Ao receber os irmãos Cid e Ciro Gomes no Palácio Abolição e dar ampla publicidade à visita, o governador Camilo Santana sinaliza ao seu partido, o PT, - e ao entorno - que não pretende romper a aliança com o PDT no Estado e que segue próximo dos dois. Camilo recebe Ciro antes de Lula, que deverá vir ao Ceará no próximo dia 20 deste mês.
O encontro entre o governador e dois ex-governadores do Ceará na última sexta-feira para discutir questões nacionais e da “democracia”, como disseram, tem forte conotação para 2022, num momento em que os bastidores especulam os rumos do grupo governista no Estado.
O ato tem ainda uma simbologia relativa à disputa nacional e indica que a base aliada deve ter palanque dividido para presidente da República.
Na última semana, membros do PT no Ceará trataram com o comando nacional do partido, a agenda do ex-presidente Lula no Estado. Ele deve vir ao Ceará numa sexta-feira, e deverá ter um almoço com Camilo. Antes, porém, o governador já recebeu Ciro.
Lula reserva espaço na agenda para encontro com partidos aliados no Ceará. Não é este o caso do PDT, tendo em vista as trocas de farpas entre o ex-presidente e o ex-ministro Ciro Gomes. A campanha de Ciro trata Lula como adversário.
Força da preferência
No petismo estadual, Camilo é o nome que, ao preço de hoje, reúne o maior capital político com vistas ao pleito do ano que vem e isso, evidentemente, tem peso nas articulações. Entretanto, como ocorre a cada dois anos desde que foi eleito ao Abolição, em 2014, o governador vive uma saia justa para equilibrar os interesses partidários e a aliança estadual com o PDT, por conta dos constantes tensionamentos entre as duas maiores figuras dos partidos em âmbito nacional.
No momento mais delicado, Camilo participou de atos de campanha dos dois candidatos, Ciro e Fernando Haddad, na disputa pela Presidência em 2018, uma atitude pouco compreensível para o eleitor comum. Nem naquele momento restaram dúvidas da lealdade de Camilo aos irmãos Gomes, mesmo atendendo aos chamados do partido.
Uma parte do petismo estadual não engole o fato de Camilo ser próximo de Cid e Ciro. Para algumas lideranças do partido, ter Camilo na chapa majoritária como candidato ao Senado no ano que vem, hipótese mais provável, não contempla os interesses petistas.
O falatório interno no PT, entretanto, está mais ligado a interesses individuais. O pano de fundo é a formação de um palanque fiel a Lula no Estado.
Manutenção da aliança local
Do lado do PDT, a compreensão de manutenção da aliança local, independentemente da questão nacional, é recíproca, apurou esta coluna. E a visita institucional ao governador aponta nesta direção. Camilo, Cid e Ciro são próximos. “Amigos”, como disse Camilo nas redes sociais. Eles se encontram com frequência. O ato institucional vem oficializar o que já ocorre nos bastidores.
No caso de Camilo ser candidato a senador no ano que vem, o estado passa a ser governado por um pedetista. Izolda Cela ou Evandro Leitão, presidente da Assembleia, os dois primeiros na linha sucessória.
Na chapa, o candidato a governador também caberia, naturalmente, ao PDT. A vice é um caso a ser resolvido e terá o papel de manter coeso o amplo – e cada vez mais heterodoxo - arco de aliança governista.
Qualquer que seja a escolha do PDT, a manutenção da aliança pode ser fundamental para as pretensões do partido, num cenário em que a oposição deve vir com apoio do Palácio do Planalto.
As pesquisas a qual esta coluna teve acesso mostram que Camilo deverá ser, novamente, um influenciador do voto no ano que vem. As cartas estão na mesa.