Relembre quantas vezes os 'Profetas das chuvas' erraram ou acertaram as previsões no Ceará

A Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme) só divulgará a previsão oficial para a quadra chuvosa no dia 20 de janeiro

Ciência e sabedoria popular. Todo início de ano, com a proximidade da quadra chuvosa no Ceará (fevereiro a maio) meteorologistas analisam diversos fatores e fenômenos naturais e, a partir desses estudos pragmáticos e sistemáticos, apontam o prognóstico para as chuvas no Estado, período este em que o sertanejo popularmente chama de inverno

Com o mesmo intuito de prever o quão bom será esse 'inverno' no Ceará, os 'Profetas da chuva" observam diversos sinais da natureza e, diante de uma sabedoria repassada ao longo de gerações, esses sertanejos, também conhecidos como "Guardadores da chuva", revelam as previsões para o quadrimestre que se avizinha. 

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Nos últimos 11 anos, ciência e sabedoria popular andaram mais lado a lado do que em sentidos opostos. Isto porque as previsões dos "Profetas da Chuva" em seis anos (2011, 2013, 2015, 2018, 2019, 2020) foram exatamente iguais ao resultado registrado ao fim da quadra chuvosa, conforme levantamento realizado pelo Diário do Nordeste. Neste ano de 2022, o cenário também pode ser favorável.  

O mais tradicional grupo de "Profetas da chuva", no Ceará, é o de Quixadá, principal cidade do Sertão Central. O encontro é realizado, de forma ininterrupta, há 26 anos. Em 2022, a reunião, que fora realizada na manhã deste sábado (8), reuniu 20 profetas - número reduzido devido as medidas sanitárias vigentes por conta da pandemia da Covid-19. Eles apontaram previsão de chuvas acima da média para este ano.

A Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme) só divulgará a previsão oficial para a quadra chuvosa no dia 20 de janeiro, no entanto, conforme antecipou o meteorologista do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), Flaviano Fernandes, a tendência é de chuvas dentro ou acima da média. 

No fim da quadra deste ano, caso o Ceará tenha recebido volume pluviométricos acima de 600 milímetros - índice médio histórico de chuvas acumuladas para o quadrimestre, segundo a Funceme, - será o sétimo acerto dos Profetas em 12 anos.

Essa taxa de acerto pode ser ainda melhor, considerando os anos em que o Estado não superou a média, mas teve números satisfatórios. Em duas oportunidades (2021 e 2017) os sertanejos previam "boas chuvas". Os índices não superaram a média histórica, mas estiveram próximos.

Em 2017 choveu 536 mm e, em 2021, a quadra fechou com o acumulado de 533 mm. "Considerando que esses são bons volumes, ainda que um pouco abaixo da média, a taxa de acerto [dos 'Guardadores da chuva'] sobe, são apenas três 'erros' em 11 anos", detalha o Profeta e organizador do evento de Quixadá, João Soares.

Tradição 

Você sabe como é feita a análise dos sinais da natureza? Quais elementos os sertanejos observam para alcançarem previsões tão assertivas? João Soares de Freitas tem 81 anos e há sete décadas "observa os sinais da natureza". Os ensinamentos, relembra ele, foram repassados pelos pais, ainda quando ele tinha 11 anos.

"De lá para cá fomos aprimorando nossos saberes. Hoje, observamos o comportamento das formigas e do cupim, os ventos, nuvens, a posição da lua e temos experimentos com pedras de sal", enumera João, precursor dos Profetas de Quixadá, que atualmente conta com 25 membros. 

"A natureza nos fornece muitas pistas. Ela é capaz de mostrar o que irá acontecer, basta entendermos. Até a forma com que o João-de-barro constrói sua casa pode indicar se o inverno será bom ou não. São muitos elementos. Para este ano, apostamos em boas chuvas", antecipa.

Embora tenha um bom histórico de acertos, João faz questão de ressaltar que "previsões não são confirmações", tudo pode mudar, diz ele. "O tempo, a natureza, mudam. A gente segue observando. Se os sinais mudarem, nossas previsões podem mudar também", diz.

Vamos ter boas chuvas neste inverno. As chuvas só vão diminuir lá para maio e junho. Estamos esperançosos por um bom inverno.
João Soares de Freitas
Profeta da Chuva

Essas previsões anuais hoje compartilham espaço com os prognósticos dos órgãos meteorológicos. No entanto, antigamente, agricultores se valiam exclusivamente das análises do Profetas. Eram essas previsões que ditavam, por exemplo, o tempo certo para o plantio. 

"É uma tradição importante. Ajudou muitas famílias a sobreviver na roça, no plantio. Hoje, nosso maior temor é quanto a renovação do grupo. Todos têm mais mais de 60 anos. Alguns vão morrendo e a renovação é lenta, os nossos filhos, por vezes, se mostram resistentes a dar continuidade à tradição", conclui João.