Cultura do algodão é retomada com boa estimativa de colheita no Ceará
A expectativa é que o Cariri e o Centro-Sul cearenses superem, juntos, a marca de 1.500 hectares de área plantada. Em 2019, foram 700 ha e, em 2018, apenas 30. Os bons resultados são atribuídos a uma semente transgênica da Embrapa
O Ceará, que já foi o segundo maior produtor de algodão do Brasil com 1,3 milhão de hectares plantados em 1976, viu seu declínio na década de 1980 e, praticamente, se extinguiu diante da praga do bicudo. Hoje, a cotonicultura está numa animada retomada, principalmente nas regiões do Centro-Sul e Cariri, com expectativa de ultrapassar 1.600 hectares. A colheita teve início na semana passada e deve atingir seu pico a partir de julho e agosto.
Os experimentos satisfatórios, iniciados há quatro anos no Cariri, com a retomada da produção de algodão de sequeiro, hoje chegam a Brejo Santo, Milagres, Mauriti, Porteiras, Penaforte, Missão Velha, Crato, Potengi, Altaneira e Barbalha; e em Várzea Alegre, Iguatu e Acopiara, no Centro-Sul. Todos estes municípios estão produzindo a partir de semente transgênica de alta qualidade.
A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) Algodão de Campina Grande (PB), em parceria com a Secretaria do Desenvolvimento Econômico do Ceará e as secretarias municipais de Agricultura, implantaram em 2016 o projeto Modernização do cultivo do algodão no Estado do Ceará, voltado para a produção de algodão de sequeiro. Em 2018, foram cultivados 30 hectares no Cariri. Em 2019, a área expandiu para 700 hectares. Em 2020 a expectativa é mais que dobrar o cultivo do ano passado.
O engenheiro agrônomo e pesquisador da Embrapa Algodão, Fábio Aquino, explica que o projeto faz parte da modernização da cultura do algodão. Para alcançar bons resultados, os produtores tiveram orientação técnica específica. "A Embrapa é parceira nas orientações sobre plantio e manejo de pragas, e desenvolvimento de tecnologias", pontua.
"Em 2019, já tivemos um plantio significativo, mas, este ano, a área mais que dobrou. Já está passando 1.500 hectares", observa.
Períodos
O plantio, geralmente, acontece no fim de janeiro e início de fevereiro, com expectativa de colheita entre julho e agosto. Alguns, que plantaram mais cedo, já retiraram o produto do campo na última semana. A semente utilizada foi desenvolvida em 2000 e está sendo testada no campo de experimentação, em Barbalha, onde também há cultivo de outras culturas.
"Temos um programa de melhoramento genético a nível nacional. Essa semente nos deu segurança para recomendar ao Ceará porque ela tem características diferenciadas, como uma fibra mais longa, que é 100% importada do Brasil e rende tecidos mais finos", destaca Fábio. A ideia é que isso agregue valor ao produtor e à indústria têxtil cearense, que acaba buscando algodão de outros estados, como Mato Grosso do Sul e Goiás. "Aqui tem potencial para produzir com qualidade bem superior", completa o agrônomo.
Hoje, a maioria dos produtores do Cariri tem um contrato pré-firmado com uma indústria têxtil, comprometida a comprar o algodão local. "Tem trazido uma segurança grande", acredita Fábio. O preço do quilo está custando R$ 2,15. Para o produtor Pedro Edmilson dos Santos, do Sítio Minadouro, em Brejo Santo, isso tem sido um grande ganho. "O caminho é esse", acredita.
Edmilson, que plantava algodão até 1988, se sentiu motivado a cultivar novamente no ano passado. "Foi só um pedacinho de terra e ainda consegui 50 mil quilos", conta. Este ano, a previsão é ainda melhor, em uma área total de 40 hectares.
"A semente é muito boa. Tem que incentivar mesmo o pessoal a plantar. É uma facilidade que ninguém imagina", completa.
Fábio Aquino aponta que, diante das boas condições hídricas e de solo, aliadas ao conhecimento no manejo da fibra, os resultados tendem a ser positivos no Sul do Estado. "A produtividade hoje é bem melhor que no passado e animou novamente".
Ainda segundo o especialista, outra vantagem da cotonicultura é que a planta consegue tolerar as incertezas climáticas do território cearense. "Tem ano mais seco, mais chuvoso e é uma das poucas plantas que conseguem resistir e é economicamente viável. Além disso, ocupa a mão de obra em período que não tem muito serviço no campo", conclui.