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Portão trancado e 'ovada': relembre disputa de Cid e aliados pela presidência do PSB em 2011

Há mais de uma década, o grupo político liderado pelo senador integrava os quadros do PSB e também disputava o comando da sigla

Escrito por Luana Barros , luana.barros@svm.com.br
PSB
Legenda: Em 2011, aliados de Sérgio Novais trancaram a sede do PSB para impedir eleição de nova Executiva do PSB Fortaleza; reunião do diretório acabou ocorrendo na rua
Foto: Louise Dutra

Ao falar sobre a disputa pela presidência do PDT no Ceará, no início deste mês, o senador Cid Gomes (PDT) fez menção a episódio semelhante que vivenciou na política cearense: "em outro partido, não abriram a sede e foi feita a reunião (do diretório) fora". Na ocasião, o ex-governador se referiu a um fato ocorrido há pouco mais de 10 anos, quando ainda integrava, junto a seu grupo político, o PSB no Estado  

Se agora o PDT conseguiu chegar a um acordo - com o atual presidente do diretório estadual, André Figueiredo (PDT) tirando licença para que Cid Gomes, que é vice-presidente da sigla, possa assumir o comando até dezembro - a divergência ocorrida há mais de dez anos, em 2011, teve um desfecho bem diferente. 

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A desavença na época foi entre duas alas do PSB: uma ligada a Cid e que incluía, por exemplo, o então presidente da Assembleia Legislativa, Roberto Cláudio (PDT), e a outra aliada ao ex-deputado federal Sérgio Novais - considerada a "ala histórica" do partido. 

O ápice da crise foi a destituição de Sérgio Novais, na época presidente do PSB Fortaleza, em uma reunião realizada do lado de fora da sede do partido - que havia sido trancada com correntes e cadeados por aliados de Novais - e que encerrou com confusão, incluindo 'ovadas' contra o grupo aliado a Cid. 

Neste Baú da Política, o Diário do Nordeste relembra, por meio de reportagens publicadas na época, o episódio em que os aliados do hoje senador conseguiram o comando do PSB na capital cearense, que pavimentou o cenário para a candidatura a prefeito de Fortaleza de Roberto Cláudio. 

Divergência no partido

Em 2011, o ex-deputado federal Sérgio Novais comandava o PSB Fortaleza, cujo diretório estadual era presidido pelo então governador do Ceará, Cid Gomes. Naquele ano, os dois vinham divergindo sobre os rumos do partido. É importante mencionar que, antes da chegada dos irmãos Ferreira Gomes, era Novais que comandava o PSB no Ceará. 

A crise dentro do partido se agravou com o lançamento, por Sérgio Novais, da pré-candidatura da irmã Eliane Novais para a Prefeitura de Fortaleza - a eleição para definir o sucessor da então prefeita Luizianne Lins ocorreria no ano seguinte. Segundo reportagem do Diário do Nordeste de junho de 2011, a decisão de Novais foi comunicada diretamente à direção nacional do PSB

No mesmo texto, é citado que o grupo ligado a Cid Gomes tentava anular as atas das reuniões do diretório municipal do PSB que tratavam da pré-candidatura de Eliane. 

“Em meio ao encontro, realizado a portas fechadas e marcado por tumulto e gritarias, a deputada Eliane Novais saiu para conceder entrevistas em que afirmou que 20 dos 30 componentes do diretório votaram pela anulação das atas das reuniões dos dias 4 e 13 de abril, às vésperas da polêmica sobre o lançamento de candidatura para Prefeitura”.
Diário do Nordeste
Edição de 21 de junho de 2011

O encontro relatado pela ex-deputada ocorreu no dia 20 de junho de 2011. No dia, lideranças ligadas a Cid chegaram a ser chamados de "traidores", conforme a mesma reportagem. 

Em momentos tensos do encontro, foi necessária a intervenção de representantes do partido, que entraram na sala levando copos de água na tentativa de acalmar os ânimos. Sérgio Novais disse que espera um consenso, mas admitiu que foi proposta uma trégua com os irmãos Ferreira Gomes. ‘Tivemos tentativas para encontrar soluções e não haver divisão, mas com eles somente encontramos problemas’.
Diário do Nordeste
Edição de 21 de junho de 2011

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Destituição da Executiva municipal

A crise dentro do partido continuou a escalonar até setembro de 2011, quando foi marcada uma reunião extraordinária para o dia 15 daquele mês, às 19 horas. A intenção era destituir a Executiva municipal e eleger novos representantes, mas, momentos antes do horário agendado, aliados de Novais trancaram as portas da sede do partido, com cadeados e correntes. 

PSB Fortaleza
Legenda: Com os portões trancados, a reunião do diretório do PSB Fortaleza teve que ser realizado na rua, em frente a sede do partido
Foto: SVM/Arquivo

Em contrapartida, o grupo majoritário resolveu realizar a reunião na rua, em frente ao prédio do PSB. Eles destituíram o então presidente municipal da sigla, Sérgio Novais, mas elegeram uma nova Executiva que contava com "quase todos os integrantes da anterior", conforme matéria do Diário do Nordeste, no dia seguinte. O novo presidente passou a ser Karlo Kardoso, até então vice-presidente da sigla. 

Diário do Nordeste - Destituição
Legenda: Reportagem do Diário do Nordeste do dia 16 de setembro de 2011 detalha como foi a destituição de Sérgio Novais da presidência do PSB Fortaleza
Foto: Arquivo/SVM

Kardoso viria, inclusive, a ser secretário de Direitos Humanos no início do primeiro mandato de Roberto Cláudio - que concorreu à eleição para a Prefeitura de Fortaleza em 2012, contra o agora governador Elmano de Freitas (PT).

"Na ocasião, além dos membros do Diretório Municipal, estiveram presentes deputados estaduais que apoiaram a extinção da antiga Executiva e, inclusive, lideraram a organização do encontro para que a votação pudesse ocorrer no meio da rua".
Diário do Nordeste
Edição de 16 de setembro de 2011

Após ser escolhido, Kardoso criticou Novais e reclamou da "falta de respeito" daqueles que trancaram a sede do partido. "(Ele) garantiu que, agora, a sigla marchará unida", diz trecho da reportagem. Kardoso seria reconduzido à presidência do PSB Fortaleza em 2012 e seria o responsável por conduzir o partido nas eleições daquele ano - quando o grupo liderado pelos Ferreira Gomes rompeu, na capital, com o PT. 

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O então governador Cid Gomes não participou da reunião que destituiu o presidente do PSB Fortaleza

"Está nos planos do grupo majoritário reunir-se com o Cid Gomes depois da escolha do novo presidente do PSB municipal. (...) Para não render críticas, a ideia do grupo é conversar com Cid somente após a destituição da atual Executiva, para evitar que as mudanças propostas sejam atribuídas a orientações do Governo", relata reportagem do Diário do Nordeste no dia 15 de setembro, antes da realização da reunião. 

Roberto Cláudio
Legenda: Roberto Cláudio foi um dos atingidos por ovos jogados pelas pessoas que estavam dentro da sede do PSB Fortaleza
Foto: SVM/Arquivo

Na coluna Comunicado, publicada no dia 16 de setembro, são relatados mais alguns detalhes sobre como foi a reunião:

"Não foi um ambiente pacífico que os descontentes acharam. Aliados do antigo controlador do PSB impediram que os integrantes do Diretório entrassem na sede do partido. Xingaram-nos e os atingiram com ovos. Fecharam o portão com correntes e cadeados e os forçaram a formalizar as deliberações na rua. O presidente da Assembleia, Roberto Cláudio, e o vereador Elpídio Nogueira saíram do encontro sujos de gema e clara, mas com ar vitorioso".
Diário do Nordeste
Edição de 16 de setembro de 2011

Sérgio Novais voltaria ao comando do PSB Ceará após a saída de Cid e Ciro Gomes do partido, em 2013. Com a desfiliação dos irmãos, a sigla perdeu mais de 500 filiados - entre os quais, na época, 10 deputados estaduais e quatro federais, além de prefeitos e vereadores. 

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Na época, apesar de chegarem a conversar com o presidente nacional do PDT, Carlos Lupi, o grupo político liderado pelos irmãos Ferreira Gomes optou por se filiar ao então recém-criado Pros.

"Questionado pelo Diário do Nordeste se as possibilidades reais de filiação seriam o PDT e o PROS, Cid desconversou: "é você quem está dizendo". Após a entrevista, ele chegou a ressaltar algumas dificuldades encontradas nos municípios, dentre as quais o total desconhecimento do Pros ou a apropriação da legenda por pessoas que faziam oposição ao grupo do PSB naquelas cidades. "Nós queremos atenuar os riscos de perda de mandato. O próprio presidente do partido sinalizou que a saída coletiva não é um ato de infidelidade partidária, mas sim de mudança de visão do partido que nós não concordamos", justificou".
Diário do Nordeste
Reportagem de 27 de novembro de 2013


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