Pandemia: Ceará volta a registrar óbito entre indígenas após mais de um mês

A vítima foi um indígena da etnia Tabajara, em Crateús. O último registro havia ocorrido na última semana de julho

Escrito por Rodrigo Rodrigues , rodrigo.rodrigues@svm.com.br

O Ceará voltou a registrar vítimas da Covid-19 entre os povos indígenas após mais de um mês sem óbitos, segundo boletim da Federação dos Povos e Organizações Indígenas do Ceará (Fepoince), divulgado na noite desta terça-feira (1º). O informe aponta, ainda, que o Estado já soma 648 casos confirmados da doença, desde o início da pandemia, e chegou a sete vítimas.

Dos 19 municípios com territórios indígenas, apenas dois - Novo Oriente e Carnaubal -, seguem sem casos confirmados. Os indígenas são considerados grupos em extrema vulnerabilidade durante a pandemia. Ainda assim, cada indígena recebeu menos de R$ 0,05 por dia da Funai durante o isolamento.

A vítima mais recente da doença foi um indígena da etnia Tabajara, na cidade de Crateús. Não foram repassados mais detalhes, mas a assessoria da Fepoince informou que o óbito foi confirmado neste fim de semana. O último registro havia ocorrido na última semana de julho, conforme a Federação Cearense. Felizmente, quase 80% dos infectados conseguem se recuperar.

Municípios com óbitos (Fepoince):

  • Caucaia
  • Crateús
  • Maracanaú
  • Pacatuba
  • Tamboril

Segundo o boletim, o número de casos voltou a aumentar na última semana (entre 23 e 29 de agosto). Os municípios mais afetados foram Crateús e Monsenhor Tabosa, na macrorregião do Sertão dos Crateús. “Neste levantamento, a Fepoince inclui indígenas que não estão contemplados pelo Subsistema de Atenção à Saúde dos Povos Indígenas e que foram acometidos pela infecção”.

Por conta disso, são considerados os registros em áreas sem “providências de processo demarcatório”. Neste caso, estão o povo Karão-Jaguaribara, entre os municípios de Canindé e Aratuba; e o povo Kariri, na localidade de Poço Dantas, no Crato.

Curva epidemiológica

Segundo boletim da Fepoince, a curva epidemiológica da doença entre as mais de 20 comunidades indígenas vinha apresentando tendência de queda, na primeira quinzena de agosto, mas voltou a crescer na segunda metade do mês. Os territórios mais atingidos estão em Itarema e Acaraú (povo Tremembé); Caucaia (povos Anacé e Tapeba); e Maracanaú e Pacatuba (povo Pitaguary).

Além destes, há o município de Crateús, onde estão localizados cinco povos: Potyguara, Tabajara, Tupinambá, Kariri e Kalabaça. “Os demais municípios apresentam registros que variam entre 3 e 30 casos”, diz o informe. Os dados utilizados são compilados da Secretaria da Saúde (Sesa) do Ceará, secretarias municipais e por pesquisa realizada pelas organizações indígenas

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Já conforme a Secretaria Especial da Saúde Indígena (Sesai), do Ministério da Saúde, o Ceará soma 567 infectados (110 atualmente) desde o início da pandemia, com cinco óbitos e 450 curas clínicas. Os dados se diferem pelas metodologias adotadas, já que a Sesai considera, apenas, os registros de indígenas aldeados e atendidos pelo Subsistema de Saúde.

Redução

Diferente do apresentado pela Fepoince, o último Informe Epidemiológico da Sesai, emitido no último dia 26, válido para a Semana Epidemiológica 34 (até o dia 22 de agosto), mostra que o Distrito Especial da Saúde Indígena Ceará (DSEI Ceará) foi o único do País a apresentar uma taxa de transmissão menor que 1 (0.9), o que indica o declínio da epidemia na área atendida.

Nas semanas anteriores, o Estado apresentou índices superiores a 1, o que apontava para aumento no número de registros, conforme os Informes Epidemiológicos. A diferença se mostra na população considerada. O Dsei Ceará atende 26.966 indígenas, enquanto a Fepoince estima a existência de mais de 35 mil indígenas no território cearense - entre aldeados e não aldeados.

Ainda segundo boletim da Sesai, divulgado ontem (1º), 73 indígenas permanecem como casos suspeitos, em investigação. Entenda a nomenclatura usada pela Sesai a seguir.

Classificação, segundo a Sesai:

  • Caso suspeito: indígena que saiu da aldeia e retornou nos últimos 14 dias de local com transmissão local ou comunitária, e que apresente sintomas respiratórios. Ou caso que não saiu da aldeia, mas teve contato próximo com suspeito ou confirmado nos últimos 14 dias, e que apresente sintomas respiratórios.
  • Caso confirmado: caso com resultado positivo em RT-PCR e/ou Teste Rápido.
  • Infectado atualmente: caso confirmado, com infecção ativa, que ainda não completou 14 dias em isolamento domiciliar, a contar da data de início dos sintomas, ou que ainda não recebeu alta médica.
  • Caso descartado: caso que se enquadre na definição de suspeito.
  • Caso curado: casos confirmados que passaram por 14 dias em isolamento domiciliar, a contar da data de início dos sintomas e que estejam assintomáticos; ou casos em internação hospitalar, com avaliação médica para a cura.

 

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