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Qual o histórico da aliança PT-PDT no Ceará e quais as expectativas para 2022

Ala do PT pressiona partido para que tenha candidato ao governo; outro grupo, no entanto, defende abrir passagem para o PDT após 8 anos no poder

Escrito por Felipe Azevedo ,
Camilo, Luizianne e Ciro Gomes montagem
Legenda: De saída do cargo, o governador defende abrir passagem para um candidato do PDT, e abre discordância com correligionários que preferem permanecer no comando do Estado
Foto: Reprodução/Redes Sociais

O governador do Ceará, Camilo Santana (PT), repercutiu, nesta quinta-feira (16), a possibilidade de ser candidato ao Senado em 2022, mas ponderou "estar à disposição" e não ter "projeto pessoal", mas um "projeto de Estado". A sinalização de abertura do diálogo acontece na mesma semana em que membros do PT no Ceará iniciaram um movimento interno para cobrar a abertura do debate para decidir se o partido terá candidatura própria ao Governo em 2022.

A investida expõe um racha no partido, que, de um lado, defende o lugar de vice em composição com o PDT e, de outro, pede mais protagonismo na disputa, uma vez que o partido de Ciro Gomes, crítico ao ex-presidente Lula (PT), já comanda a Prefeitura de Fortaleza.  

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Essa fissura entre caciques partidários expõe um histórico de embates entre os irmãos Ferreira Gomes que, desde 2015, tranformaram o PDT em hegemonia no Ceará, e membros do PT que, após oito anos no comando da Capital cearense, tentam retomar protagonismo no Executivo.

Esse entrave agora resvala na disputa pelo Governo do Estado após dois mandatos consecutivos de Camilo Santana (PT). De saída do cargo, o governador já defendeu abrir passagem para um candidato do PDT, em rota de colisão com os interesses da ala petista que quer manter o comando.

Racha no PT 

O grupo que pede maior interlocução com a militância para tratar de 2022 é representado pelos deputados Zé Airton e Luizianne Lins. Diferentemente do que sustenta o deputado José Guimarães, pertencente a outra ala, eles acreditam que o PT não deve se alinhar ao PDT na condição de vice na chapa ao Governo do Estado. 

Em entrevista à TV Assembleia na segunda-feira (13), o governador admitiu um alinhamento que deve dar ao PDT a condição de disputa na cabeça de chapa em 2022.  

“É natural que se eu sair para uma disputa no senado, a vaga de candidato a governador seja do PDT, é natural quando se existe essa parceria e essa aliança”, disse Camilo.  

A fala ganha reforço uma vez que o ex-ministro Ciro Gomes, uma das lideranças do PDT no Ceará, disse, ainda em setembro, durante reunião do secretariado em Fortaleza, que a composição da chapa caberá a Camilo. 

"Por méritos e pelo governo extraordinário que vem fazendo, o Camilo é o nosso líder e é quem vai conduzir este processo", enfatizou Ciro. 

Na base governista, têm repercussão como pretensos candidatos apenas nomes do PDT, como o presidente da Assembleia Evandro Leitão; o ex-prefeito de Fortaleza Roberto Cláudio, o deputado federal e ex-secretário Mauro Filho, e a vice-governadora Izolda Cela.  

Em 2018, Lula e Camilo estiveram com Cid e Ciro no Ceará
Legenda: Encontro de Lula e Camilo com Cid e Ciro no Ceará
Foto: Divulgação/Instituto Lula

Cabo de guerra em 2022

O ímpeto abre uma corrida contra o tempo entre os militantes que defendem outro cenário, no qual o PT teria candidato ao governo, com o PDT de vice. “Do contrário, não podemos aceitar”, argumenta Zé Airton.  

O deputado também  sinaliza um cenário de “cabo de guerra" que poderá ser acionado caso a atual conjuntura perdure. “Se não tiver acordo e entendimento da unidade nossa, qualquer uma das outras forças vai recorrer para Executiva Nacional do PT”.  

Coordenador Político do Mandato de Luizianne Lins, Waldemir Catanho reforça o posicionamento.

"Todas as pesquisas indicam a força do PT no Ceará principalmente a partir da popularidade e força eleitoral do presidente Lula e a excelente avaliação do governador Camilo Santana. É importante ter esse debate", argumenta. 

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Legenda: Sobre Educação, a então candidata em 2020 enfatizou que em seu governo a área passou por uma revolução na Cidade.
Foto: Thiago Gadelha

Lula x Ciro

Um dos focos de divergência, no entanto, é a formação de palanque para candidaturas presidenciais no Ceará. O PDT tem Ciro Gomes como pré-candidato, e o PT, o ex-presidente Lula, que tem sido alvo de ataques frequentes do ex-ministro.

Na quarta-feira (15), diante de uma operação da Polícia Federal contra Ciro e Cid, Lula saiu em defesa dos irmãos. "Quero prestar minha solidariedade ao senador Cid Gomes e ao pré-candidato a presidente Ciro Gomes, que tiveram suas casas invadidas sem necessidade, sem serem intimados para depor e sem levar em conta a trajetória de vida idônea dos dois. Eles merecem ser respeitados", comentou Lula no Twitter.

Ciro agradeceu o apoio do adversário, em um dos principais episódios de aproximação de ambos desde a disputa de 2018. No ano passado, um encontro entre Lula e Ciro, articulado por Camilo Santana, desagradou a base petista ligada à Luizianne.

Camilo com Lula e petista durante visita do ex-presidente ao Ceará
Legenda: Camilo com Lula e petista durante visita do ex-presidente ao Ceará
Foto: Divulgação

Histórico de embates  

A história recente do PT cearense passa por duas figuras de destaque no Poder Executivo. Uma delas é Luizianne Lins, prefeita de Fortaleza por dois mandatos consecutivos, em 2004 e 2008. E Camilo Santana, governador reeleito em 2018, com alto índice de popularidade, e aliado de primeira hora dos irmãos Ferreira Gomes.  

Luizianne foi eleita pela primeira vez em 2004, em uma disputa sem o apoio do próprio PT no primeiro turno. Na época, o partido decidiu investir em Inácio Arruda (PCdoB), que terminou em terceiro lugar. Filiado ao PPS, Ciro também apoiou Inácio.  

Em 2006, os grupos estiveram juntos na primeira eleição de Cid para o Governo do Estado.

A aproximação entre Luizianne com Cid e Ciro permaneceu na eleição municipal seguinte, quando a reeleição da petista passou por um amplo arco de aliança, incluindo o PSB, partido do então governador Cid Gomes. Primo dos Ferreira Gomes, Tin Gomes (à época no PHS) – que presidia a Câmara Municipal de Fortaleza -, foi o vice na chapa.  

PDT 

Em 2010, Cid e Luizianne também estiveram juntos na campanha de reeleição de Cid. A eleição municipal seguinte, em 2012, seria a quebra da hegemonia petista na Capital Cearense. Ainda fora do PDT, Ciro e Cid ajudaram a eleger Roberto Cláudio pelo PSB, derrotando o então Secretário Municipal de Educação Elmano Freitas, do Partido dos Trabalhadores.  

Mesmo com as rusgas da eleição municipal, a disputa de 2014 teve um petista lançado como candidato da base à sucessão, Camilo Santana.

A debandada do grupo para o PDT ocorreu apenas em 2015, já com vistas no pleito do ano seguinte. Após Ciro e Cid se filiarem ao partido em agosto, Roberto Cláudio e mais 65 prefeitos do Ceará também entraram no partido. 

Camilo, Roberto Cláudio, Ciro e Cid Gomes em campanha
Legenda: Camilo, Roberto Cláudio, Ciro e Cid Gomes em campanha para a prefeitura de Fortaleza
Foto: Reprodução/Redes Sociais

No ano seguinte, no qual ocorreriam novas eleições, o PDT já havia se tornado o maior partido do Estado e iniciou a campanha para reeleição do prefeito Roberto Cláudio formando uma aliança com outras 17 siglas.  

Desidratado, o PT não fez nenhuma coligação e tentou novamente eleger Luizianne, dessa vez com Elmano Freitas na vice, formando a chamada chapa pura, que acabou derrotada. 

Eleição de Sarto  

A última investida do PT para voltar ao comando da Capital Cearense ocorreu em 2020, quando Luizianne Lins e o secretário de finanças do partido, Vladyson Viana, formaram mais uma vez uma chapa pura pra concorrer à prefeitura.  

O partido tentou aliança com outras legendas como MDB, Solidariedade e, principalmente, as siglas mais ligadas ao campo da esquerda. As tratativas, porém, não avançaram.

Desidratada, a chapa ficou em terceiro lugar Confirmando o protagonismo do gurpo dos irmãos Ferreira Gomes, Sarto Nogueira foi eleito pelo PDT. 

 

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