Borracheiro faz sucesso com filmes caseiros

Escrito por Redação ,
Francisco Idelmar Braz de Oliveira está conquistando público de Quixadá, com suas obras independentes

Filme "Cavaleiro misterioso - o mensageiro do segredo da vitória" foi o primeiro longa-metragem do borracheiro. Produzido neste ano, já passou das 150 cópias, comprovando o seu sucesso FOTO: REPRODUÇÃO DO FILME/ALEX PIMENTEL

Quixadá Apostando numa categoria cinematográfica conhecida como "Filme B", o borracheiro Francisco Idelmar Braz de Oliveira está começando a fazer sucesso diante das câmeras na sua terra natal, Quixadá. No ano passado, ele produziu o média-metragem "Viajante do tempo que vem do reino proibido para a terra do sol trazendo o segredo da vitória". Este ano, ele lançou mais uma produção, dessa vez o longa-metragem "Cavaleiro misterioso - o mensageiro do segredo da vitória", com mais de uma hora de duração. E, apesar da qualidade limitada das películas, os DVDs dos dois filmes estão se multiplicando na cidade.

O protagonista das duas produções é "Idelmar, o Terrível", o próprio borracheiro. Ele mesmo dirige e participa das cenas. Também não utiliza dublê nas gravações. Por esses motivos, é considerado pelos amigos atores o "Jackie Chan do sertão". Para completar as curiosidades sobre as películas do borracheiro, o cinegrafista é o filho dele, Demétrio Lopes de Oliveira. O "cameraman" tem apenas 12 anos. O escritório é na própria borracharia. Não tem muito espaço, mas não tem importância. "O local é utilizado apenas para reunir a equipe", explica Idelmar.

Valor

Cada DVD está sendo vendido a R$ 10,00, mas o ator produtor garante não ter nenhum fim lucrativo. O dinheiro é utilizado para custear a próxima produção. Mas ele avisa: "não adianta perguntar qual o título do próximo filme e muito menos o roteiro. Tudo surge naturalmente". Quando está muito calor, a sombra de uma árvore frondosa acaba se transformando no set de filmagem. Se chove - coisa muito rara na região - é aproveitar a cena. Planejamento mesmo, somente de qual amigo vai apanhar nas lutas. "Como os socos e golpes são de verdade, aparecem poucos voluntários para contracenar com ´Idelmar o terrível´", justifica ele.

No primeiro filme, o borracheiro, produtor, diretor e ator contou com elenco reduzido. Apenas Mussum, Jário - o gigante de pedra - e Waldecí - o negrão pé de trovão - aceitaram o desafio. Como as cenas são muito violentas, para ter classificação livre e as crianças também poderem assistir, apareceram 15 atores, na maioria figurantes, para participar da segunda película, concluída em agosto deste ano. Desta vez, contou inclusive com um ator famoso no cenário cinematográfico local, Chancudo. Ele é considerado o percussor do cinema local, na categoria B.

A ideia era apenas divertir os amigos. Idelmar não imaginava conquistar um público superior aos laços familiares. A primeira produção chegou a casa de 100 cópias. O segundo filme já ultrapassou 150 DVDs. Para o homem simples, com o sonho apenas de perpetuar a sua "saga pessoal", ver suas cenas invadindo a cada dia mais e mais lares, é uma grande conquista. Para ele, tão grande quanto ser indicado a receber a estatueta do Oscar.

Novo rumo

As histórias ganharam a tela da televisão quando o herói sertanejo deixou as competições de ciclismo. Acostumado a vitórias e a contar suas aventuras nas pistas, Idelmar não queria parar no tempo e se dedicar apenas ao ofício de borracheiro, de onde passou a tirar o sustento para a família. Ele tem esposa e um casal de filhos. Não demorou muito para conhecer e se familiarizar com a tecnologia digital. Foi quando viu o amigo Chico Tronco com uma filmadora DVD. Sem cerimônia, pediu para fazer algumas "tomadas" e logo se fascinou pelo equipamento. Aproveitando o porte atlético dos tempos quando serviu o Tiro de Guerra, uma unidade de recrutamento do Exército Brasileiro na cidade, Idelmar não pensou duas vezes. Tinha todas as prerrogativas para ser um herói brasileiro, ao estilo Jackie Chan nordestino. Segundo ele, os roteiros foram surgindo naturalmente e aproveitado os tempos livres. Nos feriados e fins de semana, entrava em cena. E, aos poucos, os amigos passaram a acreditar. Os DVDs ganharam capas e embalagens iguais a das grandes produções.

Faltava a edição das cenas. Com recurso limitado, pouco mais de R$ 200,00, Idelmar resolveu confiar meses de trabalho ao produtor musical Gean Carlos Nascimento, um morador do bairro. Desafiado, jovem de 19 anos, na época com 17, aceitou e passou horas diante do computador, cortando e montando cenas. Ele já estava familiarizado com edição de trilhas sonoras mas, com imagens, era a primeira vez. Para ele, com um pouco mais de recursos técnicos e financeiros Idelmar poderá produzir filmes de melhor qualidade.

Aprovado

Mesmo assim, quem assistiu gostou. A comerciária Ana Lúcia Farias foi uma delas. O filho Higor, de 9 anos, insistia para a mãe conseguir o filme do "Cavaleiro Idelmar". Deparou-se com a meninada da vizinhança na sala da sua casa, atenta diante do televisor. Para surpresa dela, o artista do filme havia consertado o pneu da sua motocicleta alguns dias antes.

Ela não sabia que o herói infantil morava no bairro vizinho. Para a comerciária, a tremedeira e o borrado nas cenas é algo que faz parte dos efeitos especiais. "Fiquei satisfeita, afinal, o sorriso de uma criança não tem preço", comentou, elogiando o produtor ator.

Tecnologia pode melhorar produção

Demétrio Lopes de Oliveira, filho de Idelmar, é o cinegrafista da produtora familiar. O equipamento usado por ele ainda não é o mais adequado. Segundo o editor Edney Eslley Lima, material digital pode tornar o resultado superior FOTO: ALEX PIMENTEL

Quixadá Habituado com edições audiovisuais há, praticamente, uma década, o editor Edney Eslley Lima acredita nesse tipo de conhecimento tecnológico como uma promissora fonte de renda. Na avaliação dele, a qualidade dos filmes produzidos pelo borracheiro Idelmar de Oliveira pode melhorar substancialmente com a utilização de alguns equipamentos. Com uma câmera fotográfica digital HD, um cartão de memória e mini-microfones, o resultado final será bem expressivo. Praticamente não deixará a desejar em relação a filmes não muito sofisticados, mas com qualidade sonora e visual muito superiores.

Entretanto, para conquistar o resultado final após a captação audiovisual bruta é preciso ter um bom programa, ou uma suíte, como um conjunto de programas específicos é denominado pelos especialistas em edição audiovisual computadorizada. Também é preciso conhecer as ferramentas disponíveis nesses programas. Segundo ele, somente com cursos especiais é possível aproveitar todos os recursos disponíveis. Em Pernambuco e São Paulo, existem até universidades especializadas.

O valor da especialização é similar ao de um curso de Odontologia, explicou o produtor após fazer pesquisas. Mas, para ele, o investimento vale à pena. Um bom profissional pode produzir em média dez vídeos de três minutos por mês. O valor de mercado é de, aproximadamente, um salário mínimo por cada um deles. E quanto mais sofisticada e criativa for, a edição será mais valorizada.

Hoje, Edney Eslley trabalha na edição de comerciais para emissoras de televisão. Também edita vídeos institucionais. Na opinião dele, a web TV está despontando como mercado de consumo. Quem tiver mais conhecimento técnico e mais habilidade vai lucrar mais. Por esses motivos é importante estar se reciclando constantemente. Para garantir um resultado final de qualidade, além de possuir os programas certos é preciso domina-los. Foram meses de experiências para habituar-se à tecnologia virtual. O sincronismo audiovisual também é importante. De acordo com Edney, um bom produtor deve ter domínio de animação, sabendo criar imagens usando elementos diversos, como desenho, fotografia, massa de modelar, papel e computação gráfica. A captação de som é outro aspecto muito importante. É preciso saber escolher os equipamentos e microfones e tratar acusticamente a locação. Saber mixar e editar as trilhas sonoras e sons dos filmes e vídeos também é fundamental. Tudo isso só é possível aliando a sensibilidade do editor à técnica.

Animação

Agora, o produtor pretende se especializar em modelagem de animação 3D. Segundo ele, poucos profissionais no Estado dominam essa técnica. A maioria deles está concentrada na Capital. Ele é um dos poucos a morar no Interior. Para produzir um vídeo com pouco mais de dois minutos alguns chegam a cobrar até R$ 30 mil. Dominando essa linha de edição, além de poder tornar o valor mais acessível à realidade do mercado interiorano ainda será possível popularizar esse tipo de vídeo. O curso custa em média R$ 5 mil.

Após a conclusão do curso, no próximo mês de janeiro, em São Paulo, Edney pretende criar uma escolinha de animação 3D para crianças em Quixadá. Havendo interesse de investidores da região num futuro próximo a cidade conhecida como "Hollywood sertaneja" poderá se tornar referência nesse tipo de serviço. Um forte aliado é o curso de Sistemas de Informação (SI) no campus da Universidade Federal do Ceará (UFC) nesta cidade. Os tecnólogos poderão desenvolver programas com know-how nacional não sendo mais necessário pagar caro pelos importados.

ALEX PIMENTEL
COLABORADOR

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