O peso dos famosos e influenciadores: como a adesão deles pode impactar a estratégia dos candidatos

O posicionamento de celebridades como Gusttavo Lima, Neymar, Anitta e Pabllo Vittar têm sido assunto nas redes sociais e pautado discussões sobre as eleições

Escrito por Ingrid Campos , ingrid.campos@svm.com.br
Anitta, Neymar
Legenda: Anitta e Neymar são algumas das celebridades que declararam suas preferências políticas nestas eleições.
Foto: Reprodução/Instagram

Objeto de debates com altas métricas nas redes sociais, a política brasileira tem conquistado nichos e agregado figuras importantes no debate pela internet. A novidade destas eleições é a adesão cada vez mais significativa de figuras fortes na internet que, ao declararem suas posições em relação a candidatos e partidos, movimentam as comunidades online em prol da discussão política.

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Esses posicionamentos são legais quando feitos de forma espontânea, ou seja, sem a contratação de celebridades da internet para reforçar as campanhas eleitorais. A Justiça só permite a propaganda paga nas redes no caso de impulsionamentos de conteúdos por empresas previamente cadastradas no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

A restrição busca evitar a prática de abuso de poder, como explica o especialista em direito eleitoral e presidente da Comissão de Acompanhamento Legislativo da Ordem dos Advogados do Brasil - Seção Ceará (OAB-CE), Igor Cesar Rodrigues.

“(A medida) dá igualdade de competitividade entre os candidatos e evitar abuso de poder com a utilização de propaganda eleitoral paga na internet. As penalidades para abuso de poder são duras e podem chegar à cassação do registro ou do diploma e a perda do mandato”, afirma.

O cuidado não é à toa. Apesar de fomentar o debate político, o acirramento que se observa na disputa pela presidência da República no segundo turno exige olhar cuidadoso dos órgãos de fiscalização e da própria população. 

Política nas redes

Celebridades como o cantor Gusttavo Lima, o jogador Neymar e as cantoras Anitta e Pabllo Vittar já deixaram claro seus posicionamentos em relação às eleições.

O primeiro, assim como outros astros do sertanejo, declarou inúmeras vezes a sua preferência pela reeleição de Jair Bolsonaro (PL). Em um show recente nos Estados Unidos, o músico levantou uma bandeira do Brasil e fez referência ao número de urna do presidente, o "22". O vídeo do momento foi compartilhado pelo mandatário, que agradeceu o gesto.

O posicionamento foi seguido pelo atacante da Seleção Brasileira, que postou um vídeo nas redes sociais, no fim de setembro, em apoio a Bolsonaro. O episódio repercutiu nas redes sociais, com elogios e críticas a Neymar. Juntos, as duas celebridades têm mais de 200 milhões de admiradores somente no Instagram.

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Pouco antes do início da campanha, quando Lula (PT) ainda era pré-candidato à presidência da República, a cantora Anitta usou as redes sociais para marcar posição em prol do petista. “Quem quiser minha ajuda pra fazer ele bombar aqui na Internet, Tiktok, Twitter, Instagram, é só me pedir, que estando ao meu alcance e não sendo contra lei eleitoral eu farei”, publicou no Twitter. 

A colega Pabllo Vittar também deixou claro seu apoio a Lula, tanto em postagens nas redes sociais quanto em shows, como o que aconteceu no Lollapalooza deste ano. Novamente, esse episódio foi um dos assuntos mais comentados nas plataformas digitais por dias. As duas artistam somam mais 75 milhões de seguidores no Instagram. 

Sobretudo no segundo turno, para Kamila Fernandes, professora de comunicação na Universidade Federal do Ceará (UFC), a manifestação por parte de figuras famosas dentro e fora da internet pode ser bem aproveitada por candidatos.

“Todo apoio é positivo, não necessariamente para angariar mais votos, mas para manter os votos e fazer com que o adversário pareça isolado, sozinho e sem apoio e, por isso, com menos chances de manter a governabilidade”, avalia.

Diferente da televisão e da rádio, que comunicam para um público mais diverso, a internet ajuda a segmentar conteúdos para direcioná-los a públicos específicos, o que pode ajudar as campanhas políticas.

“As redes sociais têm a capacidade de filtrar certos discursos para um público e para outro mandar algo diferente por meio dos algoritmos. As campanhas políticas têm usado isso, falado para as suas bolhas com certos objetivos, mas lógico que eles buscam furar mais bolhas para alcançar mais votos”, afirma Fernandes.

A análise da comunicadora conversa com dados de 2021 sobre o consumo de notícias, levantados pelo PoderData. De acordo com a pesquisa, 43% dos brasileiros buscam informação pela internet, sendo 22% por redes sociais e 21% por sites e portais.

Interferência nas campanhas

Sobre o trabalho segmentado na internet durante as eleições, Kamila Fernandes cita a busca pelo voto dos religiosos – mais especificamente do Cristianismo – no segundo turno. Nesta semana, o tema foi objeto de preocupação das campanhas de Lula e Bolsonaro. 

Enquanto o primeiro teve seu nome associado ao satanismo em uma fake news que viralizou, o segundo teve uma foto em uma loja maçônica revivida. Os dois episódios desagradaram católicos e evangélicos, que compõem 50% e 31% da população brasileira, respectivamente, segundo levantamento de 2020 do Datafolha. 

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A propagação dessas peças na internet levou à intensificação da agenda de campanha voltada ao público religioso. Na última terça-feira (4), Lula foi a São Paulo para encontrar padres franciscanos, no Dia de São Francisco de Assis. Naquela mesma data e cidade, Bolsonaro marcou presença em um culto evangélico, localizado no centro da capital sudestina.

"É muito importante que os órgãos fiscalizadores fiquem atentos para que seja possível mover ações adequadas a cada caso, mas por outro lado, as pessoas têm que ficar atentas às fontes das informações", alerta Fernandes. 

Igor Rodrigues lembra que a “propagação da desinformação ou fake news pode ser inibida por meio de denúncia por qualquer cidadão pelos meios disponibilizados pelo TSE ou por meio de ações judiciais cabíveis, a serem manejadas inclusive por candidato opositor”. Ele destaca, ainda, que esse tipo de conduta por influenciadores digitais, sejam pagos ou não, “também é considerada conduta vedada”.

Apesar do problema citado acima, a professora da UFC acredita que a popularização da discussão política na internet (sobre eleições ou não) é benéfica para a sociedade. Para ela, de um modo geral, o movimento de abertura dos posicionamentos por celebridades nas redes é fundamental para despertar a participação ativa dos seus seguidores nos processos democráticos.

“É muito importante contar com influenciadores para se envolverem e para demonstrarem o quanto é importante ter um posicionamento político neste momento, pensar para que serve a política na vida das pessoas, que falta ela faz quando é mal conduzida e que mal faz à democracia se ela for atacada e destruída”, avalia.

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