: Divulgação/Cogerh

Das 1.937 anomalias identificadas, a maior parte se concentra nas bacias da Região Metropolitana de Fortaleza e do Alto Jaguaribe. 

"A Bacia Metropolitana registrou o maior número de anomalias, totalizando 504 anomalias, o que representa cerca de 26% de todas as registradas. É importante ressaltar que esta Bacia possui a maior quantidade de barragens dentre as bacias hidrográficas do Estado, o que se reflete na quantidade de anomalias", apontou a Cogerh.

Não há risco para população

O secretário de Recursos Hídricos (SRH) do Ceará, Francisco José Coelho Teixeira, aponta que, apesar da existência de 19 barragens em classificação de prioridade máxima, não há risco potencial alto para a população. Ele destaca que, periodicamente, a Cogerh realiza ações corretivas e, o próprio relatório anual, é um instrumento para avaliar as condições do açudes e aplicar as devidas ações necessárias.

"O açude Jaburu I é o único em que necessitamos ter uma atenção maior. Ele foi construído em 1980, portanto, antes da existência dos órgãos de recursos hídricos que temos hoje. É uma barragem construída em uma região geologicamente complicada e, por isso, por ser em uma região sedimentar, apresenta vazamentos em dados momentos", detalha.

Esses vazamentos, no entanto, segundo Teixeira, não oferecem alto risco de segurança. "A Cogerh realiza campanhas regulares e, sempre que há esse vazamento, é realizado todo reparo necessário", acrescenta.

Questionado a razão de barragem não ter sido desativada, uma vez que ela apresenta problemas crônicos, Teixeira explica que os "problemas apresentados são todos muito bem controlados" e ressalta que o açude é o único de grande porte da Serra da Ibiapaba, "responsável pelo abastecimento de quase 400 mil pessoas". "Temos uma razoável segurança", conclui Teixeira.  

Em nota enviada ao Diário do Nordeste, a Cogerh destacou que "a classificação de  risco alto (classificação do Conselho Nacional de Recursos Hídricos) não significa um estado de emergência, nem indica perigo de ruptura, e se deve ao surgimento de uma anomalia na região a jusante da estrutura". O órgão reforçou a informação repassada pelo titular da SRH e garantiu que "nenhuma barragem sob responsabilidade do Estado corre risco de ruptura".

Quanto ao Jaburu I, a Cogerh destacou que "encontra-se em andamento projeto básico para construção de um dreno na área do açude" e, que em 2019, a Cogerh investiu em torno de R$ 5 milhões em ações corretivas na barragem.

Ações corretivas

Após identificar as anomalias existentes, as equipes da Cogerh apontaram uma série de reparos a serem feitos. Dentre as principais indicações corretivas, estão a realização de drenagem nas barragem; construção de meios-fios de concreto; recuperação da estrutura vertente com preenchimento de concreto; preenchimento com argamassa em fissuras; correção das erosões nos encontros das ombreiras; e reforço dos muros-ala.

Legenda: Fotos antes e após obra de recuperação na barragem São José II
Foto: Divulgação/Cogerh

As obras estavam previstas para serem finalizadas ainda no ano passado, contudo, "diante da situação de pandemia e calamidade pública decretada no Estado, a programação de obras de recuperação em barragens foi afetada, sendo possível finalizar apenas quatro obras durante o ano, que serão descritas brevemente a seguir". No entanto, os açudes não apresentaram risco na quadra-chuvosa deste ano.

"A meta anual é cumprir um percentual mínimo de 60% de correções do total de anomalias detectadas nas 89 barragens estaduais", destacou o relatório.

A Cogerh informou ao Diário do Nordeste que, neste ano, "diversas medidas foram tomadas para garantir a segurança da barragem" e o monitoramento foi intensificado, assim como consultores especialistas em geotecnia e geologia foram contratados.
 
Na maioria das barragens apontadas no relatório - com única exceção o Jaburu I - os serviços se concentraram em "ordem preventiva e de manutenção rotineira".
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