Apenas 60% dos estudantes da rede pública no Ceará têm acesso à internet, aponta IBGE

O impacto da pandemia na vida escolar de crianças e adolescentes vai demandar anos para ser recuperado, apontam especialistas

Apesar de figurar entre os dez estados com os maiores acessos a computadores para alunos durante a pandemia do novo coronavírus, estudantes da rede pública no Ceará têm menos conectividade com a internet. Os dados são do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A disponibilidade de computadores e tablets no Estado é 60,8% para matriculados nas unidades públicas e 78,0% na rede particular.  Os dados são do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

O levantamento mostra ainda que salas ou laboratórios de informática estavam disponíveis para 75,2% dos escolares, sendo 76,5% na rede pública e 66,2% na rede privada. Para a pedagoga Gorete Nogueira, a pandemia revelou de forma mais nítida “o fosso entre o acesso aos meios digitais de alunos de escolas particulares e públicas”.

A docente observou que “os prejuízos somente serão sentidos de forma mais concreta com o retorno das aulas presenciais e a realização de exames periódicos de avaliação”. Segundo ela, a questão passa pelo acesso à internet de alta ou baixa velocidade e disponibilidade de um computador ou aparelho celular para os filhos.

Há famílias que só têm um equipamento para dividir entre a mãe e os filhos”, pontuou. “Outras não dispõem de nenhum e dependeram das atividades impressas entregues pelas escolas”
Gorete Nogueira
Pedagoga

O impacto da pandemia na vida escolar de crianças e adolescentes vai demandar anos para ser recuperado, apontam especialistas. Na localidade de Várzea Grande, zona rural de Iguatu, Francisca Lopes tem três filhos, todos alunos do ensino fundamental. “A internet não é boa, só tem um telefone e acho que esse tempo todo em casa, eles não aprenderam quase nada”, disse a dona de casa. “Eu mesma não sei ensinar”.

Secretarias municipais de Educação e a União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime) apontam que cerca de 20% dos alunos não tiveram acesso a nenhuma plataforma digital para acompanhamento das aulas síncronas (ao vivo), ou mesmo gravadas, desde o início da pandemia do coronavírus, a partir da segunda quinzena de março de 2020.

O Ceará tem aproximadamente 900 mil alunos matriculados na rede pública municipal de ensino, de acordo com dados do Censo Escolar de 2020. “As famílias de baixa renda têm dificuldades de acesso à internet e limitação de celulares smartphone para atender a necessidade de dois filhos ou mais no acesso ao ensino remoto”, reforçou Barreto.

Para o economista, Túlio Sarmento, “a pandemia do coronavírus e a crise econômica com inflação que vem se agravando impactaram a aprendizagem escolar dos alunos no semiárido”. Ele avalia que, na volta às aulas, “os docentes vão perceber a queda na aprendizagem, que vai ser visível”.

Na localidade de Fomento, na periferia de Iguatu, a dona de casa, Antônia Moura Gomes, desde o início das aulas remotas contou apenas com um celular para atender a necessidade de três filhos que cursam o ensino fundamental. “Foi um sufoco, mas ainda bem que os alunos estão começando a ir para a escola”, disse.

Marluce Torquato, pedagoga especializada em educação pública, ressaltou que “o déficit na aprendizagem é robusto e que só com o decorrer dos próximos anos será corrigida a defasagem resultante da permanência dos alunos em casa por causa da pandemia”.

Retorno

Após vacinação completa de professores, servidores e de três semestres letivos de aulas remotas, as cidades do Interior já retornaram neste mês as atividades presenciais.  

“Quase dois anos depois do início da pandemia, ainda há escolas, salas de aula, na rede municipal de ensino, que precisam ofertar melhores condições – adequações de salas, ventilação, instalação de lavatórios e oferta de água”, frisou o arquiteto e urbanista Paulo César Barreto.

Os gestores ficaram adiando as ações, esperando a pandemia passar e tudo voltar ao normal ainda em 2020, mas a realidade mostra que é preciso saber conviver com esse vírus por mais tempo”
Paulo César Barreto
Arquiteto e urbanista

Marluce Torquato, frisou que as aulas presenciais retornaram na maioria dos municípios “de forma muito tranquila, no início deste mês, nas séries iniciais do ensino fundamental e vai avançar neste mês de outubro, permanecendo de forma hibrida, com rodízio entre os estudantes”.