Como a vitória de Evandro Leitão em Fortaleza consolida a força do PT no Ceará
Prefeito eleito de Fortaleza conquistou 716,1 mil votos, recebendo apoio de 50,38% dos eleitores da Capital
Pouco antes das 18h30, a Justiça Eleitoral oficializou a eleição de Evandro Leitão (PT) como prefeito de Fortaleza. Já com 100% das urnas apuradas, o petista somou 716,1 mil votos, recebendo apoio de 50,38% dos eleitores da Capital. Para além dos números, a vitória do candidato do PT consolida um novo momento da sigla — e de suas lideranças políticas — no Ceará.
Sob as bênçãos do ministro Camilo Santana (PT), Evandro reverteu a desvantagem do primeiro turno e terminou na frente na disputa mais acirrada da história, com uma diferença entre o vencedor e o derrotado de 10.838 votos.
“Fortaleza, salvo engano, é a única capital em que o PT ganhou. É muito simbólico. Fortaleza dá uma resposta ao bolsonarismo, à prepotência e à arrogância de alguns setores que acham que são os donos do estado, respondemos com humildade (...) essa resposta foi muito simbólica para o Brasil todo”
Depois do resultado do pleito, sobre o palco montado no comitê do PT, Camilo desabou em lágrimas ao comemorar a vitória. Chorando e com a voz embargada, o ministro disse que "o bem venceu o mal na cidade de Fortaleza". "Todos se uniram contra nós, nós sofremos tudo que é possível de fake news, de mentira contra nós. Nós somos cristãos, nós defendemos a família", disse.
Liderança de Camilo Santana
Alçado ao posto de líder de um grupo político em 2022, após o racha no PDT que desidratou a sigla e provocou o rompimento entre os irmãos Ciro e Cid Gomes, Camilo Santana foi o principal fiador do nome de Evandro Leitão. O prefeito eleito, que já foi líder do Governo Camilo, deixou o PDT e se filiou ao PT. Com apoio do ministro, derrotou correligionários em uma disputa interna na legenda e conseguiu se lançar como candidato na chapa do PT.
Camilo também embarcou de cabeça na campanha de Evandro, inclusive tirando férias do Ministério para reforçar a disputa em Fortaleza. Coordenadora do Laboratório de Estudos em Política, Eleições e Mídia (Lepem) da Universidade Federal do Ceará, Monalisa Soares aponta que tais pesos ficaram explícitos no discurso — e nas lágrimas — do ministro no palco.
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“Ele já chegou em Brasília nessa projeção de ter sido um senador muito bem votado, e foi para uma pasta estratégica para os governos petista, um ministério que sempre foi vitrine, e quando Lula vem aqui ao Ceará ele sempre aponta o Camilo como essa liderança intermediária para o governo nacional, passa pelo ministro Camilo Santana”, pontuou em entrevista à Verdinha FM 92.5.
“Do ponto de vista dessa emoção, tem muito a ver com o lugar dele nessa eleição. Ele foi o maior fiador do Evandro, que não tem nem um ano de partido, enfrentou uma disputa interna, teve dificuldade de mobilizar os progressistas mais ‘raiz’, enfrentou um opositor de muito peso, tendo as demais lideranças contra ele, como o Sarto, o Roberto Cláudio, o Tasso e o Ciro”, finalizou.
Professora de Teoria Política da Universidade Estadual do Ceará (Uece), Monalisa Torres reforça essa análise do papel de liderança de Camilo.
“Ele se consolida como liderança importante, com capital político forte não só no PT — e pensando até na possibilidade de entrar na fila para substituir Lula em 2026 ou 2030. A nível de Ceará, acho que agora a gente pode dizer que o ciclo virou e que temos um ciclo camilista pela frente se anunciado”, disse.
“O Camilo aparece como esse nome de peso que aglutina forças, que organiza o grupo e tem sido importante cabo eleitoral nas eleições majoritárias. Quando a gente pensa em líder político, a gente está pensando não só na força de si, mas na sua capacidade de organizar e manter a coesão do grupo, de conseguir eleger e de transferir em alguma medida o seu capital político para outras lideranças”
Campanha de Elmano à reeleição
Com a eleição de Evandro, o PT conquista um feito inédito no Ceará. Pela primeira vez, a sigla, que comanda os Governos Estadual e Federal, também passa a chefiar a Prefeitura da Capital. Elmano de Freitas, governador do Ceará, experimentará, pela primeira vez, um alinhamento com a gestão municipal de Fortaleza. Por conta do rompimento entre PT e PDT em 2022, o petista já foi eleito tendo José Sarto (PDT) como adversário.
A relação entre o petista e o pedetista sempre foi de tensionamento, com acusações de lado a lado e distanciamento. Agora, com Evandro, Elmano terá um correligionário na principal cidade do Estado a dois anos das próximas eleições, quando pode disputar a reeleição.
Em discurso na sede do PT, na noite desse domingo (27), o governador já deu o tom de como vai ser a relação com o novo prefeito.
“Nós vamos dar as mãos e os corações para fazer muito mais por Fortaleza, acabou a época de prefeito que quer brigar com governador, com presidente, agora é dar as mãos, juntar a Guarda [Municipal] com a Polícia para dar segurança ao povo de Fortaleza. Agora é juntar o SUS da Prefeitura com o do Estado e acabar a fila com a fila de cirurgia”, disse.
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Papel de Lula nas eleições
Além de Camilo e Elmano, Evandro intensificou o uso da imagem do presidente Lula durante toda a campanha. O chefe do Executivo nacional desembarcou no Ceará duas vezes em prol do nome do petista. Na convenção, o político esteve no ato que lançou o nome de Evandro Leitão.
Já no segundo turno, o presidente voltou ao Estado para um ato no coração de Fortaleza, na Praça do Ferreira. O evento, anunciado como principal ato de campanha, reuniu aliados de diversas siglas e marcou o embarque até de petistas que ainda se mantinham distantes da campanha, como a deputada federal Luizianne Lins (PT).
À época, o político endossou as críticas a André Fernandes (PL), adversário de Evandro, e destacou os apoiadores da candidatura do PT, como o ministro da Educação, Camilo Santana , o governador Elmano de Freitas, o senador Cid Gomes (PSB) e a deputada federal Luizianne Lins.
"Ninguém pode deixar de votar em um candidato indicado por Camilo, indicado pelo Elmano. Ninguém pode deixar de votar que agora tem o apoio da companheira Luizianne", disse e completou: "apoiado inclusive pelo companheiro Cid Gomes". "Não tem ninguém melhor que o companheiro Evandro para governar Fortaleza", concluiu.
A Capital cearense foi uma das mais cobiçadas por lideranças petistas, inclusive o presidente, já que era a maior cidade onde PT e PL polarizaram a disputa no segundo turno.
Eleição dos prefeitos
A vitória de Elmano amplia ainda outro placar, o de prefeitos eleitos pelo PT no Ceará. A sigla aumentou de 18 mandatários eleitos em 2020 para 47 neste ano, tornando-se a segunda maior sigla do estado em quantidade de prefeito. Acima do PT está apenas o PSB, com 65, que também integra a base governista.
Essa integração, inclusive, ganhou destaque no segundo turno quando prefeitos eleitos no Interior desembarcaram em Fortaleza para reforçar a campanha petista. Logo após a vitória nas urnas, alguns mandatários acompanharam o discurso de Evandro no comitê.
O petista reconheceu o auxílio dos aliados e agradeceu. “Quero agradecer a todos os partidos que estão conosco, que estão e estarão, quero iniciar pelo Partido dos Trabalhadores, agradecer ao PCdoB, PV, ao PSD, da minha vice-prefeita Gabriella Aguiar, quero agradecer ao Republicanos, ao MDB, ao PP e ao PSB (...) Quero agradecer a todos os prefeitos que ajudaram, meu muito obrigado, prefeitos parceiros. Obrigado pela força, obrigado a todos e a todas vocês”, disse.