Em vídeo publicado em suas redes sociais, na noite de quarta (16), o deputado federal José Airton Cirilo (PT) relatou os primeiros entendimentos da direção nacional do partido no sentido de encaminhar uma candidatura própria a governador no Ceará que seja “fiel” ao ex-presidente Lula e fazer frente à candidatura do PDT, de Ciro Gomes.
O anúncio de candidaturas neste momento tem muito menos o objetivo de se mostrar competitivo e muito mais de demarcar um terreno para sentir o clima ou gerar debate no ambiente político.
O anúncio acaba tentando jogar pressão sobre o governador Camilo Santana, que vive, de tempos em tempos, o dilema de ser petista e, ao mesmo tempo, membro do grupo que comanda o projeto atualmente no poder no Ceará, comandado por Cid e Ciro Gomes.
O próprio termo usado pelo parlamentar, que cobra "fidelidade", mostra que o discurso tem o objetivo claro de chegar ao Palácio Abolição.
Não é de hoje e nem é segredo que o governador é visto internamente por algumas alas apenas como “meio petista”. Mesmo investido do cargo de governador, Camilo perdeu quase todas nas articulações internas.
Os movimentos pré-eleitorais podem ser vistos também como articulação para cavar espaços na chapa majoritária governista que terá uma vaga de governador, uma de vice e uma de senador.
O dilema já começa pelo fato de que Camilo é um dos que está de olho em uma vaga ao Senado. Nos bastidores, alas do PT não se sentem contempladas uma vaga que seja ocupada por Camilo.
Haveria, então, duas vagas ao PT na chapa? Se for unido ao PDT e seus numerosos aliados, certamente que não.
Difícil missão de Camilo
Camilo, por sinal, admitiu pela primeira vez, nesta semana, que é possível ele ser candidato ao Senado. Se não tem planos de sair do PT, como repete insistentemente, o governador terá de ter um poder de articulação forte para conciliar os interesses divergentes para o momento entre o seu partido e o PDT.
Outra declaração reiterada por Camilo é de que vai continuar tentando unir Ciro e Lula, uma missão também das mais espinhosas.
Como fica a aliança?
Voltando à declaração do deputado José Airton, que apresenta seu nome como pré-candidato, numa coisa ele tem razão: parecem ser inconciliáveis, neste momento, os interesses de PT e PDT no Estado, justamente por conta da liderança de Ciro no Estado.
Mas qual a sugestão do PT, sugerir a Camilo que rompa a aliança estadual com o PDT?
Se não for isso, parece totalmente sem nexo fazer defesa de candidatura neste momento, tendo em vista o arco de aliança que dá sustentação ao governo no Estado.
Foco será em Lula
A julgar pelo que está acontecendo agora, as sinalizações da direção nacional petista é de que o partido pretende colocar à disposição da candidatura do ex-presidente em 2022 toda e qualquer articulação estadual, seja para retirar concorrentes e favorecer possíveis aliados, seja para apresentar postulantes nos estados para ter palanque.
Em entrevista a uma emissora de rádio do Rio Grande do Norte, nesta quinta (17), Lula foi ameno quando questionado sobre o projeto de Ciro Gomes. Ele disse o seguinte: “o povo vai julgar as candidaturas que estiverem postas. Vamos aguardar o julgamento do eleitor”.