CPI da Covid-19 ouve Luciano Hang sobre fake news, 'gabinete paralelo' e caso da Prevent Senior
Empresário prestará depoimento no Senado Federal nesta quarta-feira (29)
A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid-19 ouvirá nesta quarta-feira (29), no Senado Federal, o empresário Luciano Hang, dono da rede varejista Havan.
O objetivo é esclarecer sobre supostos casos envolvendo disseminação de "fake news" (notícias falsas), participação no "gabinete paralelo" — estrutura de assessoramento informal da Presidência da República — e a Prevent Senior, que teria fraudado o atestado de óbito da mãe do empresário, vítima de Covid-19.
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Prevent Senior
A operadora de saúde é suspeita de cometer uma série de irregularidades em 2020, como ocultar mortes pela doença causada pelo coronavírus e realizar um estudo clandestino para supostamente ter argumentos em favor de remédios comprovadamente ineficazes que fazem parte do "kid Covid".
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Luciano Hang também deve ser questionado sobre uma investigação do Ministério Público que mira em uma suposta pressão para que colaboradores da Havan votassem no então candidato Jair Bolsonaro, nas eleições de 2018.
Ao contrário de alguns depoentes da Comissão, que exerceram o direito de ficar em silêncio, o empresário prometeu falar aos senadores.
Fake news
Documentos obtidos pela CPI apontam que o dono da rede varejista teria financiado o blogueiro Allan dos Santos, apoiador do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), que também é investigado por disseminação de fake news.
O deputado Eduardo Bolsonaro (DEM-RJ), filho do chefe do Executivo nacional, teria intermediado o contato entre Luciano Hang e o blogueiro.
No entanto, o empresário nega ter participado de disseminação de notícias falsas. Ele classificou como "mentira" a suspeita de ter patrocinado meios de comunicação que propagaram desinformação.
A convocação dele na CPI da Covid-19 foi pedida pelo senador Renan Calheiros (MDB-AL). Na quinta-feira (23), Calheiros e o também parlamentar Jorginho Mello (PL-SC) trocaram acusações, e se chamaram de "puxa-saco", "picareta" e "vagabundo". Mello é próximo de Luciano Hang e, assim como ele, é catarinense.
'Pacto' entre Prevent Senior e Governo Federal
Em depoimento na terça-feira (28), a advogada Bruna Morato, representante de médicos que denunciam a Prevent Senior por fraudes na pandemia, acusou o Governo Federal de firmar um "pacto" com a operadora de saúde para validar o chamado "kit Covid", tratamento da doença com medicamentos sem eficácia comprovada.
De acordo com a depoente, o objetivo era usar um estudo realizado em hospitais da empresa para validar o discurso do Palácio do Planalto contrário ao isolamento social e ao lockdown, adotados como forma de evitar a propagação do vírus.
Ela falou que a estratégia estava alinhada com interesses do Ministério da Economia e era intermediada por integrantes do chamado "gabinete paralelo", formado por médicos defensores do chamado "tratamento precoce", que prestou assessoria informal a Jair Bolsonaro durante a pandemia.
Provocação
Na segunda-feira (27), Luciano Hang publicou vídeo nas redes sociais provocando os senadores que o interrogarão na CPI.
"Se, por acaso, não aceitarem aquilo o que vou falar, já comprei, para não gastarem dinheiro com algema, já comprei, vou entregar uma chave para cada senador, e que me prendam", desafiou, exibindo para a câmera um braço já algemado.
Armadilhas
"Temos que ter muita tranquilidade para o depoimento de amanhã. Para todas as armadilhas que o depoimento de amanhã terá, pela característica do depoimento", afirmou o vice-presidente do colegiado, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP).
"Terá armadilhas do depoente e armadilhas dos colegas governistas para tentar, me permitam o termo, melar no final [os trabalhos da CPI]. Atrapalhar no final. Temos que ter serenidade para superar esses obstáculos. Será um depoimento como tantos outros que vocês acompanharam, mas precisaremos ter um pouquinho mais de cuidado para não recair em provocações", acrescentou.
Randolfe Rodrigues disse esperar que o empresário se comporte "conforme reza o Código de Processo Penal sobre depoimentos" e lembrou que o dono da rede varejista não tem imunidade parlamentar.
Fraude no atestado de óbito
Um documento elaborado por 15 médicos que relatam ter trabalhado para a Prevent Senior foi entregue à CPI indicando que o atestado de óbito da mãe de Luciano Hang, Regina Hang, vítima de Cvid-19, "foi fraudada".
Em vídeo publicado nas redes sociais, em 5 de fevereiro,o empresário relatou que a mãe estava assintomática e com "quase 95% do pulmão tomado" quando foi levada ao hospital. Regina Hang foi internada no Hospital Sancta Maggiore, da rede Prevent Senior, no bairro do Morumbi, em São Paulo.
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O dossiê aponta que ela foi internada em 31 de dezembro e morreu em 3 de fevereiro. No prontuário, segundo os médicos, havia informação sobre o início de sintomas, em 23 de dezembro, e adoção de tratamento precoce, com hidroxicloroquina, azitromicina e colchicina antes da entrada na Prevent Senior.
Na internação, de acordo com informações dos médicos, ela teria recebido ivermectina e tratamentos experimentais.
No entanto, na legenda do vídeo, o empresário disse que "até ser diagnosticada com Covid-19, eu nunca dei nenhum medicamento para prevenção a minha mãe". Luciano Hang disse que a mãe era cardíaca, tinha diabetes, insuficiência renal, sobrepeso e tomava "20 comprimidos/dia".
"Eu me questiono: será que se eu tivesse feito o tratamento preventivo, eu não teria salvado a minha mãe?", contou no vídeo.
Segundo o dossiê, que cita o vídeo publicado por Luciano Hang, a alegação do empresário "não condiz com as informações do prontuário".
Versão da equipe médica
Conforme os médicos, "o prontuário médico da sra. Regina Hang prova que ela utilizou o kit antes de ser internada e que repetiu o tratamento durante a internação, assim como registram que seu filho, sr Luciano Hang, tinha ciência dos fatos".
"Como outros tantos casos de óbitos na rede Prevent Senior decorrentes da Covid-19 que não foram devidamente informadas às autoridades, a declaração de óbito da sra. Regina Hang foi fraudada ao omitir o real motivo do falecimento", explica o documento.